Aqui o autor - Dieter Dellinger - ex-redator da Revista de Marinha - dedica-se à História Náutica, aos Navios e Marinha e apresenta o seu livro "Um Século de Guerra no Mar"
Segunda-feira, 10 de Outubro de 2005
O Afundamento do Cruzador Baleares - Uma Vitória Republicana
Afundamento do Baleares 2.bmp





A Esquadra espanhola recebe, entretanto, um novo comandante, o capitão Gonzalez de Ubieta, que dedicou muita atenção ao treino e ao aperfeiçoamento técnico do pessoal de máquinas e armas. Mandou instalar tubos lança-torpedos em barcaças para efeitos de ensino e treino. Foram muito discutida as atitudes de Ubieta, já que o aperfeiçoamento profissional estava a ser conseguido à custa da capacidade operativa e com grandes perdas em navios mercantes carregados de armamento destinado ao recém -formado exército espanhol legal.



Todavia, parece que algo do treino imposto por Ubieta deu resultado. Efectivamente, depois de longos períodos de inactividade, a 5 de Março de 1938, Ubieta ordena a saída da sua frota, indo ele como almirante a bordo do Libertad. Pelas 15.30 saiu a primeira esquadrilha de contratorpedeiros com os novos Jorge Juan, Escaño, Ulloa e Almirante Valdés. Às 16.10 saiu o resto da esquadra com os contratorpedeiros Sanchez Barcáiztegui, Lepanto, Almirante Antequera, Gravina e Lazago, seguidos pelos cruzadores Libertad e Mendez Nunez.



Ubieta escreveu no seu relatório que a aviação assinalara a presença de três cruzadores revoltosos na baía de Palma, acrescentando: "Às 0.38 viu-se o inimigo por bombordo, composto pelos cruzadores Canárias, Baleares e Almirante Cervera em fila a uns 2 mil metros da Terceira Secção de Contratorpedeiros. O Sanchez Barcáitzegui, às 00.41, lançou dois torpedos sobre o navio do extremo da fila, Almirante Cervera, sem acertar. Às 01.15 passou-se para o rumo 256º e formação número 4 como previsto na ordem de operações e pelas 02.15 reencontrámos os navios inimigos a bombordo numa fila formada pelo Canárias, Baleares e Almirante Cervera que iniciaram o fogo com granadas luminosas sobre a nossa esquadra. O Libertad respondeu imediatamente e às 02.16 deu-se à Segunda Flotilha de Contratorpedeiros ordem para atacar. O Sanchez Barcáiztegui lançou quatro torpedos pelas 02.17 e o Almirante Antequera lançou às 02.18 quatro torpedos. O Lepanto lançou igualmente três torpedos sobre o inimigo. Às 02.20, em pleno combate artilheiro, viu-se o navio do centro da fila inimiga, o Baleares, explodir no meio de grandes labaredas. Logo de seguida, os restantes navios inimigos cessaram o fogo e afastaram-se rapidamente, enquanto o Baleares permanecia parado envolto num imenso incêndio. Da nossa parte suspendemos também o tiro de canhão por termos deixado de ver o inimigo, mantendo a velocidade e o rumo".



O Baleares foi atingido, segundo o relatório do tenente Manuel Cervera, por dois torpedos que explodiram quase simultaneamente, um nas caldeiras e outra mais para a vante que fez voar as cargas de pólvora de péssima qualidade de fabrico italiano que o navio transportava e que eram pouco estáveis, depois os depósitos de combustível pegaram fogo. Apesar de prontamente socorrido pelos contratorpedeiros Boreas e Kempenfelt da "Royal Navy", muitos membros da guarnição morreram porque não sabiam nadar e faltavam balsas salva-vidas. Além disso, o mesmo relatório critica o excesso de sinais luminosos feitos durante a navegação e o uso de granadas luminosas que serviram para os contratorpedeiros da Armada espanhola apontar bem os seus torpedos. O torpedo revelou-se uma excelente arma desde que disparado em grande quantidade, principalmente à noite e a curta distância.



A esquadra espanhola, sob o comando de Luís Ubieta, regressou a Cartagena, não tendo feito muito para explorar o sucesso, até porque os dois cruzadores Canárias e Cervera afastaram-se a mais de vinte e cinco nós, deixando o Baleares entregue à sua sorte. Mesmo assim, os espanhóis ainda procuraram o inimigo durante mais de cinco horas, iniciando o regresso só pelas 6 horas da madrugada.



O relatório de Ubieta também revela o grande número de avarias nos contratorpedeiros e temperatura muito elevada nos condensadores do Libertad, de tal modo que a tampa de um deles sofreu uma fenda importante.



A perda do Baleares tornou a marinha franquista mais prudente, deixando mais liberdade à Armada para escoltar e proteger a navegação mercante. Exceptuando um curto combate no Estreito de Gibraltar entre o cruzador Canárias e o contratorpedeiro José Luis Díez no qual morreram e ficaram feridos muitos membros da guarnição da unidade espanhola, pouco mais aconteceu a partir de Março de 1938.



Franco mudou logo o comandante da sua marinha que, por seu vez, nomeaou o almirante Carrero Blanco como chefe de operações navios. Foi o primeiro posto importante deste oficial que viria a ser primeiro-ministro de Franco e que foi pelos ares no seu carro por via do primeiro atentado da ETA.

Depois das batalhas de Teruel e Brunete, assistiu-se à tomada de Barcelona pelos espano-italianos e, por fim, à redução do território sob controlo do Estado espanhol de tal modo que a rendição se tornou evidente. Uma parte do exército sob o comando do coronel Casado impôs a obrigação de procurar uma solução que terminasse com o conflito. Franco só aceitou a rendição incondicional e os principais chefes militares acabaram por fugir para Cartagena onde embarcaram no Castillo de Penafiel.



A 5 de Março de 1939, as unidades espanholas ainda operacionais, nomeadamente os cruzadores Miguel de Cervantes, Libertad e Mendez Nunez, além dos contratorpedeiros Lepanto, Antequera, embarcaram grande número de refugiado em direcção a Bizerta para evitar o fuzilamento de toda essa gente, já que Franco ordenou o assassinato de todos aqueles que se mantiveram fiéis à Constituição Democrática da República Espanhola.
As forças franquistas ainda tentaram desembarcar perto de Cartagena para se apoderarem de surpresa da base e, como tal, dos navios espanhóis, mas foram repelidos pelas baterias de costa que afundaram o transporte militar Castillo de Olite e avariaram alguns outros navios.



Seis contratorpedeiros e um submarino mais conseguem também sair de Cartagena sem serem impedidos pelos navios inimigos. Levaram consigo membros do governo e muitos refugiados para o porto tunisino de Bizerta de onde saíram quase todas as guarnições e refugiados para um êxodo que só terminaria depois da morte do causador da guerra, o auto-promovido generalíssimo e auto-nomeado chefe de Estado Franco. Em 1939 acabava a Guerra Civil Espanhola e, dentro de poucos meses, o Mundo voltaria de novo à Guerra com a invasão da Polónia pelas forças da Alemanha Nazi.




publicado por DD às 21:58
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