Aqui o autor - Dieter Dellinger - ex-redator da Revista de Marinha - dedica-se à História Náutica, aos Navios e Marinha e apresenta o seu livro "Um Século de Guerra no Mar"
Domingo, 23 de Outubro de 2005
O Fim do Graf Spee e Começo da Batalha do Radar
Grafspee3.jpg

Couraçado de Bolso Admiral Graf Spee que travou a primeira batalha naval da II. Guerra Mundial. Era um navio revolucionário, mas que ficou aquem das expectativas criadas, pois deslocava 15.900/16200t e estava armado com 6 poderosos canhões de 280 mm com alguma blindagem. Foi o primeiro grande navio construído em aço soldado e movido apenas por motores diesel, o que lhe permitia atingir a velocidade de 28 nós e ter um excelente raio de acção. Por cima dos telémetros está uma antena de radar disfarçada de telémetro de reserva

O Primeiro Combate



O primeiro combate entre navios de superfície das marinhas alemã e inglesa teve como protagonistas o couraçado de bolso Graf Spee e três cruzadores britânicos. Isto, à excepção do afundamento do paquete armado em cruzador auxiliar Rawalpindi pelo couraçado Scharnhorst a 23 de Novembro na passagem entre a Islândia e as ilhas Feroe. Um combate muito rápido que em minutos levou o grande paquete para o fundo. Aquele couraçado rápido alemão e o seu irmão Gneisenau tinham saído para o mar para aliviar a pressão da marinha britânica sobre o Graf Spee, já em vias de ser acossado no Atlântico Sul. Uma saída rápida, mas tremendamente arriscada, dada a enorme força naval e aérea que os britânicos poderiam ter mobilizado contra aqueles navios.


O Graf Spee tinha iniciado a sua actividade guerreira no Atlântico Sul depois do 28 de Setembro, data em que ingleses e franceses recusaram a proposta de Paz do ditador germânico com a proposta de uma Polónia polaca independente, isto é, sem territórios alemães, bielo-russos e ucranianos.


O navio saiu da sua base em Wilhelmshaven a 21 de Agosto de 1939. A 30 de Setembro afunda o vapor britânico Clement, prosseguindo a sua actividade de caça em direcção às costas africanas, perto das quais afundou quatro navios mercantes, dobrou o cabo da Boa Esperança, afundou o petroleiro African Shell e regressou ao Atlântico.


Na rota para as costas argentino-uruguaias despachou para o fundo do mar quatro outros navios, totalizando então cerca de 50.000 toneladas de navios destruídos, até encontrar-se de súbito frente a uma aguerrida força naval britânica constituída pelos cruzadores ligeiros Achiles e Ajax de 6.985t/7.270t, armados com 8 peças de 151 mm, e pelo cruzador pesado Exeter de 8.390t com 6 peças de 203 mm. A artilharia principal do Graf Spee contava com 6 peças de 280 mm e 54 calibres em duas torres com dois excelentes directores de tiro, além do radar “Seetakt GEFA” que funcionava num comprimento de onda de 80 cm. Este radar servia bem para a navegação e detecção a longa distância, mas era impróprio para a direcção do tiro. Contudo, naquele dia 13 de Dezembro do verão austral, a visibilidade era óptima, bastavam os directores ópticos. Os oponentes britânicos não dispunham de radares; nessa altura, o Reino Unido ainda só utilizava os aparelhos de 1,5 m de comprimento de onda, muito inferiores aos alemães com antenas de grandes dimensões instaladas em terra.


A força britânica que enfrentou com êxito o Graf Spee formava o Grupo G sob o comando do comodoro Henry Harwood que se apresentou com três cruzadores, já que o cruzador pesado Cumberland pertencente à mesma formação ficou para trás, nas Falklands, para reparações.


A central de operações do Almirantado Britânico não teve dificuldades em adivinhar a rota ordenada pelo comandante do Graf Spee, Hans Langsdorff, tão linear foram os ataques contra navios mercantes desde o cabo da Boa Esperança às imediações da foz do Rio de La Plata.


Pelas 6.14 da manhã, os britânicos avistam o Graf Spee a uma distância de 17.500 a 18.000 metros; quatro minutos depois o Graf Spee abre fogo sobre o Exeter que dois minutos depois inicia a resposta e, passado mais um minuto, também o Ajax e o Achiles abrem fogo. O comodoro Harwood dividiu a sua força em dois grupos, o Exeter de um bordo e os dois cruzadores mais pequenos de outro, de modo a obrigar os alemães a dividirem também o fogo das suas duas torres triplas de 280 mm. A manobra tinha sido estudada previamente, pelo que não foi necessária qualquer troca de sinais para ser prontamente executada. Os britânicos bateram-se com uma bravura inaudita. A terceira salva do Graf Spee despeja os seus estilhaços nos tubos lança-torpedos de estibordo, matou toda a respectiva guarnição e destruiu o avião “Walrus” que estava por perto na sua catapulta. Minutos depois, a torre “B” do Exeter é posta fora de combate e muitos estilhaços atingem o pessoal da ponte, o comandante do navio, “Capitain” Bell, é ferido na cara, tal como dois outros oficiais. O Graf Spee continua a atacar o seu adversário mais forte, conseguindo pôr a torre “A” fora de combate e colocar uma granada no interior do navio, o que obrigou a inundar os paióis da torre “B” e das peças de 4 polegadas. Apesar dos estragos, o Exeter continuava a disparar com a sua torre “Y” sob controlo local. O sistema de comunicações interno estava avariado e 61 homens da guarnição mortos e 23 feridos. Felizmente, as caldeiras e turbinas não foram atingidas, pelo que o navio continuava a fazer os seus vinte nós.


O Graf Spee, por sua vez, não ficou incólume pois recebeu três tiros. O primeiro causou poucos danos na ponte, o segundo atingiu uma peça antiaérea e passou por duas cobertas até explodir junto à aparelhagem de produção de água potável. A terceira granada atravessou a blindagem lateral e explodiu a meia-nau, avariando uma das anteparas e a dispensa. O Ajax perdeu duas das suas torres de 150 mm devido a um único tiro encaixado, enquanto o Achiles tenta um ataque a torpedo que falha dada a grande distância a que estavam do navio germânico. Ao fim de 18 minutos de combate devastador, o Graf Spee lança caixas de fumo e tenta afastar-se a toda a velocidade protegido por uma cortina de fumo, mas os britânicos não desarmam. Os pequenos cruzadores Ajax e Achiles não o largam, contudo, perseguindo-o, mesmo que desligados do combate.


O Graf Spee não retoma a luta e ruma a Montevideu onde entra para reparar as avarias e enterrar os seus 36 mortos. A sorte estava traçada para o corsário alemão. A esquadra britânica vinha em peso com cinco porta-aviões, quatro couraçados e 11 cruzadores, dos quais dois eram franceses. Qualquer que fosse o prazo concedido pelo governo uruguaio para reparações, o Graf Spee teria que sair com falta de munições e desguarnecido de pessoal combatente. O Ajax e o Achiles permaneciam ao largo enquanto davam a entender que o porta-aviões Ark Royal e alguns couraçados estavam muito próximos. Não estavam, mas acabariam por chegar. Langsdorff cometeu o erro de enfrentar o inimigo de frente a tão grande distância das suas bases.


Depois de terem perdido o primeiro navio mercante, ao largo de Pernambuco, os britânicos organizaram oito grupos de caça contra o Graf Spee, mobilizando para o efeito quatro porta-aviões, três cruzadores de batalha, dez cruzadores com peças de 203 mm e seis com torres de 150 mm.


Langsdorff, sem alternativa de combate por quase não dispor de munições para a sua artilharia principal, ordena a saída do Graf Spee” e o auto-afundamento com a colocação de cargas de demolição no interior do seu bojo. A operação foi precipitada, pelo que o Graf Spee mergulhou três metros no estuário pouco profundo do Rio de La Plata, ficando parte das superstruturas e mastros fora de água. Os serviços de informação britânicos puderam aproximar-se do navio semi-destruído e observar cuidadosamente uma antena em forma de cabeceira de cama, situada por cima do director de tiro principal.


O engenheiro L. Bainbridge Bell, um dos mais importantes especialistas ingleses de radar, embarcou rapidamente para aquele estuário sul-americano e conseguiu trepar nos destroços do navio até à antena, desmontá-la e trazê-la para Inglaterra. O Almirantado britânico foi informado que se tratava efectivamente de uma antena de radar e que teria sido instalada em 1938, pelo menos.
Quando o Graf Spee navegou próximo das costas espanholas durante a guerra civil já era visível a sua presença, só que coberta por lonas. Tratava-se da antena do “Seetakt” de 375 megaciclos e 80 cm de comprimento de onda. O seu alcance de precisão de tiro era nove milhas apenas e maior para observação de navios e, provavelmente, também de aeronaves.


Nas bases terrestres, os alemães tinha um radar de aviso preliminar aéreo, o “Freya”, que tinha um alcance máximo de 75 milhas, sendo inferior ao homólogo britânico, o “China Home” que avisava a presença de aviões inimigos a 200 milhas de distância. O radar alemão “Freya” era insuficiente para a defesa territorial, pois quando os ingleses iniciaram os bombardeamentos das cidades alemãs, antes da batalha de Inglaterra, ou seja, a partir do dia 14 de Maio de 1940, conseguiram em quinze dias fazer 1700 surtidas nocturnas com a perda de apenas trinta e nove bombardeiros. Isto, antes da “Luftwaffe” ter começado a bombardear cidades inglesas.


O “Freya” não distinguia os bombardeiros inimigos dos caças alemães durante os combates aéreos nocturnos. Só o radar “Würzburg” da Telefunken, instalado em fins de 1940, é que fazia a distinção por aeronave, guiando os projectores luminosos mestres até os caças nocturnos estarem próximos. Um ano depois, os alemães instalaram os primeiros radares de avião “Lichtenstein” nos Junkers 88 e no caça nocturno bimotor Messerschmidt Bf 110.


Quando da destruição do Graf Spee, a “Royal Navy” possuía somente o radar tipo 79Y instalado no cruzador Sheffield de 11.000 toneladas. Era ainda um aparelho mais primitivo que o alemão, pois funcionava num comprimento de onda demasiado grande, 7 metros, e numa frequência de 15-20 KW. Este radar funcionava mal nos navios, mas em terra com antenas gigantescas formava um excelente sistema de aviso aéreo. No fim de 1940, os ingleses instalaram no cruzador antiaéreo Dido um radar melhor, mas ainda a funcionar num comprimento de onda de 3 ½ – 4 metros. Em 1941, já tinham um radar de 1,5 metros, ainda inferior ao “Seetakt” de 80 cm, mas com a transferência para Inglaterra do magnetrão de ressonância, inventado pela Philips na Holanda, conseguiram um radar verdadeiramente superior ao alemão, funcionando num comprimento de onda de 10 cm, o famoso Tipo 271 que foi sendo desenvolvido até dar o 273 de 3 cm. Os alemães, por sua vez, só depois de apanharem um magnetrão intacto é que desenvolveram um notável radar de 9 cm, mas isso já foi por volta de 1944, quando pouco tinham em termos de meios aéreos defensivos ou ofensivos.


O radar foi como que desenvolvido separadamente por ingleses e alemães nos anos trinta a partir de um invento do alemão Christian Hülsmeyer, patenteado em 1904, com o nome “Telemobiloscope” que passou despercebido por então ainda não se entender bem o funcionamento dos feixes de raios electromagnéticos. Depois foi reinventado pelo Dr. Rudolph Kühnoldt que pretendia realizar um emissor e detector de ondas sonoras submarinas, o que depois veio a ser o Sonar. Nessa altura, em 1933, ocorreu a Kühnoldt que o mesmo tipo de propagação poderia verificar-se na atmosfera com as ondas de rádio. E assim, ignorando a patente de Hülsmeyer, Kühnoldt tentou realizar um aparelho que trabalhava numa frequência de 2.000 megaciclos, mas só depois de a Philips começar a produzir válvulas de 70 watts, em 1934, é que lhe foi possível construir o primeiro “DT-Gerät”, como lhe chamou de “Dezimeter Telegraphie”. O nome destinava-se a ser confundido com os aparelhos então em uso pelos correios alemães. Na primeira exibição do aparelho, o físico alemão teve a sorte de por acaso passar em frente um hidroavião cuja presença foi perfeitamente vista no tubo de raios catódicos. Os oficiais alemães presentes ficaram entusiasmados e imediatamente foi constituída a companhia “Gemma” altamente subsidiada pelo Estado para desenvolver e fabricar o aparelho.


O radar não teve, apesar das aparências, um peso estratégico e táctico verdadeiramente revolucionários durante a II. Guerra Mundial; mais importante foi, sem dúvida, a aviação em geral, ou antes o motor de explosão interna de mil e mais cavalos de potência. Esse motor permitiu desenvolver toda a aviação de caça e bombardeamento, embarcada ou terrestre, a partir da segunda metade da década de trinta com uma verdadeira explosão evolutiva durante o conflito.


Os aviões de combate revolucionaram toda a táctica e estratégia naval e, de algum modo, tornaram obsoletas as grandes peças de artilharia embarcadas. O combate naval passou a travar-se para além da linha do horizonte. Alemães e italianos nunca chegaram a embarcar aeronaves de combate, enquanto ingleses, norte-americanos e japoneses fizeram disso as suas verdadeiras pontas de lança.


Os alemães não aspiravam ao domínio marítimo como na guerra anterior, daí terem iniciado o conflito com uma esquadra minúscula em termos comparativos. Apostaram logo de início na arma submarina, mas com uma quantidade ínfima de barcos, ao todo 57 unidades, das quais 25 costeiras (Tipo II A a D de 250 a 309 toneladas de deslocamento) e apenas 32 oceânicos (Tipo VIIA e B de 616 a 741 toneladas). Assim, no Atlântico os alemães não conseguiam então ter mais de 7 unidades operacionais destinadas quanto muito a infligir umas picadas de alfinete nas gigantescas armadas e marinhas mercantes franco-britânicas.





publicado por DD às 18:51
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Couraçado de Bolso Graf Spee na foz do La Plata
Panzerschiff Graf Spee.bmp

Epílogo do Graf Spee



publicado por DD às 18:23
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Fim do Couraçado de Bolso Graf Spee
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"Couraçado de Bolso Graf Spee" arde na foz do Rio de La Plata, autodestruído pela sua guarnição porque não estava em condições de se bater com a poderosa força naval britânica que se aproximava da zona. Estava quase esgotado de munições e avariado pelos tiros dos cruzadores britânicos Achiles, Ajax e Exeter. Nota-se no mastro da vante por cima dos telémetros a antena do radar alemão "Seetakt", ainda de curto alcance.



publicado por DD às 18:17
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Cruzador Britânico Achiles
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Cruzador Britânico Achiles que se bateu com heroísmo e eficácia contra o "couraçado de bolso" alemão Admiral Graf Spee. Deslocava 9280t e armava 6 peças de 152 mm e 4 de 102 mm. Atingia a notável velocidade de 32,5 nós.



publicado por DD às 18:10
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Os Primeiros Tiros da II.Guerra Mundial
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Couraçado NELSON, o navio-chefe da poderosa Armada Britânica. Deslocava 41.250t armado com 8 peças de 402 mm e 12 de 152 mm.

LOGO PELA MADRUGADA

Os convites apresentavam uma enorme cruz suástica e foram entregues por marinheiros corteses. No dia 1 de Setembro de 1939 deveria ter lugar no velho couraçado pré-dreadnought Schleswick-Holstein da marinha germânica uma festiva recepção em honra dos responsáveis alemães e polacos pela cidade livre de Danzig e porto polaco de Gdynia. O couraçado que servia de navio-escola de cadetes, datado de 1906, estava amarrado de popa ao porto de Danzig-Neufahrwasser em visita de “cortesia”. Entre este porto e a foz do Vístula situa-se um longo promontório com as fortificações polacas de Westerplatte. A norte existe outra língua de terra com os cais de Hella da marinha de guerra polaca no seu extremo.

A Sociedade das Nações autorizara o estacionamento de uma força polaca de 198 soldados de infantaria no Westerplatte. O comandante dessa força fora também convidado para a recepção a bordo do Schleswick-Holstein, tal como o chefe das alfândegas polacas, o comandante do porto de Gdynia e demais autoridades polacas e os representantes dos 300 mil alemães da cidade livre de Danzig. Os convidados esperavam beber vinho do Reno e cerveja bávara, mas em vez disso receberam, pelas cinco da madrugada, granadas dos 4 canhões de 280 mm e 14 de 150 mm que bombardearam impiedosamente a área fortificada de Westerplatte.

O canhoneio naval foi pouco depois acompanhado pelos ataques dos bombardeiros em voo picado “Stukas” (Junkers 87) na tentativa de destruir a marinha polaca e todo o sistema de defesa costeira, mergulhando à velocidade constante de 350 milhas horárias para largar duas bombas de 550 kg ou quatro de 250. Poucas horas depois, os alemães fazem desembarcar tropas que traziam escondidas no velho couraçado alemão e mais uns tantos homens a partir de vedetas rápidas apoiadas pelo fogo do couraçado gémeo Schlesien, mas em vão, retiraram-se para o território alemão limítrofe.

A guarnição polaca de Westerplatte aguentou heroicamente a agressão germânica durante cinco dias e cinco noites até ser quase totalmente dizimada. Por sua vez, as forças de marinha em Hella resistiram até ao dia 1 de Outubro de 1939, quatro dias mais que a própria capital do país, Varsóvia, e foi mesmo a última porção de território polaco a ser conquistada pelos agressores nazis.

Foram os primeiros tiros disparados na imensa tragédia que foi a II. Guerra Mundial de que resultou a morte de 55.293.500 homens e mulheres, dos quais 7.375.800 foram baixas alemãs. A marinha de guerra alemã perdeu 95 mil homens, tanto a bordo dos navios afundados como em combates terrestres travados por unidades de infantaria de marinha e marinheiros desembarcados, enquanto a “Royal Navy” viu 55 mil dos seus homens morrerem pela Pátria. A maior parte dos marinheiros mortos no conflito ficou em sepulturas sem flores, pois como diz a velha canção marinheira alem㠓Não há flores na sepultura do marinheiro”.

À hora em que o velho Schleswick-Holstein iniciava o bombardeamento das posições polacas, as tropas nazis levantavam as barreiras fronteiriças e penetravam na Polónia sem atender aos insistentes pedidos da diplomacia polaca para resolver pacificamente a questão do chamado “corredor de Danzig”, a saída para mar concedida à Polónia pelo Tratado de Versalhes que pôs fim à I. Guerra Mundial.

A ordem de ataque foi dada pessoalmente pelo ditador Hitler, a quem todos os militares e funcionários civis tinham jurado obediência pessoal logo após a morte do velho presidente Hidenburg.

Não houve declaração formal de guerra. Dias antes, o ministro dos Negócios Estrangeiros Ribentrop conseguiu assinar um Pacto de Não Agressão com o seu colega soviético que dava todas as garantias ao “Reich” (Império) de não se ver envolvido num conflito em duas frentes.

Para o efeito, Estaline viu-se obrigado a substituir o seu ministro para os assuntos exteriores Litinov por Molotov, já que o primeiro percebeu bem o carácter absurdo de tal pacto. Mas quem manda são os ditadores, e a Alemanha foi para a guerra com a aquiescência de Estaline, sem que algum general ou almirante alemão tivesse verdadeiramente apoiado a política de guerra.

O regime hitleriano não admitia opiniões opostas e era mais do que “sui generis”. Limitava-se à pessoa de Adolfo Hitler que na ocasião era a própria constituição, o parlamento, o governo e tudo mais. Apesar de ter alcançado o poder de uma forma mais ou menos democrática, Hitler tornou-se rapidamente num ditador por via de uma série de assassinatos e golpes sujos. Perdera as eleições presidenciais de 13 de Março de 1932 com uma diferença de 6 milhões de votos a favor do octogenário Marechal Hidenburg. Mas foi depois nomeado Chanceler pelo presidente eleito quando o seu minoritário partido nazi conquistou 230 lugares num Parlamento de 610 e obteve o apoio do partido centrista cristão e do anterior Chanceler Von Papen. Este tornou-se vice-chanceler de Hitler, pois foi a condição imposta por Hidenburg para nomear o futuro ditador como chefe do Executivo. Uma vez no poder, Hitler manda os seus apaniguados lançarem fogo ao Parlamento (Reichstag), a 28 de Fevereiro de 1933, acusando os comunistas de modo a prender os respectivos deputados.

Todos os discursos do ditador caracterizavam-se pelo ódio espumante, gritaria e clamorosos erros de gramática, perfeitamente evidentes para todo o conhecedor da língua alemã nos vídeos que estão aí à venda.

Depois do decreto de Hidenburg, Hitler organiza novas eleições em clima de grande pressão com sociais-democratas e comunistas metidos em campos de concentração e os seus jornais assaltados e destruídos pelas milícias SA do Partido Nazi. Mesmo assim, só consegue 44 por cento dos votos. Mas, com mais de 100 deputados eleitos pela oposição presos e com o apoio dos católicos conseguiu que o novo Parlamento reunido na sala da Ópera Kroll, fortemente guardada pelas SA, aprovasse uma lei que lhe conferiu todos os poderes executivos e legislativos.

Após a morte de Hidenburg, a 2 de Agosto, para não ter de jurar a Constituição de Weimar, Hitler não assume a presidência para a qual uma lei de 1 de Agosto, falsamente assinada por Hidenburg, o designara como sucessor provisório.

O ditador preferiu inventar o título de “Führer” (Condutor), sem qualquer carácter constitucional, e assumir o comando das forças armadas. Mas, não sem que antes tivesse assassinado pessoalmente Ernst Röhm, o chefe das milícias SA, e quase todos os seus principais dirigentes, que o eram também do partido Nazi. O objectivo era consolidar o seu poder puramente pessoal sem que alguém como o chefe das SA pudesse vangloriar-se de ter colocado Hitler no poder.

Hitler foi bem um pobre produto dos erros das democracias burguesas e partidos comunistas que no pós-Guerra Mundial tornaram não só a vida impossível a uma Alemanha pacífica e social como fizeram do pacífico e democrático SPD – Partido Social-Democrata - o seu principal inimigo.

Nenhum dos aliados da I. Guerra Mundial quis prescindir das gigantescas reparações impostas aos alemães nem abrir as portas de um Mundo colonizado ao comércio livre. O resultado foi que a II. Guerra Mundial custou a todos milhões de vezes mais que as reparações alemãs e com os socialistas democráticos alemães e outros partidos da democracia de Weimar teria sido possível fazer então a Europa pacífica que se fez depois da II. Guerra Mundial.

A Polónia cai rapidamente, a sua marinha quase não combate dada a manifesta superioridade aérea dos alemães que ao atacarem de surpresa conseguiram eliminar a força aérea polaca nas primeiras horas de combate.

Junto ao cais de Hella, os “Stukas” afundam o torpedeiro “Mazur”, ex-alemão V105, o primeiro de uma longa lista de navios afundados em quase seis anos de conflito mundial. Depois coube a vez ao excelente contratorpedeiro Wicher de 1.920 toneladas e 4 peças de 130 mm que também foi afundado pelos bombardeiros tácticos. Os restantes contratorpedeiros; o Burza igual ao Wicher e os notáveis Blyskawica e Grom de 3.383 toneladas e 5 peças de 120 mm conseguiram refugiar-se na Grã-Bretanha, batendo-se com brilho na Batalha do Atlântico juntamente com outras unidades que os ingleses cederam às forças da Polónia Livre.

Os ingleses utilizaram largamente os democratas polacos nas suas chamadas “forças livres” para depois os traírem ao deixarem a Polónia entregue ao ditador Estaline e sujeita a uma ditadura de que só se libertou quase meio Século depois da guerra terminar. Com a invasão da Polónia, o governo inglês, que tinha um Pacto de Apoio com a Polónia, enviou um ultimato a Hitler para cessar as hostilidades, o que não foi respondido na íntegra. O ditador alemão só aceitava uma Polónia polaca, isto é, sem os territórios alemães, bielorussos e ucranianos. Por isso, a 3 de Setembro de 1939, a Inglaterra declara guerra à Alemanha, no que foi seguida pela França.

Para impressionar os aliados, Hitler convidou os russos a atacarem a Polónia cerca de duas semanas depois, o que fizeram apesar de terem assinado em 1934 um Pacto de Não Agressão com a Polónia em termos muito semelhantes ao que firmaram com os nazis. Mal sabia o ditador Estaline que também viria a ser vítima da mesma falta de ética. Os aliados anglo-franceses não se impressionaram muito com a agressão soviética à Polónia, antes pelo contrário. Desconhecedores do clausulado do Pacto nazo-comunista, julgaram que a ocupação de parte da Polónia bem como das Repúblicas Bálticas foi uma imposição de Estaline e viram nisso uma evidente fraqueza da Alemanha Nazi e prelúdio de um grande conflito entre esta e a URSS. Daí não terem aceite a proposta de Paz que Hitler fez chegar aos governos da Inglaterra e da França após a conquista da Polónia, na qual comprometia-se a refazer um pequeno estado polaco independente sem os territórios de população alemã nem os que tinham cidadãos ucranianos e bielorussos. Saliente-se aqui, a título de curiosidade, que o tratado assinado entre a Inglaterra e a Polónia obrigaria os britânicos também a entrarem em guerra com a União Soviética. Foi também essa uma das razões porque Hitler convidou Estaline a invadir a Polónia. Só que tal não aconteceu por não ter qualquer sentido, teria sido mesmo uma espécie de suicídio das duas únicas grandes democracias europeias a entrada em guerra simultânea contra Soviéticos e Nazis.

Hitler ficou surpreendido com a declaração de guerra da Inglaterra e da França à Alemanha, mas estava preparado para o facto, tanto mais que pensava que os “vermes”, como designava os franceses, não seriam capazes de atacar, deixando-se ficar nos fortes da Linha Maginot. Nessa altura, os ditadores comunistas e nazo-fascistas acreditavam que o Estado centralizado e impiedoso a todo o transe seria sempre mais forte que o Estado democrático. Por outro lado, os aliados tomaram conhecimento da forma silenciosa como o povo alemão aceitou o começo da guerra, quase que de luto. Não houve manifestações, nem a favor nem contra, só o profundo silêncio de um povo que não esqueceu a tragédia da guerra de 14-18 e o tremendo desastre que foi a crise económica de 1929 e anos subsequentes aliado ao drama do desemprego em massa e pagamento de incomportáveis reparações aos aliados.

A marinha alemã estava sob a chefia de um Comandante Superior da Marinha “OKM”, o almirante Erich Raeder, que tinha uma posição hierárquica equivalente à de Ministro, tal como o chefe do Exército e da Aviação. O Estado-Maior da Marinha estava a cargo do almirante Otto Schniewind, havendo depois comandos de área e de serviços. Sabendo-se que a invasão da Polónia poderia levar a Alemanha a entrar em guerra com a Inglaterra e a França, as reduzidas forças navais alemãs foram dispostas de modo a atacarem a navegação britânica logo nas primeiras horas e criar um máximo de confusão. Assim, antes de iniciado o conflito, Raeder enviou para o Atlântico os couraçados de bolso Graf Spee e Deutschland, além de 18 submarinos. Em Novembro seguiram também para o Atlântico o Scharnhorst e o Gneisenau.

Dez horas depois da entrada da Grã-Bretanha no conflito, o submarino alemão U-40 afunda o paquete desprotegido Athenia ao largo das Ilhas Hébridas. O paquete da “Donaldson Atlantic Line” com 1400 passageiros a bordo foi torpedeado às 7 da tarde depois do tenente Fritz Lemp ter dado ordem de fogo. A explosão fez saltar uma das anteparas e matou um certo número de pessoas que se encontravam por perto, nomeadamente na sala de jantar da classe turística. Ao todo perderam a vida 113 passageiros, dos quais 28 norte-americanos, já que o navio dirigia-se a Nova Iorque. Só às 11 da manhã desse dia é que os passageiros foram informados de que havia um estado de guerra entre o Reino Unido e a Alemanha, pelo que muitos dos sobreviventes julgaram que a explosão resultou de um acidente na casa das caldeiras, não sendo capaz de imaginar que a marinha nazi estava já preparada para afundar paquetes obviamente inofensivos. O comandante do submarino confundiu o Athenia com um cruzador auxiliar de bloqueio, dado navegar sem sinais e aos ziguezagues.

Para além deste triste episódio, a guerra no mar começou pela acção dos dois “couraçados de bolso” contra a navegação aliada e pela guerra submarina. Mas, dada a falta de recursos navais, os alemães pouco podiam fazer apesar de alguns êxitos iniciais.

A marinha de superfície alemã estava em reconstrução; os dois grandes couraçados Bismarck e Tirpitz ainda se encontravam nos estaleiros quando começou a guerra, tal como o porta-aviões Graf Zeppelin que nunca chegou a ser incorporado. Operacionais estavam dois couraçados rápidos de 38.900 toneladas, armados com 9 peças de 280 mm, o Scharnhorst e o Gneisenau. Os três couraçados de bolso Graf Spee, Scheer e Deutschland também estavam em serviço. Este último recebeu depois o nome de Luetzow, já que o ditador não queria que um navio com o nome Alemanha pudesse ser afundado. Armados com 6 peças de 280 mm, eram bons navios corsários, mas ineficazes contra forças de superfície superiores ou aéreas. Deslocavam oficialmente 10.000 toneladas, contudo o deslocamento verdadeiro era de 15.900 toneladas standard e 16.200 máxima, sendo os primeiros grandes navios de casco soldado, poupando muito peso. A motorização era constituída por 8 motores diesel a dois tempos e 9 cilindros cada que permitiam atingir 28 nós com um total de 54 mil cavalos-vapor de força. A fiabilidade dos motores era relativa como se veio a verificar depois, além de serem demasiado pesados e altos. A protecção blindada era apreciável com uma cintura de 75 mm e nas torres de 140 mm.

Forças Navais em Setembro de 1939:

Porta-aviões: 07 aliados, 00 alemães Couraçados: 22 aliados, 02 alemães Cruzadores: 85 aliados, 11 alemães Submarinos oceânicos: 135 aliados, 27 alemães Destroyers: 184 aliados, 21 alemães

De entre estas unidades, os britânicos contavam com quinze grandes navios de combate (couraçados e cruzadores de batalha), os franceses com sete, enquanto os alemães dispunham de dois couraçados rápidos e três couraçados de bolso que mais não eram que cruzadores pesados construídos entre 1929 e 1931.

Para além do infeliz afundamento do Athenia, a marinha de Raeder registou um êxito espectacular logo no início do conflito. Foi o afundamento do porta-aviões britânico Courageous pelo U-29 sob o comando do capitão-tenente Otto Schuhardt, a 17 de Setembro, a oeste do Canal da Mancha. O U-29 tinha avistado um navio mercante de umas 10 mil toneladas, preparando-se para o atacar, mas este afastou-se com a uma velocidade excessiva para ser perseguido pelo submarino, deixando a descoberto bem na sua frente o gigantesco Courageous de 22.500 / 27.560 toneladas. Ao fim de duas horas de navegação imersa, o U-29 chegou à posição de tiro com um dos bordos do porta-aviões bem a pedir os seus torpedos, apesar de escoltado por “destroyers”. Quase instantaneamente, Schuhardt ordenou o disparo de três torpedos, mergulhando de seguida para 70 metros de profundidade a fim de evitar a retaliação da escolta. Duas explosões foram ouvidas no submarino, duas cargas de 350 quilos levaram em quinze minutos o porta-aviões para o fundo com 518 homens da sua infeliz guarnição.

Estava assim “vingado” o U-39 que três dias antes “torpedearam” o porta-aviões também britânico Ark Royal, ao largo das ilhas Hébridas, com torpedos providos de detonadores magnéticos que os fizeram explodir prematuramente sem molestar o gigante britânico. Na reacção dos contratorpedeiros da escolta, o U-39 acabou afundado com grande parte da respectiva guarnição.

Ambos os porta-aviões navegavam sem a conveniente protecção dos seus próprios aviões e o afundamento de um e a quase destruição de outro, levou o primeiro Lorde do Almirantado, W. Churchill, a ordenar o afastamento dos porta-aviões das missões de combate aos submarinos alemães, substituindo-os por “Grupos de Caça”. Estes grupos deveriam procurar no imenso oceano os pequenos e quase mergulhados submarinos em vez de escoltarem comboios de navios. Com pouco êxito, como é evidente. Tinha começado a grande “Batalha do Atlântico” com tantas vitórias e reveses de parte a parte e um longo cortejo de vítimas inúteis como são as de todas as guerras. Com o começo da guerra, a marinha britânica instalou-se novamente no norte, em Scapa Flow, e bloqueou as saídas dos navios alemães pelo Mar do Norte, enquanto fez atravessar a Mancha mais de meio milhão de homens e 88 mil veículos de combate e transporte militar. Mas, depois do ataque perpetrado pelo submarino U-47, a 13 de Outubro, em Scapa Flow, a esquadra britânico procurou abrigo no porto de Rosyth.

Efectivamente, o reconhecimento aéreo alemão tinha detectado uma falha no sistema de redes de protecção da baía de Scapa Flow contra submarinos. Por isso, o almirante Raeder encarregou o comandante Prien de tentar penetrar na baía com o seu U-47 e destruir algumas das grandes unidades de combate britânicas aí ancoradas. E foi tudo muito fácil, como sucede muitas vezes no início dos conflitos. O U-47 entrou na baía à noite, navegando sempre à superfície, torpedeou o couraçado Royal Oak, navio relativamente obsoleto, mas ainda poderoso com as suas 31.250 toneladas de deslocamento e as suas 8 peças de 381 mm e 14 de 152 mm. Fora incorporado em 1916 na “Royal Navy”. A proeza significou mais um golpe no orgulho britânico do que um êxito militar.



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Couraçado Scharnhorst
Scharnhorst-2.bmp

Couraçado Scharnhorst, mavio-chefe da Marinha Nazi de 34841t/38900t armado com 9 peças de 380 mm e 12 de 150 mm.



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Couraçado Schleswick-Holstein dispara os primeiros tiros
westpl_01.jpg

O velho couraçado Schleswik-Holstein bombardeia posições polacas no Westerplatte



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Terça-feira, 11 de Outubro de 2005
1936-1939: A GUERRA CIVIL ESPANHOLA NO MAR
Cruzador Libertad 3.bmp


Cruzador LIBERTAD símbolo da Espanha Democrática na guerra contra os sublevados franquistas.



INÍCIO DA GUERRA E RESISTÊNCIA À REVOLTA FASCISTA NA ARMADA



Os contratorpedeiros Lepanto, Almirante Valdez e Sanchez Barcáiztegui da marinha espanhola chegaram pelas 7 da manhã do dia 18 de Julho de 1936 a Melilla, vindos da base de Cartagena na costa levantina. A ordem fora dada pelo ministro da Marinha Giral e a missão era o bombardeamento dos molhes daquele porto espanhol do Norte de África no intuito de evitar o embarque do exército de África, sublevado contra a República desde o dia anterior.


Fernando Bastarreche, o comandante do "Sanchez Barcáiztegui" reuniu a guarnição e falou no "pronunciamento" que estava em curso contra o regime democrático. Leu a proclamação dos generais Mola, o director da revolta, Franco, o técnico da mesma, e Sanjurno, o símbolo. A guarnição ouviu em silêncio profundo que manteve depois de terminada a arenga de Bastarreche. Seguidamente ouviu-se um brado unânime: "Para Cartagena", enquanto cabos e sargentos despacharam-se a dar ordem de prisão aos seus oficiais por levantamento contra o Estado e atentado à Constituição da República Espanhola. Aos dois outros contratorpedeiros foi assinalado o evento, pelo que as guarnições não perderam tempo e encarceraram os principais oficiais, ordenando também o pronto regresso à base naval de Cartagena.


Foram as primeiras reacções a uma longa série de levantamentos que colocou grande parte das unidades navais da Marinha Espanhola ao serviço da República, cujo governo de Frente Popular sob a direcção do líder autonómico galego Casares Quiroga tinha sido empossado cerca de cinco semanas antes. Os membros das guarnições não estavam preparados para enfrentar o problema nem sabiam qual a missão dos contratorpedeiros em Melilla, tendo pensado que saíram de Cartagena em atitude sediciosa pelo que ordenaram o pronto regresso à base. Se tivessem sabido que os navios tinha recebido ordens do Governo para se oporem à travessia do Estreito de Gibraltar pelos "Tércios" legionários, "Tabores" marroquinos e outras unidades do exército profissional espanhol de África, teriam certamente tentado cumprir as ordens do governo, mas estas passaram só dos oficiais rádio para os comandos.


Por isso, a 19 de Julho, os paquetes do estreito Ciudad de Algeciras e Cabo Espartell conseguiram levar para Cádiz e Algeciras algumas tropas, no que foram apoiados pela canhoneira Dato e pelo contratorpedeiro Churruca que embarcou 200 "regulares" mouros em revolta contra o Estado. Depois, também o navio motor Ciudad de Ceuta e o rebocador Benot fizeram passar mais tropas.



O general Franco, entretanto chegado de Las Palmas ao aeródromo base de San Ramiel, em Tetuán, organiza a primeira "ponte aérea" para o transporte de tropas com três trimotores "Fokker" e seis "Savoia". Para isso, ordenou friamente o fuzilamento do seu primo directo, o Major Lapuente, comandante da referida base que se recusou a acatar a declaração de "Estado de Guerra", já que o Código de Disciplina Militar não permite a guerra contra nacionais nem contra o Estado e a ordem jurídica da Pátria.



A ausência da marinha na zona permitiu que numa primeira fase algumas tropas profissionais sublevadas atravessassem o Estreito de Gibraltar, garantindo o sucesso da conquista da Andaluzia Ocidental e Sul e foram as únicas forças com que Mola e Franco puderam efectivamente contar. Assim, Franco organizou para sair a 5 de Agosto um grande comboio de navios que deveria colocar em solo europeu a I "Bandera del Tércio" com a Secção de Transmissões, o III "Tabor de Regulares de Melilla" e o resto do "Tabor de Larache". Também deveriam seguir quatro morteiros pesados, uma bateria de 105 mm com 1200 granadas e muito outro material.


A operação teve de ser suspendida ainda naquele dia, dado que, entretanto, apareceu o contratorpedeiro Lepanto com ar ameaçador, mas foi atacado pela aviação amotinada contra a República, pelo que se refugiou em Gibraltar de onde saiu logo a seguir. Mesmo assim, pelas cinco da tarde, Franco ordena a saída do comboio escoltado pelo Torpedeiro 19 e pela canhoneira "Dato", ambos do lado dos revoltados.


A cinco milhas da Punta Carnero tiveram um encontro desagradável com o contratorpedeiro Alcalá Galiano que abre fogo contra os transportes. A canhoneira Dato responde com energia e precisão, disparando cem projécteis. O comboio chegou ao seu destino, mas muitas mais forças terrestres esperavam em Marrocos a ocasião para atravessarem o estreito e num passeio chegarem rapidamente a Madrid para apoiar as grandes unidades revoltadas como a dos Quartéis de la Montaña e de Carabanchel, em Madrid, cercadas por uma população quase desarmada.


O governo tomou medidas drásticas de alteração dos comandos e de envio das forças navais do norte para o estreito, dado o insucesso de um poderoso contratorpedeiro de 1536/2087 toneladas armado com cinco peças de 120 mm, uma de 76 mm AA e 6 tubos lança-torpedos que é praticamente batido por uma canhoneira de 1335 toneladas armada com quatro peças Vickers de 101,6 mm e que não fazia mais que uns 15 nós comparados com os 36 do contratorpedeiro. Só que o navio republicano estava mal comandado, praticamente sem oficiais.


O ministro Giral, perante a inoperacionalidade dos seus navios, substitui o recém-nomeado chefe da frota, capitão-de-fragata Capedevila, pelo capitão de corveta Palácios que naquele momento se tornou no verdadeiro "almirante" da República espanhola. Este ordena a pronta saída do couraçado Jaime I e do cruzador Libertad com a missão de bombardearem os portos de Algeciras e Cádiz, o que foi feito, além de ter aproveitado a ocasião para afundar a canhoneira Dato que, no entanto, foi posteriormente posta de novo a flutuar. A esquadra republicana tinha chegado em força ao Estreito de Gibraltar, fazendo da então cidade internacional de Tanger a sua base. Os 40 mil homens do Exército de África e os milhares de aguerridos mouros, recrutados a dois "duros" por cabeça, não conseguiram passar facilmente o Estreito. Fizeram-no a conta-gotas com o apoio dos 20 "Junkers JU-52" e 6 caças "Heinkel He-51" enviados à pressa pelo ditador alemão Hitler que já a 28 de Julho oferecera ao seu candidato a correligionário espanhol o "Junkers D-APOK" da Lufthansa, pilotado por Alfred Hanke, que tinha aterrado nas Canárias.


Os 10 primeiros Junkers e os 6 caças chegaram a Cádiz a 26 de Agosto no navio Usaramo da "Woerman Linie" com as tripulações alemãs comandadas por Alexander von Scheele. Dois dias depois, os pilotos alemães já voavam em combate. A 13 de Agosto aportava a Melilla o navio Alicantino com 12 caças "Fiat CR-32" oferecidos por Mussolini e logo a seguir vieram os trimotores de bombardeamento Savoia adquiridos pelo multimilionário e ex-contrabandista de tabacos Juan March.


As ajudas, apesar de terem chegado com uma rapidez extraordinária, não permitiram contudo fazer passar com a necessária celeridade os homens estacionados no Marrocos Espanhol. Assim, a acção relativamente ineficaz da Esquadra Republicana impediu que o Exército de África salvasse as tropas aquarteladas em Madrid e Barcelona submetidas à fúria da população urbana, e de muitos outros locais da Espanha. Mesmo assim, foram passando o Estreito de Gibraltar para conquistarem CádiZ, Huela e Sevilha, mas não a tempo de salvarem as tropas das grandes cidades espanholas.


Não existindo dispositivo militar entre Sevilha e Madrid nas mãos da República, as forças sublevadas poderiam em poucos dias estar às portas de Madrid antes de o Estado conseguir organizar novas forças militares ou enquadrar devidamente as indisciplinadas milícias populares, mais interessadas em instaurarem os seus muitos projectos políticos que em defender a democracia.



No fundo, a esquadra republicana deu tempo às massas populares para derrotarem a sublevação do "Quartel de La Montaña" no centro de Madrid e tirar de lá os 55 mil "fusiles" e "mosquetones" "Mausers" de 7 mm com que foram armadas as milícias que susteram os sublevados no "Paso de Samosiera" e depois em Madrid sob o comando do general Miaja, permitindo a defesa da capital que nunca chegou a ser tomada em combate pelos generais revoltosos.


A esquadra não tinha bases nas proximidades do Estreito, já que os militares apoderaram-se com alguma facilidade de Cádiz, Huelva, Sevilha e outras cidades do Sul, pelo que ancorava em Tanger. Mas, foi expulsa daí pela pressão conjugada da Inglaterra, França, Portugal, Itália e Alemanha. Ao mesmo tempo, os negociadores de Franco assinalaram a Mussolini que estavam na disposição de ceder bases nas Baleares ao Império do Duce a troco de apoio militar, tanto em armas como em tropas, pelo que de imediato o vapor "Morandi" carregou três caças "Fiat Cr-32", três hidros "Macchi 41" e 160 toneladas de diverso material de guerra, além de guarnições e tropas diversas para desembarcarem em Maiorca sob o comando de Bonacorsi.


O cruzador pesado Fiume apareceu também para dar apoio artilheiro e permitir a instalação do quartel-general italo-espanhol das Baleares. Ainda vieram mais bombardeiros "Savoia S-81" que atacaram alguns navios republicanos que pretendiam transportar as forças do capitão Bayo para a defesa do arquipélago espanhol.


Uma poderosa esquadra italiana instalou-se nas Baleares, onde deu cobertura à conquista da base naval republicana de Mahon, rapidamente transformada em base das ainda incipientes forças navais dos revoltosos. Foi inicialmente constituída pelos cruzadores San Giorgio, Quarto, Alberico de Barbiano, Armando Díaz, Duca d'Aosta e Eugenio de Savoia. Acompanhavam-nos os contratorpedeiros Giovani da Varezzano, Alvise da Mosto, Lampo, Aquila, Falco, Ostro, Ardimentoso e outros. Com o apoio aéreo e naval das forças italianas das Baleares foi possível transportar para a Espanha o poderoso exército expedicionário italiano do general Roatta de 120 mil homens, cujas primeiras unidades chegaram a Cádiz em fins de Agosto. Franco não contava muito com o recrutamento normal pelo que nunca decretou uma mobilização geral de todas as classes nas zonas que passou a controlar logo no início do "alzamiento", ao contrário do que fez a República.


No 17 de Julho de 1936, data do levantamento no Marrocos e nos quartéis peninsulares, o grosso da esquadra espanhola estava a norte. Recebeu, por isso, ordens para rumar a sul e foi durante a viagem que se deram alguns acontecimentos sangrentos no couraçado Jaime I. Este navio entrou em Vigo a 19 de Julho para meter carvão quando pela tarde, um oficial do exército entrou a bordo para falar com o comandante Joaquim Garcia del Valle; à saída as últimas palavras foram ouvidas pelos cabos que informaram os colegas de que deveria estar em curso uma revolta contra a República.


Os telegrafistas puseram-se em contacto com a Estação Central de TSF da Ciudad Lineal, em Madrid, passando a saber que o ministro da Marinha apelava às unidades navais para bloquearem o Estreito de Gibraltar.


Maurício de Oliveira, o notável jornalista e fundador da Revista de Marinha, escreveu três livros sobre a Guerra Espanhola no Mar, num dos quais relatou os trágicos acontecimentos ocorridos no couraçado Jaime I quando este navegava ao largo da costa portuguesa. Foram dos poucos livros escritos ainda no decurso do conflito sobre os acontecimentos navais desta guerra, pelo que os seus textos são reproduzidos por quase todos os historiadores do infausto evento. Contudo, não é muito certo que a 18 de Julho existissem já "Comités de Defesa da República" em todos os navios espanhóis, como julgava Maurício de Oliveira. Quanto muito no couraçado Jaime I e nem é verdade que a marinharia estivesse muito politizada. Por outro lado, é verdade que o "director" do "alzamiento", o general Mola, descurou os contactos com a marinha, não tendo preparado um plano para a rebelião dos navios contra a República. Isto porque nos seus projectos, a revolta deveria ter como pontos fulcrais as grandes unidades instaladas em Madrid, Barcelona e nas restantes cidades espanholas. O Exército de África seria um importante elemento entre outros e a marinha tida como desnecessária para a revolta contra o Estado.


O comandante do Jaime I não queria tomar uma atitude precipitada, mas na dúvida os marinheiros atacaram a ponte quando esta estava ocupada por quase toda a oficialidade do navio em revolta contra a Ordem Jurídica e Constitucional da Pátria, tendo-se entrincheirado aí com armas manuais. Foram atacados por marinheiros igualmente armados que acabaram por os vencer e ocupar a ponte com mortos e feridos.


Os oficiais que a bordo declararam o "estado de guerra" foram presos pelas guarnições leais. Foi perto do Cabo Mondego que se consumou a tragédia. Pela rádio, o navio passou a receber ordens directas do presidente do Conselho de Ministros e do ministro da Marinha que a partir do dia 19 de Julho passou a ser a mesma pessoa, Giral, pois Casares Quiroga demitiu-se logo que teve conhecimento da rebelião militar. Giral ordenou que o navio ancorasse ao largo de Tanger, onde se encontrou com os cruzadores Libertad e Cervantes, os quais safaram o couraçado de um ataque por parte de um hidroavião revoltado, já que o velho navio não dispunha de artilharia antiaérea.


No mar, a revolta de muitos oficiais contra o Estado espanhol falhou e nas bases em terra, a decisão dependeu das forças locais do exército. Assim, El Ferrol foi ocupada pelas tropas revoltadas que tomaram os navios em construção e reparação, nomeadamente os grandes e modernos cruzadores Canárias e Baleares quase prontos, bem como o velho couraçado España, irmão do Jaime I, e o cruzador Almirante Cervera, além do contratorpedeiro Velasco.


Em Cartagena ganharam as forças leais ao poder do Estado e aí estavam a maior parte dos contratorpedeiros e submarinos. Na ilha de Fernando Pó, o cruzador Méndez Nunez é abandonado pelos oficiais que temiam sofrer a mesma sorte dos companhiros de arma nas águas peninsulares.



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Segunda-feira, 10 de Outubro de 2005
As Duas Esquadras
Jaime I.bmp


Couraçado da Classe ESPAÑA. Cada um dos contendores da guerra civil ficou com um; o das forças rebeldes franquistas, España, afundou-se em abril de 1937 quando embateu com uma mina, enquanto o das forças legais, o Jaime I, sofreu a explosão de um paiol de munições que o deixou muito avariado.




AS DUAS ESQUADRAS

A marinha espanhola antes de iniciada a rebelião de Mola e Franco contra o Estado era no essencial constituída pelos seguintes navios:
Couraçados: España e Jaime I, incorporados entre 1913 e 1921. Fizeram parte de um grupo de três unidades iguais que deslocavam 15.452/15.700 toneladas, mas o primeiro que se chamou España perdeu-se depois de encalhar num fundo rochoso em 1923 ao largo de Marrocos.


Eram navios peculiares, dado serem os mais pequenos couraçados do tipo Dreadnought que se construíram, sendo muito curtos, 132,6 m, porque na época não havia em Espanha docas secas maiores. A economia em tonelagem foi conseguida à custa da blindagem para manter um apreciável poder de fogo proporcionado pelas 8 peças de 305 mm e 50 calibres, 20 de 102 mm e 4 de 76 mm. O arco de tiro era de 270 graus para as 4 peças da proa e popa e de 180 graus para as 4 de bombordo e estibordo, respectivamente.


O "Jaime I" ficou na esquadra leal enquanto que o España foi capturado pelas tropas revoltadas do Regimento de Infantaria 29 na base de El Ferrol.


Cruzadores pesados: Canárias e Baleares, ambos em fase de acabamento na base de El Ferrol, pelo que foram incorporados na esquadra rebelde. Deslocavam 10.113/13.070t, sendo versões modificadas da classe britânica Kent desenhada por Sir Phillip Wats. As modificações que o técnico inglês produziu para a marinha espanhola tiveram a ver com o aumenta da velocidade para 33 nós, conseguida através do aumento da potência das turbinas "Parsons" para 91 mil cavalos, redução do vau do casco em 4 pés e aumento ligeiro do comprimento. A organização das caldeiras em três comprimentos obrigava o navio a ter duas chaminés, mas os engenheiros espanhóis resolveram colocar uma só chaminé aparente que formava um arco na parte inferior, sendo na verdade duas chaminés ligadas a um corpo único no topo, o que dava um ar mais moderno. O armamento principal era constituído por 8 peças de 203 mm e o secundário por 8 de 120 mm AA retiradas do couraçado España e 8 de 40 mm AA, além de metralhadoras e 12 tubos lança-torpedos.


O Canárias foi aprestado à pressa e só conseguiu entrar em combate de surpresa no Estreito de Gibraltar, em Setembro de 1936, porque a marinha portuguesa emprestou um director de tiro de um dos Avisos da classe Afonso de Albuquerque. Provavelmente fez o mesmo para o Baleares, mas a documentação existente só refere o Canárias que entrou em operações navais em Fevereiro de 1937.


Cruzadores da classe Libertad: Libertad, Almirante Cervera e Miguel de Cervantes. Lançados ao mar entre 1925 e 1928, eram excelentes cruzadores também desenhados por Sir Phillip Wats na base dos congéneres britânicos da classe "E".
Deslocavam 7475/9237 toneladas e eram armados com 8 peças de 150 mm/50, 4 de 102 mm/45, 2 de 76 mm AA e 12 tubos lança-torpedos de 533 mm. Quando a liberdade acabou em Espanha, o Libertad passou a ser o Galicia. A marinha legal ficou com o Libertad e o Miguel Cervantes, enquanto que os sediciosos ficaram com o Almirante Cervera.


O Republica (Ex-Reina Victoria Eugenia), completado em 1923 de 5502t de deslocamento normal. O desenho veio da classe britânica Birmingham, mas com as caldeiras arrumadas em três compartimentos, pelo que apresentava um aspecto mais moderno com três chaminés apenas. Fazia 25,5 nós armados com 9 peças de 152 mm, 3 de 76 mm AA e 4 tubos lança-torpedos. Ficou na esquadra franquista, mas estava desarmado quando a guerra começou. Só em 1937, depois do afundamento do Baleares é que foi rearmado para ser um pálido substituto daquele cruzador, naturalmente não com o odiado nome de República, mas sim de Navarra.


O Mendez Nunez de 1924 deslocava 6450t com um desenho oriundo da classe "C" britânica. Fazia 29 nós com 6 peças de 152 mm e 4 de 76 mm AA, além de 12 tubos lança-torpedos. Actuou na esquadra governamental depois de ter estado durante um curto espaço de tempo ao serviço dos revoltosos.


Contratorpedeiros: Classe Churruca de 16 unidades lançados ao mar entre 1926 e 1933. Notáveis navios de 1536/2175 toneladas iguais aos "flotilla leaders" britânicos da classe Scott armados com 5 peças de 120 mm, 1 de 76 mm AA e 6 tubos de 533 mm. Faziam 36 nós com 42 mil cavalos vapor de força. Sete unidades ainda não tinham sido incorporadas à data do início do conflito espanhol mas algumas entraram muito rapidamente em serviço. Todos fizeram parte da Armada do governo democrático.


Classe Alsedo de três unidades de 1145/1315t construídas entre 1922 e 1924 armados com 3 peças de 102 mm/45 e 2 de 76 mm AA, além de 4 tubos de 533 mm. O Velasco foi o único contratorpedeiro espanhol que foi incorporado na esquadra sediciosa. Posteriormente esta recebeu dois contratorpedeiros e dois grandes torpedeiros italianos.


Submarinos: Série "B" de 1921 a 1925 com 6 unidades de 491/715 toneladas de desenho norte-americano Holland armados com uma peça Vickers de 76,2 mm e quatro tubos lança-torpedos. Fazia 10,5 nós em imersão e 16,5 à superfície.
Série "C" de 1927 a 1919 com 6 unidades também de 914/1290 toneladas armados com 6 tubos lança-torpedos e uma peça de 30 mm AA. Faziam 8,4/16 nós.
A totalidade das unidades das duas esquadrilhas de submarinos ficaram nas mãos do Estado, mas de pouca serventia foram, dado que a falta de oficiais tornou os 12 submarinos espanhóis quase inoperacionais. Raramente se atreviam a mergulhar se é que o chegaram a fazer ao longo três anos que durou o conflito.


Para além disso, a marinha espanhola contava com numerosas canhoneiras, pequenos torpedeiros, lança-minas e vedetas de patrulha costeira e vigilância de pescas que ficaram distribuídos pelos dois lados.

OPERAÇÕES NO ESTREITO DE GIBRALTAR

A confusão na direcção do Estado espanhol foi aumentando com a deserção e revolta do exército e sua substituição por milícias ou unidades comandadas por quadros de patente excessivamente baixa e em número muito limitado. Assim, a 5 de Setembro, dá-se uma nova reorganização do Governo, cuja presidência passa para o dirigente do PSOE, Largo Caballero, e as pastas da Marinha e Ar passam para Indalécio Prieto, um socialista moderado. O novo Governo constatou que as forças sublevadas no Estreito de Gibraltar eram constituídas pela canhoneira Cánovas del Castillo, guarda-costas Alcázar e algumas pequenas unidades de patrulhamento ou navios de pesca artilhados em Cádiz, pelo que resolveu levar uma parte importante da frota para o Norte. Aí o dispositivo naval revoltado sob o comando do general Mola era bem mais forte com o couraçado España e o cruzador Cervera, além do contratorpedeiro Velasco e outras unidades menores. Cinco submarinos tinham já sido enviados, mas nada fizeram, sendo mesmo o "B-6" afundado pelos rebeldes que conseguem bombardear S. Sebastian e reduzir muito do abastecimento em armas e munições à recém-formada República Euzkadi ou Basca. Além disso, apoiavam com o seu fogo o avanço das forças do general Mola que conseguiram envolver Euzkadi, cortando-a da fronteira francesa de modo a depender só das comunicações navais. E foi isso precisamente que levou o ministro da Marinha Indalécio Prieto a ordenar o envio da esquadra espanhola para o Norte.


Assim, no Estreito ficaram 4 contratorpedeiros, enquanto o Jaime I com dois cruzadores e cinco contratorpedeiros foi tentar restabelecer o controle naval no Norte.
O comando naval rebelde aproveitou o ensejo proporcionado pelo desguarnecimento relativo do Estreito que ficou só com quatro contratorpedeiros e um submarino para enviar de surpresa os cruzadores Canárias e Almirante Cervera para o Sul. Terminar a construção do Canárias foi um grande esforço e sucesso dos franquistas. Ambos os navios chegaram ao Estreito a 29 de Setembro e apanham de surpresa os navios leais. O contratorpedeiro Ferrandiz é imediatamente afundado pelos tiros de 203 mm do Canárias, enquanto o Cervera ataca o Gravina e o deixa avariado nas superstruturas, mas sem ser apanhado pois escapuliu-se graças à sua alta velocidade.


A partir do fim de Setembro, o Estreito passou a estar controlado pelos revoltosos que fazem assim passar tudo o que restava do Exército de África bem como um número cada vez maior de mercenários marroquinos. Enquanto isto, o ministro da Marinha ordena o regresso da Esquadra do norte, o que não deixou de ser conhecido pelos oficiais revoltosos que tentaram fazer com que o Canárias e o Almirante Cervera interceptassem os navios governamentais. Tal não aconteceu; ambas as formações cruzaram-se na escuridão nocturna sem darem uma pela outra.


Entretanto, o dispositivo naval dos revoltados sofreu em Abril de 1937 uma importante perda, a do couraçado España que embate numa mina frente a Santander e afunda-se quando pretendia apoiar o contratorpedeiro Velasco na captura de um navio mercante.





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Submarino Italiano Archimedes ao serviço de Franco
Submarino General Sanjurno (ex-Torriceli).bmp

Submarino General Sanjurno (ex-Archimede) cedido por Mussolini a Franco depois de ter perpetrado ataques "piratas" contra navios da República Espanhola sem qualquer declaração ou estado de guerra. Era um navio de 970t/1239t armado 8 tubos lança-torpedos de 533 mm e 2 peças de 100 mm.



publicado por DD às 23:23
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