Aqui o autor - Dieter Dellinger - ex-redator da Revista de Marinha - dedica-se à História Náutica, aos Navios e Marinha e apresenta o seu livro "Um Século de Guerra no Mar"
Quinta-feira, 28 de Setembro de 2006
Pacífico: O Avião, Táctica e Estratégia

 

Um imenso Teatro de Operações

 

Entre Pearl Harbor e Midway ficou traçado para o Império Nipónico o caminho que conduziu da vitória à derrota total. E também foi a vitória do meio aéreo embarcado, propulsionado por essa maravilha da mecânica, o motor de 1.000 ou mais cavalos de potência com cilindros em linha e arrefecimento por líquido ou em estrela arrefecidos a ar, mas sempre com duplo compressor de combustível para compensar a queda da pressão atmosférica nas altitudes.

Com esses motor construíram-se todos os aviões ao longo do conflito, mais de meio milhão, que travaram em todas as frentes e com todos os contendores uma luta mortífera que acabou simplesmente com a vitória daqueles que mais motores e aviões souberam construir. E foram os mais numerosos porque substituíram o totalitarismo do Estado nacional pela aliança de muitos em obediência à verdade universal, a união faz a força.

Os engenheiros e operários ganharam o II. Guerra Mundial e ganharam-na ao serviço da causa aliada, suplantando heroísmos e espírito de sacrifício de milhões de militares que ficaram para sempre nos campos e mares das batalhas.

Na enseada do Porto das Pérolas ficaram os velhos couraçados afundados para sempre como meios decisivos de guerra e no Oceano muito ao largo das Midway ficaram os porta-aviões nipónicos que não podiam conhecer a derrota por serem quase insubstituíveis. Da euforia dos cento e cinquenta dias de Nagumo passou-se ao pessimismo e a uma guerra defensiva que para o Japão deixou de ser orientado com o sentido das realidades. A partir de Estalingrado e Midway, as duas potências do Eixo lutaram, deixaram morrer os seus filhos, na esperança de um milagre que todos sabiam não poder realizar-se e ao qual os céus de todas as religiões não lhes davam qualquer direito.

O avião embarcado revelou-se como uma arma formidável capaz de destruir ou enfraquecer fortemente qualquer objectivo, mas também é verdade que os porta-aviões foram sempre navios extremamente vulneráveis, pelo que apanhados de surpresa por bombardeiros de voo picado ou torpedeiros estavam literalmente condenado.

Travou-se no Mar do Coral, a primeira batalha verdadeiramente aero-naval entre forças  equipadas com meios aéreos embarcados, portanto, sem visualização mútua a partir das pontes dos navios. E se dessa batalha pode falar-se ainda numa espécie de empate, dado que cada uma das forças antagónicas perdeu um porta-aviões.

Mas, a verdade é que os japoneses nunca mais conseguiram vencer o poder aéreo americano nem travar qualquer combate sem perdas enormes que a sua capacidade fabril e logística não conseguia colmatar, enquanto a indústria norte-americana acelerava em produções inimagináveis e dos seus enormes recursos humanos saíam centenas de milhares de pilotos, técnicos, tripulantes navais e combatentes apeados.

Ao longo do conflito, a marinha norte-americana perdeu menos de dez por cento dos seus porta-aviões, ou seja,  11 perdas num total de 129 unidades detidas e incorporadas ao longo do conflito. Ao invés disso, os nipónicos perderam em acção bélica todos os seus 29 porta-aviões, alguns dos quais foram  destruídos quando ainda estavam em estaleiro de construção. Estas cifras são por demais expressivas da loucura dos fanáticos nacionalistas japoneses que se lançaram num conflito do qual materialmente nunca poderiam sair vencedores. Mas, mesmo antes de adquirirem a decisiva superioridade numérica, os americanos enfrentaram com algum sucesso as forças nipónicas, desde o Mar do Coral às Ilhas Midway, travando o passo ao avanço do Império do Sol Nascente.

 

O SBD Dauntles - Bombardeiro de Mergulho - O grande Vencedor .

 

 

 

No início do conflito, os aviões torpedeiros norte-americanos, nomeadamente o Douglas TBD-1 Devastator (332 km/h) e, a partir de 1942, o Grumann TBF-1 Avenger (436 km/h), tal como o bombardeiro de voo picado Douglas SBD-3 Dauntless (403 km/h), eram capazes de executar as suas tarefas, desde que os caças F4F-3 e 4 Wildcat (512 km/h) com blindagens e 526 km/h sem as mesmas deixassem o espaço aéreo livre de opositores. Nenhum destes aviões era superior aos equivalentes nipónicos, o avião torpedeiro TBD Devastator era demasiado lento e pouco manobrável, enquanto que o bombardeiro embarcado SBD Dauntless era igualmente tido por lento, mas mortífero por levar uma suficiente carga letal. Em 1942 apareceu o Grumann TBF-1 Avenger muito superior ao Devastator. Fazia 436 km/h e tinha um autonomia de 3.350 km. Em 1943 surge o Curtiss SBC2C-1 Helldiver capaz de voar a 452 km/h e que levava a uma projecção de força embarcada de 1780 km. Claro, mais que pela qualidade de cada aparelho, foi pelo número que os americanos chegaram à vitória. Muitas das grandes fábricas de automóveis de Detroit passaram a construir aviões, o que era tido como impossível pela maior parte dos engenheiros e, principalmente, pelos inimigos alemães e japoneses.

O célebre ZERO - O Caça Nipónico Mitsubishi A6M2

O Grumman F4F4 Wildcat dos Norte-Americanos

 

O factor decisivo foi, sem dúvida, o caça de superioridade ou interdição aérea e aí dois fortes opositores estiveram desde o início frente a frente, o célebre “Zero” nipónico, o Mitsubishi A6M2 Tipo O, e o Grumman Wildcat F4F3 e 4 introduzidos na aviação naval a partir de Março de 1942 apenas, portanto três meses após o ataque a Pearl Harbour. Antes disso, os americanos voavam com o antiquado F2A-3 Buffalo.

Em capacidade de manobra, velocidade ascensional e de ponta, o Zero era superior ao Wildcat e podia ter provocado estragos maiores aos americanos se tivesse existido inicialmente em grande número, o que não aconteceu. Os americanos com o seu pouco atraente e nada aerodinâmico F4F-3 (de asas rígidas) e F4F-4 (de asas dobráveis) faziam uso de alguma superioridade armamentista, 4 metralhadoras de 12,5 mm contra as 2 de 7,7 mm e 2 canhões de 20 mm de cadência de tiro muito baixa nos Zeros, podendo ainda transportar duas pequenas bombas de 100 libras cada nalgumas versões. As balas nipónicas de 7,7 não conseguiam atravessar as blindagens protectoras dos Wildcat, enquanto os Zero não apresentavam qualquer blindagem e os tanques de combustível não tinham selagem anti-explosão o que os tornavam extremamente vulneráveis. A blindagem dos tanques era de borracha em forma de bexiga que selavam os furos provocados pelas balas nos depósitos metálicos de gasolina, mas em compensação reduziam a capacidade dos mesmos para 144 galões, o que diminuia o raio de combate para 200 milhas do porta-aviões base.

No que respeita a motores, o Zero era equipado inicialmente com o notável motor de 14 cilindros radiais Sakai de 925 cv fabricado pela Nakajima que lhe permitia atingir a velocidade de 336 milhas horárias. Também o Wildcat era propulsionado por um motor arrefecido a ar que reduzia a aerodinâmica, o Pratt & Whitney R-1830-76 com 14 cilindros radiais e 1200 cavalos de força. Todavia, a visibilidade para o piloto do Wildcat era mais favorável que no Zero, o que tinha uma importância fundamental na aviação embarcada. Os aviões com motores radiais arrefecidos a ar eram mais adequados ao serviço nos porta-aviões por serem mais curtos que os caças terrestres com motores arrefecidos a líquido e radiadores.

Nos primeiros combates, os Zero não levaram sempre a melhor porque apareceram em número demasiado reduzido, apesar de terem sido uma completa surpresa para os norte-americanos que não suspeitavam da sua existência, julgando nos primeiros momentos estarem a lutar contra outros tipos de avião. Quando os Zeros apareceram nas Filipinas, os americanos julgavam que tinham levantado voo a partir de porta-aviões e não compreendiam que quase ao mesmo tempo que se dava o ataque a Pearl Harbor outros porta-aviões pudessem estar ao largo das Filipinas. Na verdade, aqueles Zeros vinham de Taiwan, a 550 milhas de distância, o que demonstrou o extraordinário alcance daquelas aeronaves bastante ligeiras. A partir de bases terrestres dispunham de autonomia de voo de 1675 milhas com tanques auxiliares exteriores. A sua velocidade ascensional era fenomenal, bem como a velocidade de ponta em geral. Atingiam os 16400 pés de altitude em 55 segundos e pouco mais pesavam que 2.500 kg. A partir de uma porta-aviões podiam ir travar um combate a 300 milhas de distância. Encolhiam um metro de cada uma das asas para melhor se acomodarem nos porta-aviões.

As duas metralhadoras de 7,7 mm disparavam através da hélice, pois estavam montadas na fuselagem, enquanto os dois canhões de 20 mm encontravam-se nas asas, mas só levavam 60 balas cada um, o que obrigava os pilotos a aproximarem-se muito dos alvos, geralmente até 200 metros.

Os Zero acabaram por serem vítimas do seu êxito, pois continuaram a ser fabricados muito para além da época em que os americanos dispunham de caças bem superiores.

 

O Nakajima B5N com o seu torpedo

O melhor avião japonês do começo da guerra, para além do Zero, foi, sem dúvida, o Nakajima B5N “Kate”, bombardeiro/torpedeiro embarcado. Tratava-se de um monomotor monoplano para dois ou três tripulantes que podia transportar um torpedo 880 kg ou três bombas de 250 kg cada. Propulsionava-o um notável motor radial de 770 CV que foi sendo substituído por motores idênticos mas mais potentes que atingiram os 1115 cv. Foi o tipo de avião responsável pelo afundamento dos porta-aviões Yorktown, Lexington, Wasp e Hornet.  Em quase todos os itens, o B5N era superior ao TBD-1 Devastor dos norte-americanos.

Acrescente-se ainda que no aspecto organizativo e treino de guarnições aéreas, os norte-americanos manifestaram-se superiores, apesar de no início não ter sido assim. Os pilotos nipónicos que atacaram Pearl Harbor tinham 800 horas de treino aéreo, mais do triplo do que sucedia com os americanos, mas rapidamente a situação foi invertendo-se, tanto mais que os japoneses usaram as suas guarnições aéreas até à exaustão, ou morte, e foram incapazes de transmitir rapidamente a novos pilotos os ensinamentos colhidos no campo de batalha.

Ao contrário do que sucedia na marinha japonesa, o pessoal ao serviço dos meios aéreos dos porta-aviões norte-americanos não fazia verdadeiramente parte integrante em termos organizativos do navio. Este embarcava hoje uns esquadrões de combate aéreo e amanhã outros, podendo os esquadrões autónomos mudar facilmente de navio.

Ao chegar às Hawai, os aviões dos porta-aviões levantavam voo e iam aterrar no aeródromo sede dos respectivos esquadrões e na missão imediatamente a seguir eram frequentemente substituídos por outras unidades mais frescas e sucessivamente mais bem treinadas. Os nipónicos deixaram-se matar com honra e dignidade até ficarem sem pilotos devidamente treinados e experientes. Não protegiam os pilotos com blindagens e todo o militar japonês era profundamente educado e treinado para a ideia de que morrer em combate permite uma espécie de ascensão aos céus, além de ser uma honra. 

Os americanos, por sua vez, protegiam os pilotos com vidro à prova de bala e uma blindagem atrás da cadeira com quase 70 kg de peso. O treino dos pilotos era bastante bom e muito intenso no que respeita a tiro. Todos tinham aprendido e treinado o tiro de deflexão que permite atingir o inimigo de lado em ângulos diversos e não como habitualmente de frente na cauda do adversário.

Já naquela época, os americanos revelavam possuir uma electrónica de combate superior, tanto no que respeita ao rádio de bordo como ao receptor Zed Baker de condução à base. Os radares CXAM dos porta-aviões americanos eram igualmente muito superiores ao primitivo radar japonês, apesar de que não tinham ainda um monitor panorâmico. Os dados recolhidos tinham de ser inscritos num quadro transparente para se obter um panorama da situação bélica tanto em termos de aviões como de navios. Mesmo assim, os CXAM detectavam a presença de meios aéreos a umas 80 milhas de distância.

Com um espírito profundamente pragmático e tecnicista sem falsos elitismos, os militares americanos iniciaram nas águas do Mar de Coral a longa caminhada que acabaria por lhes dar uma superioridade mundial já longa de mais de meio Século que nada indica que fique por aqui.

Perante as enormes conquistas nipónicas, os norte-americanos gizaram uma estratégia de contenção na zona da Nova Guiné e Mar do Coral no sentido de impedir o avanço japonês para o Sul e manter aberto o corredor marítimo para a Austrália, além de evitar uma eventual tentativa de conquista da ilha pelos nipónicos.

Para além desse objectivo imediatista, os americanos começaram a dar lugar à formação de uma estratégia dupla de ataque ao Japão, ambas a passarem pela conquista de muitas ilhas. A componente mais ligada ao exército de terra sob o comando do General Douglas Mc Arthur deveria conquistar a Nova Guiné, parte da Indonésia e Filipinas. A marinha propriamente dita, sob o comando do almirante Kimmel, deveria procurar atingir directamente o território japonês e travar uma ou mais batalhas decisivas para eliminar as forças navais, obedecendo a antigo plano laranja que visava um ataque pelo Pacífico Central para numa batalha, segundo o espírito de teórico do poder naval Mahan, eliminar o poder naval japonês.

A política norte-americana e a influência do exército obrigaram o poder a gizar uma dupla estratégia de conquista de território e de guerra puramente naval, quando toda a gente sabia que o território insular conquistado pelo Japão é susceptível de cair como fruto maduro uma vez terminada a existência do poder naval nipónico, como de resto sucedeu antes ao contrário. Na falta de poder naval dos aliados, os japoneses conquistaram tudo o que queriam, esquecendo, contudo, o princípio que quanto maior for a distância às bases mais difícil é a defesa e, em termos económicos, só o poder naval pode garantir o acesso das matérias-primas às indústrias de guerra instaladas no território japonês.

O comando do Pacífico foi entregue ao almirante Ernie King que advogara antes a estratégia de Europa primeiro e era conhecido pelo seu carácter irascível e intolerante. A frota do Pacífico passou para o comando do almirante Chester Nimitz, tido como um comandante de esquadra quase adorado pelos seus subordinados, alardeando sempre um perfil de comandante baseado também no  profundo saber de muitos aspectos do material naval e condução de operações. Foi introdutor de avanços tecnológicos como o abastecimento em navegação.

 Também tinha a qualidade de estar próximo do Partido Democrático e ser amigo do presidente Rosevelt e do secretário da Marinha Knox. Sendo psicologicamente diferentes, os dois almirantes completavam-se mutuamente e trabalharam ligados por um excelente espírito de equipa.

Os almirantes norte-americanos e restantes oficiais notabilizaram-se na época pela sua informalidade, protegendo-se do sol com um boné de basebol nada militar. E não seria tanto por acaso, já que para compreender as tácticas dos americanos era também necessário conhecer as regras daquele jogo. Mais do que os poucos pontos fundamentais, o que decide a vitória no basebol é a média das batidas. Foi para essa média que todo o aparelho militar e industrial norte-americano se mobilizou no maior conflito de sempre. 

Politicamente, nem Rosevelt nem King se desdisseram, mas na prática ficaram contentes em terem acordado com os britânicos que o comando do Pacífico ficava exclusivamente sob a alçada americana, competindo aos britânicos a guerra no Índico e no Mediterrâneo, dividindo os dois aliados as responsabilidades quanto ao teatro de guerra atlântico. Apesar das afirmações em contrário, a guerra no Pacífico ocupou o primeiro lugar nas preocupações norte-americanas.

Quanto aos japoneses, tinham conseguido o ambicionado objectivo de conquistarem uma vasta zona asiática que lhe dava o acesso a todas as matérias primas necessárias ao bom funcionamento de uma grande indústria de guerra  E  as baixas sofridas nesta imensa ofensiva foram mínimas, apesar de terem chegado às ilhas do Mar do Coral, imediatamente a norte da Austrália. O Quartel Imperial decidiu-se pois por uma segunda grande ofensiva com dois vectores fundamentais. Tulagi nas Ilhas Salmão e Port Moresby em Papua (Nova Guiné australiana) que deveriam ser conquistados para permitir o domínio do Mar do Coral.

Noutro vector, a frota combinada sob o comando do almirante Isoruku Yamamoto deveria cruzar o Pacífico, capturar as ilhas Midway e as Aleutas ocidentais, aniquilando ao mesmo tempo o que resta da frota americana do Pacífico, especialmente os seus quatro perigosos porta-aviões. Uma cortina defensiva baseada nas ilhas de Attu, Midway, Wake,  Marshall e Gilbert deveria ser formada para cobrir a invasão das ilhas Fidji, Nova Caledónia e Samoa com o objectivo de isolar a Austrália. Segundo os planos japoneses, os norte-americanos ver-se-iam envolvidos numa guerra fútil, pelo que acabariam por negociar a Paz com o Japão, deixando-o senhor do Pacífico.

Os dois opositores sabiam do valor do avião embarcado, mas o Japão por razões óbvias acabou por apostar nas bases terrestres que tinha conquistado e lhe davam uma sensação de poder efectivo, até porque dispunham no início da sua segunda ofensiva de uma notável superioridade em termos de porta-aviões e aviões embarcados. Os estrategos de ambos os lados acreditavam ainda que o porta-aviões era demasiado vulnerável contra objectivos defendidos por aviação com base terrestre, salvo em casos de surpresa. A realidade mostrou não ser assim desde o início, pois formações de vários porta-aviões permitem com grande rapidez uma aplicação concentrada de força aérea capaz de abater qualquer alvo, apesar de que a extrema vulnerabilidade do porta-aviões não deixa de ser uma verdade.

Os japoneses não suspeitavam é que num encontro de poucas horas todos os seus projectos e sonhos acabariam por se afundar literalmente. Efectivamente, com um total de 3000 aviões de combate, o Império Nipónico tinha iniciado o conflito com uma superioridade de 2 para 1 relativamente aos EUA e mantinha essa relação seis meses depois. A marinha dispunha de seis grandes porta-aviões de combate e três mais pequenos. O Akagi, por exemplo, embarcava 18 caças Mitsubishi “Zero”, 18 bombardeiros Aichi 99”Val” e 27 bombardeiros/torpedeiros Nakajima 97 B5N “Kate”. Os porta-aviões de porte mais reduzido só transportavam dois tipos de aviões, geralmente caças e bombardeiros/torpedeiros. No início do conflito, muitos dos caças embarcados eram os antiquados Mitsubishi A5M de cockpit aberto e lentos, pelo que foram a causa de algumas das primeiras derrotas nipónicas, dado terem uma velocidade de ponta inferior a 300 milhas horárias.

Antes mesmo de ter início a contra-ofensiva norte-americana, o porta-aviões Hornet largou a 18 de Abril de 1942 dezasseis bombardeiros B-25 numa temerária missão de bombardeamento de Tóquio idealizada pelo almirante Chester Nimitz, comandante em chefe da esquadra do Pacífico, e que acabava de substituir o almirante Kimmel. O comandante da operação que seguiu a bordo de um dos bombardeiros foi o então coronel James Doolitle que acabou por dar o nome ao primeiro raid sobre Tóquio. A 1 de Abril daquele ano, o novo porta-aviões Hornet da classe Yorktown de 19.875/25.484 toneladas de deslocamento recebeu em São Diego os bombardeiros que ocuparam toda a plataforma de meio aéreos. No dia seguinte, zarpou integrado na Task Force 18 sob o comando do contra-almirante Mitscher que incluía os cruzadores Vincennes e Nashville e quatro destrutores e um petroleiro de esquadra.

A TF 18 acabou por integrar-se na TF 16 com o porta-aviões gémeo Entreprise, os cruzadores Salt Lake City e Northampton além de outras unidades menores, tudo sob o comando do almirante Halsey, também o comandante em chefe de todos porta-aviões e aviões embarcados do Pacífico e que acabou por comandar toda a operação. Ambas as forças rumaram a um ponto do Pacífico Norte a 668 milhas de Tóquio de onde largaram os bombardeiros B-24 do exército de terra que não podiam regressar ao navio por serem demasiado grandes para nele poisar, devendo antes seguir para diversos aeródromos da zona não ocupada do norte da China.

A missão deveria ser secreta e nocturna para que os porta-aviões se aproximassem bastante mais da costa nipónica, mas detectados que foram os navios americanos pelo Hiato Mau, um pequeno pesqueiro transformado em patrulha, e por outro barco idêntico, o Nanshin Maru. Ambos foram atacados pelo Wildcat F4F da Patrulha de Combate do Entreprise, mas os barquitos recusavam-se a afundar-se ou arder apesar de metralhados com severidade. Depois apareceu um avião patrulha que se afastou e pelas 09.10 foi assinalada a presença de um cruzador e um contratorpedeiro que se revelou errado. Halsey ordenou o lançamento imediato dos bombardeiros B-25B, o último dos quais levantou voo dez minutos depois. Cada bombardeiro levava quatro bombas de 250 kg e atacaram Tóquio, Nagoya e Kobe.

Foram recebidos festivamente pelas crianças das escolas japonesas que não suspeitavam tratarem-se de aeronaves inimigas. Os comandos japoneses esperavam um ataque de aviões bombardeiros monomotores que seriam lançados a poucas milhas das suas costas.

Os B-25 aproximaram-se de Tóquio de vários quadrantes voando rente aos telhados, lançaram as bombas e elevaram-se rapidamente para tentar escapar para a China. Apesar de se tratar de um ataque diurno, não foram alcançados pela defesa antiaérea ou pelos caças nipónicos. Oito bombardeiros caíram em território ocupado pelos japoneses e alguns dos tripulantes foram condenado à morte por atacarem objectivos civis.

Foi o primeiro ataque de retaliação norte-americano. Rosevelt e a sua equipa pretendiam acima de tudo e de uma forma mais política do que militar, na medida em que os estragos causados foram insignificantes, fazer a população nipónica sentir que a campanha vitoriosa dos japoneses não era um dado adquirido. Podiam ser atacados a qualquer altura. Por outro lado, o ataque não deixaria de obrigar os nipónicos a manterem um número maior de meios de combate aéreo no território pátrio, o que significa menos nas frentes de combate. Outra das consequências do raid a Tóquio foi a aprovação imediata do plano do almirante Yamamoto de atacar as ilhas Midway com o grosso da armada nipónico e assim atrair os porta-aviões americanos e demais navios a um combate oceânico que esperava que fosse decisivo.

Yamamoto vivia obcecado com a ideia de terminar o trabalho iniciado em Pearl Harbour, isto é, destruir de vez a esquadra americana do Pacífico, antes de o Japão ter de se “entrincheirar” frente ao crescente poder militar americano. A sua preocupação aumentou muito com os ataques perpetrados pelos aviões do Lexington e do Yorktown a Rabaul na Nova Bretanha (Arquipélago das Salomão), cujo sucesso ficou muito limitado pelo facto de os torpedos americanos serem defeituosos e não terem explodido. Nessa altura, o seu chefe de Estado-Maior, almirante Ugaki, escreveu que por este andar os porta-aviões inimigos aparecerão ao largo da Baía de Tóquio. Poucos dias depois, deu-se o ataque dos B-25 à capital japonesa, o que eliminou de vez a oposição política ao plano de Yamamoto. O almirante recebeu luz verde para preparar o ataque a Midway. Mas não sem ter sido obrigado ao “percalço” do Mar do Coral.

 

O Cockpit do F4F-3 Wildcat

 



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A Batalha do Mar de Java

 

Mapa da Batalha do Mar de Java

 

Não tendo de enfrentar poderosas forças navais ou terrestres, os japoneses avançaram pela Ásia marítima até à Oceânia como os tentáculos de um polvo, em direcção a Java, a Singapura (Malásia) e Nova Guiné, ilhas Bismarck e arquipélago das Salomão, batendo à porta da Austrália.

O Mundo colonial do Ocidente parecia ruir de todo, os trezentos mil europeus que dominavam centenas de milhões de asiáticos caminhavam para os campos de internamento nipónicos ou refugiavam-se na Austrália. Nada tinha sido preparado antes em termos de defesa coordenada e tudo foi improvisado em poucos dias sem a necessária consistência.

A defesa das Índias Neerlandesas (Indonésia de hoje) e Malásia tinha sido confiada à força naval “ABDA” (australiana, britânica, holandesa e americana) com nove cruzadores, 26 contra-torpedeiros e 39 submarinos, sob o comando do almirante norte-americano Hart, enquanto o general britânico Archibald Wavel foi nomeado supremo comandante de todo o dispositivo bélico. Após a queda de Singapura, a 15 de Fevereiro, o comando da área limitada já às Índias Neerlandesas passou para o almirante holandês Karel Doorman que prontamente fez-se ao mar com o que de melhor dispunha para o efeito. O primeiro combate consistiu num ataque a transportes japoneses no estreito de Makassar, a 24 de Janeiro de 1942, que levou ao afundamento de quatro transportes de tropas e material sem consequências para o plano de invasão japonesa das Índias Neerlandesas. Numa segunda tentativa de ataque, o cruzador americano Marblehead foi severamente atingido e o cruzador Houston ficou sem uma das torres de artilharia em consequência dos ataques perpetrados por 37 bombardeiros bimotores da 11ª Frota Aérea Japonesa a operar a partir de um terreno conquistado nas Celebes. Doorman viu-se obrigado a retirar quando aviões do porta-aviões Ryujo o atacaram sem consequências, mas dando a impressão que muitos mais aviões estariam a chegar.

O almirante holandês reorganizou então as suas forças e decidiu enfrentar o inimigo no mar com uma esquadra conjunta constituída por cinco cruzadores, o Exeter, veterano do ataque ao Graff Spee, o Houston, o Perth, o De Ruyter e o Java, além de dez contratorpedeiros.

        

 Cruzador Holandês De Ruyter - Navio-chefe do alm. Doorman

 

A maior parte destes navios eram relativamente pequenos ou antiquados e estavam com falta de manutenção e o pessoal não tinha treino de coordenação para dar espírito de corpo à força em questão. Diga-se em abono da verdade que os navios nipónicos não eram superiores. Foi pois numa situação de um certo equilíbrio de forças que Doorman enfrentou a esquadra do contra-almirante nipónico Takeo Takagi que contava com os quatro cruzadores Nachi, Haguro, Naka e Jintsu, cuja missão era impedir qualquer ataque às forças do contra-almirante Jisaburo Ozawa com 56 transportes de tropas e do contra-almirante Shoji Nishimura com 41 transportes. Ambas as formações visavam a conquista rápida da ilha de Java e do resto das então denominadas Índias Neerlandesas.

Uns dias antes de as duas esquadras se confrontarem no Mar de Java, portanto a 14 de Fevereiro de 1942, os japoneses largaram pára-quedistas em Palembang, a capital da Ilha Sumatra, sem lograrem conquistar a cidade. No dia seguinte uma força anfíbia tentou, por sua vez, desembarcar tropas mas foi obrigada a fazer meia volta devido à presença da esquadra do almirante Doorman que acabou por ser atacado por aparelhos do porta-aviões Ryujo sem causarem danos, mas impedindo os navios das marinhas aliadas de actuarem contra os invasores nipónicos que, entretanto, desembarcavam por toda a parte.

Em dois dias Sumatra caiu nas mãos dos japoneses, enquanto a norte, um comboio com algumas tropas americanas e australianas vindo da Austrália tentava fazer desembarcar tropas em Timor, mas a presença dos aviões de Nagumo fez retroceder os navios para Port-Darwin. Vinte e quatro horas depois, 190 aviões dos porta-aviões de Nagumo afundaram tudo o que flutuava entre Timor e Darwin. Ao mesmo tempo, dos transportes de Kondo, desembarcavam as tropas que conquistaram a ilha de Timor, incluindo a parte portuguesa, e a ilha de Bali.   

       

A 27 de Fevereiro, ao entardecer, inicia-se a batalha do Mar de Java com uma primeira salva de 200 mm disparada por um dos cruzadores japoneses à distância de 27 quilómetros. O Houston e o Exeter respondem com os seus canhões de 8 polegadas. O cruzador norte-americano utilizou tinta vermelha nos explosivos das suas granadas para identificar os impactos que se apresentaram sob a forma de “geysers” vermelhos, o que divertiu muito os japoneses porque estavam distantes, enquanto uma das suas granadas perfurantes atingiam o Exeter entrando pela casa das caldeiras. O cruzador de 8.390/10.490 toneladas, veterano da caça ao corsário alemão Graf Spee, perdeu velocidade e teve de se retirar da formação de batalha. Os nipónicos, aproveitando a confusão, largaram os seus torpedos de longo alcance “Long Lace”. Conseguiram assim afundar um contratorpedeiro holandês. Mas, sem suspeitarem da existência desses torpedos de longo alcance, os aliados pensaram que estavam a ser atacados por submarinos e lançaram cargas de profundidade. Num contra ataque, três contra-torpedeiros aliados conseguem atingir dois congéneres nipónicos, perdendo uma das suas unidades.

Entretanto anoitece, Doorman tenta reorganizar o seu dispositivo a coberto de uma cortina de fumo produzida pelos velhos contratorpedeiros “4 chaminés” norte-americanos. Apesar disso, a notável capacidade japonesa para o combate nocturno faz-se valer e subitamente o Nachi e o Naguno aproximam-se dos dois cruzadores ligeiros holandeses De Ruyter e Java. Primeiro foi o Java que ficou envolto em chamas e depois o De Ruyter acossados pelos torpedos. Os aliados perderam na primeira escaramuça dois cruzadores e quatro contra-torpedeiros, retirando-se sem salvar os náufragos. Foi o preço que pagaram para retardar por vinte e quatro horas o desembarque nipónico na Ilha de Java.

Na noite seguinte, os cruzadores Perth e Houston navegaram para o Estreito de Sunda, caindo sobre a força comandada pelo almirante Ozawa que na Baía de Bantam tentava desembarcar tropas. Os nipónicos ao verem-se apanhados dispararam de qualquer maneira todos os torpedos que tinham. Afundaram desse modo alguns dos seus navios de transporte, enquanto o cruzador australiano e o norte-americano destruíam mais de meia dúzia de outros navios de transporte. Mas, as munições do Houston acabaram e o navio terminou o combate disparando granadas iluminantes enquanto o Perth recebe um torpedo na casa das máquinas. Afundou-se com as suas peças a disparar até ao momento de submersão.

A destruição da esquadra ABDA marcou o fim do império holandês na Indonésia; a 8 de Março os holandeses rendem-se, enquanto a capital da Birmânia inglesa, Rangoom, é conquistada no mesmo dia. A 1 de Maio, o exército japonês chega mesmo a Mandalay.

Os britânicos reuniram à pressa em Ceilão uma força naval em torno do velho couraçado Warspite e dos porta-aviões Indomitable de 23000/29000 toneladas de 1941 e Formidable de 23000/28620 toneladas de 1940. Ambos operavam com cerca de 56 aviões entre caças e os velhos torpedeiros “Fairey Albacore” e “Fairey Swordfish”, os únicos aviões de duas asas ainda a combater e que se deixariam abater como patos pelas peças antiaéreas japonesas.

Para destruir esta força, Nagumo com os seus porta-aviões fez uma incursão pelo Indico para lançar os seus “Nakajima” sobre Colombo na esperança de apanhar de surpresa a força naval britânica, o que não aconteceu, já que o almirante Sommerville, o comandante embarcado, ordenou a retirada das suas forças para as Ilhas Maldivas. Assim, os trezentos e cinquenta aviões de Nagumo limitaram-se a destruir as instalações portuárias de Colombo, a capital do Ceilão (hoje Sri Lanka). Sommerville ainda tentou um contra-ataque, mas felizmente para os britânicos, os pilotos dos “Albacore” e “Swordfish” não encontraram os porta-aviões de Nagumo que, entretanto, se retirava pelo Estreito de Malaca, esgotado que estava de munições e combustível. No Japão esperava-o uma recepção triunfal.

Nunca na história da guerra naval, uma esquadra em pouco mais de cem dias conquista quase meio mundo, estendendo o poder nipónico até às portas da Índia para Oeste e à Oceânia para sul, isto desde das Aleutas. Com a Coreia, Manchúria, Indochina e partes imensas da China conquistadas antes, mais de um terço do Mapa Mundo caiu nas mãos dos japoneses. Mas,  o principal objectivo militar não foi atingido, o da destruição do inimigo. Os EUA acordavam de um pesadelo para a luta, inexpugnáveis como estavam nas ilhas Hawai e em todo o seu território principal. E muito em breve, com o raid dos bombardeiros de Mitchel lançados do porta-aviões Hornet, os japoneses iriam ter a primeira sensação que, por sua vez, as suas ilhas pátrias não eram inexpugnáveis, como não seria qualquer dos territórios conquistados.

 

 



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Sábado, 23 de Setembro de 2006
Os 150 Dias de Nagumo

Vice-Almirante Nagumo

 

 

Quando esperava ver um enxame de caças no ar”, escreveu o piloto japonês Saburo Sakai, “olhámos para baixo e vimos uns 60 bombardeiros B-17 e caças inimigos muito bem parqueados. Estavam como patos. A nossa precisão de tiro foi fenomenal. Toda a base aérea parecia saltar com as nossas explosões”. 

Efectivamente, em minutos os bombardeiros bimotores Mitsubishi G3M2 Tipo 96 (Nell) da 11ª Frota Aérea de Kondo com os seus 900 kg de bombas eliminaram a força aérea do exército norte-americano nas Filipinas, tanto da base principal de Clark Fields como das outras. Tinham descolado de madrugada nas pistas da ilha de Formosa (Taiwan) que fazia então parte do Império Nipónico. Os poucos caças P-40 norte-americanos que levantaram voo foram incapazes de fazer frente aos mais rápidos e poderosos caças Mitsubishi A6M2 Tipo 0 Reisen, os famosos “Zero”. No início do conflito, os A6M2 equipados com os motores Sakae de 950 cv eram literalmente imbatíveis por serem extremamente rápidos, 534 km/h, e manobráveis, além de terem um notável raio de acção operacional de 1194 milhas.

 

General Douglas MacArthur 

  

Em Manila, a notícia do ataque japonês a Pearl Harbor chegou pelas 3 da madrugada do dia 8 de Dezembro. Logo a seguir, o general Bereton, comandante da força aérea norte-americana das Filipinas decidiu enviar as suas 34 superfortalezas voadoras B-17 contra as bases japonesas da Formosa a umas 60 milhas de distância e de onde poderia partir o ataque aéreo contra as Filipinas. Mas, não foi possível obter a autorização do poderoso general MacArthur, então instalado numa luxuosa suite de um hotel de Manila e protegido por uma guarda que não permitia o mais pequeno contacto. MacArthur esteve encerrado em crise de nervos e só às 11.20 é que Bereton recebeu ordem para levantar voo, tarde de mais, pois uma hora depois, os americanos ainda não tinham levantado voo e estavam já a ser atacados pelos bimotores bombardeiros “Mitsubishi”.

Depois de destruído o dispositivo aéreo norte-americano nas Filipinas e na falta de meios navais adequados, não foi possível defender o imenso arquipélago do ataque nipónico. Os americanos possuíam na área além de 29 submarinos, o cruzador pesado Houston, os cruzadores ligeiros Boise e Marblehead e 13 contra-torpedeiros antigos. MacArthur não foi capaz de impedir o desembarque nipónico e a ocupação rápida daquele país, pelo que ordenou às unidades de superfície para seguirem para Java com o objectivo de reforçarem o dispositivo defensivo holandês, enquanto os submarinos norte-americanos tentaram uma certa resistência, mas sem êxito dada a falta de treino aliada à má qualidade dos torpedos Mk XIV que tendiam a mergulhar mais do que deviam e os seus detonadores nem sempre funcionavam.

MacArthur refugiou-se na ilha fortificada de Corregidor, onde não armazenou previamente armas e munições suficientes, pelo que após uma resistência quase simbólica, o mediático general norte-americano escapuliu-se num submarino para a Austrália por ordem do presidente Rosevelt. O reduzido exército filipino de 65 mil homens resistiu ainda nas florestas de Batam e em Corregidor até Março de 1942.

À data da entrada na guerra, os EUA possuíam capacidades bélicas expectantes, mas nada estava preparado para enfrentar seja quem for. Dos sete porta-aviões, só três estavam no Pacífico, enquanto couraçados, cruzadores e contratorpedeiros datavam todos da I. Guerra Mundial e não estavam guarnecidos de pessoal bem treinado nem tinham sido modernizados. As Filipinas não estavam preparadas para resistir a um ataque nipónico dada a exiguidade das forças locais e norte-americanas instaladas no seu território, como de resto também não estavam as possessões neerlandesas e britânicas da zona.

Desde o início do Século que as Filipinas eram um protectorado norte-americano, estando próximas do Império Japonês de então que incluía a ilha da Formosa ou Taiwan, além da recentemente ocupada Indochina francesa e parte da costa chinesa. Os territórios ainda sob a servidão colonial holandesa, britânica e norte-americana eram ricos em matérias-primas minerais e agrícolas, nomeadamente o petróleo que tanta falta fazia ao Japão. Foi mesmo por isso, que o Império Nipónico lançou-se contra os EUA e em 150 dias invadiu um vasto espaço insular e continental que incluiu as Filipinas, Nova Guiné, ilhas Salmão, Guam, Wake e muitas outras do Pacífico,  Índias Neerlandesas, hoje Indonésia, Malásia e quase toda a Birmânia.

 

Porta-Aviões Akagi – Navio-Chefe do Vice-Almirante Nagumo

 

 

A superioridade nipónica era esmagadora, tanto mais que não enfrentava forças equivalentes depois de Pearl Harbor.

O almirante Kimmel, comandante em chefe da marinha norte-americana no Pacífico, antes de ser substituído, gizou uma primeira estratégia defensiva, utilizando os porta-aviões Lexington e Entreprise em patrulha permanente entre as ilhas de Wake, Midway e Hawai. Simultaneamente esperava o regresso rápido do Saratoga vindo da costa oeste para ordenar um primeiro ataque de diversão contra as forças japonesas instaladas nas ilhas Marshall. Não estava pois em causa deslocar as suas forças para as Índias Neerlandesas, Filipinas ou Malásia onde nunca chegariam a tempo de contribuir para a respectiva defesa, já que os nipónicos atacaram imediatamente a seguir a Pearl Harbor. Entretanto, o presidente Rosevelt substitui o almirante Kimmel por Nimitz. Kimmel foi submetido a conselho de inquérito.

Dado que Nimitz não pôde ocupar imediatamente o seu posto, o vice-almirante Pye comandou a esquadra do Pacífico interinamente e ordenou a saída das duas “task force” organizadas em torno do Entreprise e do Lexington para reforçarem as defesas da ilha de Wake. Só que o desapontamento foi grande. O almirante Nagumo resolveu, por sua vez, atacar a ilha de Wake com 49 aviões dos porta-aviões Soryu e Hiryu, ou seja, 18 Mitsubishi A6M Zero, 32 Aichi e 2 Nakajima Torpedeiros, sob o comando dos contra-almirantes Yamaguchi Tamon para os meios aéreos e Abe Hiroaki, meios navais.

A 21 de Dezembro os aviões de Yamaguchi lançaram-se ao ataque arrasando as defesas da ilha apesar da feroz resistência norte-americana, sendo evitado o combate com os aviões norte-americanos do Entreprise porque o almirante Pye ordenou a súbita retirada da “Task Force”, o que foi feito com grande fúria das guarnições que julgavam poder desferir um golpe vingador nas forças nipónicas. Mas, Pye tinha as suas ordens e não podiam desobedecer. Ao comando norte-americano não interessava ainda expor as suas forças sem preparação e conhecimento do espaço envolvente. Daí que Wake tenha caído nas mãos japonesas.

Outro dos grandes sucessos nipónicos logo no início do conflito foi o afundamento do novíssimo  couraçado Prince of Wales e do  cruzador de batalha Repulse que faziam parte da força Z enviada por Churchill para o Oriente com o porta-aviões Indomitable para fazer frente à prevista ameaça japonesa. Infelizmente, o Indomitable acabou por não acompanhar o esquadrão; tinha encalhado nas Índias Ocidentais aquando de exercícios. O Prince of Wales levava ainda operários e técnicos que estiveram a cabar de montar e afinar equipamentos durante a viagem do Reino Unido para a Malásia ou a acabar de reparar a avaria provocada por uma granada do Bismarck no combate que travou em Maio de 1941, portanto, um mês e meio após ser entregue à Armada Britânica.

Para os britânicos, a guerra com Japão começou mesmo pouco antes de Pearl Harbor quando os japoneses iniciaram os primeiros desembarques na Península Malaia. No próprio dia 8 de Dezembro, a coberto da noite, o esquadrão britânico levantou ferro em Singapura sob o comando do almirante Tom Phillips para prestar ajuda às forças terrestres que a Norte já combatiam os invasores nipónicos. Phillips não requereu protecção aérea, apesar de estar disponível uma força de caças “Buffalo” perto de Singapura. O almirante britânico não acreditava que os aviões torpedeiros japoneses pudessem fazer o percurso de 400 milhas desde as suas bases em Saigão. De resto, Phillips que fora vice-chefe do Estado Maior nem admitia que a aviação pudesse afundar os grandes navios de combate, daí ter visto a sua “Força Z” ir para o fundo sem pedir o apoio dos “Brewster Buffalo” estacionados perto de Singapura.

Efectivamente, ao tentar interpor-se entre a costa Malaia e a força naval de transporte e desembarque de tropas nipónica, Phillips acabou por se colocar à mercê da 22. Flotilha Aérea do Japão, cujos 144 aviões bimotores Mitsubishi G3M e G4M e caças “Zero” representavam para a época uma força imbatível para quem recusava dominar o espaço aéreo.

 

Bombareiros Mitsubishi G3M

Os japoneses começaram por receber a notícia de que um dos seus submarinos viu uma importante força naval britânica rumando a norte ao longo das costas malaias. Ficaram aflitos, não tinham no mar meios para fazer frente aos dois gigantes, pelo que ordenaram a dispersão imediata da força de desembarque ao largo de Singora, enquanto despachavam 53 bombardeiros bimotores em missão de busca e ataque. Estes quase atacaram o cruzador Chokai de 9850/12781t, armado com 10 peças de 8 polegadas, o navio-chefe da força de apoio do almirante Jisaburo Ozawa e não detectaram a presença dos navios britânicos, pelo que regressaram a Saigão sem terem largado os torpedos. Os bimotores tiveram de aterrar perigosamente com a sua carga letal por não haver reservas de torpedos e no dia seguinte lançaram-se de novo ao ataque depois de os hidros da força de cruzadores de Ozawa terem detectado os navios britânicos a navegarem ainda rumo Norte.

Phillips ordenou o regresso dos seus navios a Singapura depois de se aperceber que não podia atacar os japoneses de surpresa e sem conhecer bem a posição dos cruzadores de Ozawa que estavam bem perto e poderiam ter ido para o fundo antes de aparecerem os aviões da 22. Flotilha Aérea. Só no dia seguinte, a 10 de Dezembro de 1942, é que os aviões nipónicos descobriram a “Força Z”, já depois de ser detectada pelo submarino nipónico “I-58” que ainda disparou cinco torpedos. Felizmente para os britânicos todos falharam o alvo. Pelas 13H03, os britânicos foram enfim detectados pelos “Mitsubishi” bimotores que voavam a 10 mil pés de altitude em formações de 8 a 9 aviões. Primeiro foram 8 “cigarros ou lápis”, como eram designados os Mitsubishi G3M devido à sua fuselagem muito esguia. Mergulharam direitos ao Repulse e Prince of Wales para largar as suas bombas. Todas caíram na água à excepção de uma que explodiu no Prince of Wales sem causar grandes estragos.

 

O HMS Prince of Wales afunda-se

 

Dez minutos depois vieram outros bimotores, mas agora equipados com torpedos. Mergulharam e rente à superfície do mar os ainda inexperientes pilotos largaram os seus nove torpedos bem perto dos navios ingleses. Só um torpedo acertou no Prince of Wales, a bombordo perto da popa, destruindo um dos veios de hélice e fazendo entrar água no casco em quantidade e força imparável. O cruzador de batalha perdeu velocidade, começou a inclinar-se e deixou de ser governável. Os geradores eléctricos ficaram inundados e paralisados, os canhões deixaram de funcionar como os monta-granadas, os ventiladores, etc. O poderoso navio estava transformado no casco inútil após um só impacto. Mais uma vez, se revelava a tradicional fraqueza dos navios britânicos, da Jutlândia àquele momento e que continuaria até às Falklands muitos anos depois. Pouco depois, 26 Mitsubishi G4M lançaram-se ao ataque sem receberem por parte da antiquada artilharia antiaérea do Repulse resposta adequada. Só o seu excelente ziguezague é que permitia ao navio evitar o verdadeiro enxame de 26 torpedos sem que algum o atingisse. A seguir, outros 8 bombardeiros G4M aproximaram-se de súbito e um torpedo acabou por atingir o couraçado a meio que continuou a disparar, chegando a abater dois aviões, mas acabou por ser atingido por mais quatro torpedos. Foi para o fundo onze minutos após o primeiro impacto.

O Prince of Wales levou mais tempo a afundar-se, permitindo aos contratorpedeiros da escolta a recolha dos náufragos sem serem molestados pelos japoneses que por falta de combustível tiveram de se retirar logo após o primeiro ataque. Três minutos depois do afundamento do cruzador de batalha britânico chegaram os “Buffalos” sem nada poderem fazer.

Com a dupla derrota americana em Pearl Harbour e inglesa ao largo da Malásia, as forças navais de Nagumo ficaram com a porta aberta para atacarem as ilhas holandesas (hoje Indonésia) e Timor, enquanto outra projecção de força visava as ilhas Salmão, a Nova Guiné e o arquipélago de Bismarck.

Os acontecimentos desenrolavam-se em catadupa a uma velocidade mirabolante. Os nipónicos avançavam na Península Malaia para conquistarem rapidamente Singapura, vindos da selva, tida por impenetrável por um exército moderno, mas não por uma força quase proletária que utilizava largamente a bicicleta como meio de transporte e quase não dispunha de blindados ou artilharia pesada. Naquela “praça-forte” britânica do extremo da península Malaia, os poderosos canhões de pouca serventia foram; estavam em grande parte apontados para o mar e, além disso, faltavam as munições.

 

 

 

 

 

 



publicado por DD às 22:07
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