Aqui o autor - Dieter Dellinger - ex-redator da Revista de Marinha - dedica-se à História Náutica, aos Navios e Marinha e apresenta o seu livro "Um Século de Guerra no Mar"
Domingo, 10 de Dezembro de 2006
A Grande Armada do Pacífico: Task Force 58

 

 

 

 

Nervoso, o tenente Kichi Yoshuyo transmitiu pela rádio de alta-frequência a observação que acabava de fazer: Contacto com o inimigo, vista de uma esquadra com vários porta-aviões e outros navios em número demasiado grande para contar..., a esquadra estará dentro de vinte horas ao largo de Tarawa. 

Efectivamente, o tenente nipónico da guarnição de um avião, em patrulha ao largo das Ilhas Gilbert, avistara a mais gigantesca máquina de guerra que alguma vez a Humanidade pôs em acção. A Grande Armada do Pacífico iniciava a sua ofensiva vitoriosa contra os primeiros arquipélagos ainda distantes de milhares de milhas do Japão. Ofensiva que a levaria à Baía de Sagami ao largo de Tóquio para, a bordo do seu navio-chefe, o couraçado USS Missouri, os representantes do governo japonês assinarem a rendição incondicional do seu Império.

Estava-se a 19 de Novembro de 1943, a marinha norte-americana saiu verdadeiramente de Pearl Harbor, começava a grande ofensiva que os nipónicos tanto temiam, mas que quase não acreditavam ser possível. Saliente-se aqui que os japoneses estiveram ao longo do conflito desprovidos de meios de espionagem nos EUA. A própria escuta rádio era quase insuficiente, daí que os japoneses se deixassem apanhar de surpresa por aquilo que até sabiam que iria acontecer. Cansados de esperar, adormeceram e nas pequenas batalhas em torno das Salmão nos meses precedentes, delapidaram os meios aéreos destinados a aplicar a táctica defensiva dos arquipélagos que deveriam barrar a rota para Tóquio ao inimigo, além de terem abandonado à sua sorte 300 mil homens em Rabaul, nas Salomão e na Nova Guiné oriental.

 Essa táctica deveria ter consistido na pronta acumulação de meios aéreos que deveriam tomar a iniciativa de ataque às forças navais americanas antes destas chegarem à vista das ilhas a conquistar. Ao invés disso, o almirante Keiji Shibasaki, comandante das esquadras combinadas com base em Truk, nas Carolinas, só pôde contar com a tenacidade heróica e suicida dos Forças Especiais de Desembarque Naval que em Tarawa iriam lutar até ao último suspiro, fazendo como que o papel de formigas perigosas e agressivas, mas impotentes perante a poderosa bota norte-americana. A estratégia consistia só em defender a todo o transe o perímetro limitado que ia da Birmânia e Indochina às Índias Orientais com passagem pela Nova Guiné, Carolinas e Marshall. A ideia não era averbar vitórias mas infligir perdas aos norte-americanos.

Yamamoto, antes de morrer, viu confirmada a sua previsão, mas não chegou a ver pelos seus olhos a presença das dezenas de porta-aviões da classe Essex e da classe Independence que semana após semana chegavam a Pearl Harbor e dia após dia saíam em manobras de treino. A época dos dois únicos porta-aviões americanos no Pacífico, o Enterprise e o Saratoga, chegara ao fim. Na Task Force 58 iam seis Essex e cinco Independence, os primeiros com 90 a 100 aviões e os segundos com 35, perfazendo quase 700 aviões, sob o comando do almirante Charles Ponwall. A TF 58 formava a força rápida de porta-aviões, a ponta de lança da 5ª Esquadra do Pacífico organizada pelo almirante Nimitz e comandada pelo almirante Spruance, o herói da batalha de Midway.

Além dos 11 porta-aviões, navegavam com a TF 58, cinco cruzadores de batalha rápidos e dezenas de cruzadores pesados e destrutores, todos armados com novos canhões antiaéreos duais de cinco polegadas e de 20 e 40 milímetros. Os canhões de cinco polegadas disparavam a nova granada antiaérea VT com detonador de proximidade que fazia explodir automaticamente a carga letal a uma distância de 2,1 metros de uma aeronave inimiga. Na altura, um invento com consequências extremamente nefastas para os pilotos nipónicos.

A TF 58 estava organizada em cinco outras Forças Tarefas com uma mistura de porta-aviões grandes e ligeiros, tudo coordenado por novos sistemas de comunicações e direcção de caças, aliado a uma capacidade de defesa contra aviões nunca vista até ao momento. As forças de ataque possuíam pois uma capacidade de manobra quase ilimitada, o que lhe permitia desembarcar numa ilha, qualquer que fosse a defesa nipónica aí existente. Os comandos americanos sabiam que nas pequenas ilhas fortaleza e bases aéreas não havia a possibilidade de escolher uma zona desguarnecida para desembarcar. Tinha de se amolecer a área com bombardeamentos aéreos e navais e, mesmo assim, os fuzileiros navais ao porem o pé em terra encontraram não poucas e mortíferas surpresas.

A TF 58 era igualmente acompanhada por um trem naval inconcebível na época com centenas mesmo de navios de apoio, petroleiros, transportadores de munições e víveres e, bem assim, navios oficinas capazes de transformarem o mais remoto atol do Pacífica numa cidade industrial ao serviço das forças navais e terrestres. Nada fora esquecido, nem a pasta de dentes nem a chamada bomba azul para matar insectos; tida como uma arma decisiva nas lutas travadas nas florestas das Ilhas Salmão e Nova Guiné.

Das plataformas dos porta-aviões americanos elevavam-se novos aviões com grande poder de fogo, entre eles os F6F Hellcat e os famosos Corsair com asa a lembrar gaivotas. Os velhos aviões lançadores de torpedos TBD Devastator foram substituídos pelos excelentes TBF Avenger, notáveis também como bombardeiros de voo picado, partilhando esta tarefa com SB2C Helldiver, tido como um avião pouco seguro pelos seus pilotos.

Os japoneses é certo estavam a fabricar mais de dez mil aviões por ano, muitos dos quais de grande nível técnico, mas não conseguiram dotá-los de pilotos à altura. As dificuldades no recrutamento de jovens com vista suficientemente boa e alto nível de instrução aliada a uma certa incapacidade para resumir o ensino militar e treino ao que é verdadeiramente importante, pondo de lado conceitos de classe social, não permitiram a formação rápida de pilotos hábeis e sabedores do seu ofício. Ao contrário disso, os norte-americanos não estavam nada preocupados com a cultura matemática ou literária dos pilotos, queriam que pilotassem bem e tivessem conhecimento das manobras essenciais à saída vitoriosa de um combate aéreo, nada mais.

Inicialmente, o objectivo da TF 58 eram as ilhas mais avançadas de Kwajelein e Wotje no arquipélago das Marshall, mas o conhecimento de que em Tarawa, nas Gilbert, os japoneses instalaram uma importante base aérea fortificada, levou Nimitz a começar a grande ofensiva pelo Pacífico Central com o desembarque em Tarawa, ou antes, no ilhéu de Betio, o maior do atol de Tarawa. Se aquele ponto fortificado não fosse conquistado, todo o flanco de ataque da TF 58 poderia estar sujeito a ataques surpresa.

A captura de Tarawa deveria ser feita pela Segunda Divisão dos Marines, com dezoito mil homens, que iria desembarcar num espaço de milha e meia de largura por uns seiscentos metros de profundidade, todo eriçado de casamatas de cimento, abrigos de artilharia, minas, arame farpado, etc.

Sangrenta batalha pela conquista de Tarawa

 

Spruance quis um ataque fulminante, pelo que ordenou só algumas horas de bombardeamentos navais, em vez de três dias como queriam os comandantes das forças terrestres. Os homens dos navios, apesar da sua força, temiam um violento ataque aéreo japonês. E ninguém sabia ao certo como estava o atol e como se comportariam as novas lanchas tractoras de desembarque LVT que deveriam passar por cima dos obstáculos naturais e deixar as tropas a seco na praia.

 

Couraçado Maryland

 

Pelas 5 da madrugada de 20 de Novembro de 1943 começou o ataque a Tarawa com um bombardeamento naval dirigido pelo couraçado Maryland, acompanhado por outros dois navios similares, quatro cruzadores e vários destroyers. Enquanto duravam os bombardeamentos, dois caça-minas procuravam abrir um canal até à laguna, seguidos pelos contra-torpedeiros Ringgold e Dashiell que procuravam eliminar a artilharia posta a curta distância junto às praias. Depois vieram as LVT que se viram envolvidas pelos geysers das granadas dos canhões nipónicos que, afinal, não tinham sido destruídos pelo curto bombardeamento naval. Os primeiros três batalhões americanos conseguiram desembarcar, mas ficaram presos nos trinta metros de praia. O coronel Shoup tentava dirigir as operações mergulhado na água até ao pescoço e a dar ordens a um sargento que tentava manter acima de água um rádio portátil. As lanchas tractoras foram na quase totalidade destruídas, mesmo que não no primeiro desembarque. Oito horas depois de iniciado o desembarque nada estava decidido, os Marines morriam na praia sem conseguirem avançar pelo reduzido espaço interior da ilha. De noite, soldados japoneses nadaram ao longo da praia e subiram às lanchas danificadas onde apanharam as metralhadoras abandonadas e dispararam contra os fuzileiros acantonados ainda nas praias.

Só os dois destrutores ancorados quase a rasparem a areia é que deram apoio de fogo de artilharia, enquanto os japoneses resistiam apesar de metade da sua guarnição ter já perecido. Só com a chegada de reforços norte-americanos, no segundo dia da batalha, é que a sorte começou a estar mais do lado da bandeira das estrelas. Mesmo assim, os Marines tiveram de entrar na zona fortificada com lança-chamas e atirar blocos de TNT para dentro de todas as entradas das casamatas de cimento, a fim de eliminar o pessoal aí abrigado. Depois da explosão do trinitro, alguns japoneses conseguiam ainda sair dos abrigos, mas eram logo regados por lança-chamas que os faziam arder aos saltos como se fossem filmes de celulóide.

Os últimos sobreviventes lançaram, por fim, um ataque "Banzai", suicida, saindo aos gritos dos abrigos e brandindo baionetas, espadas e espingardas, além de granadas de mão que lançavam sobre os Marines que tinham de se defender também à baioneta e à faca. Leva sobre leva, os nipónicos imolaram-se na esperança vã de que mais uns mortos americanos poderiam retardar a derrota final do seu Império.  

Uma vez conquistado o ilhéu de Betio, os americanos tiveram de repetir a tragédia no de Makin. Eram seiscentos os Marines e outros tantos os japoneses. Foi um duelo homem a homem, os soldados americanos eram quase recrutas da Guarda Nacional de Nova Iorque que entraram várias vezes em pânico, principalmente à noite. Metade dos efectivos tombou morto ou ferido e dos japoneses quase ninguém sobreviveu.

O avanço lento das forças terrestres americanas, levou o comando nipónico a lançar uma contra-ofensiva aérea. Assim, dezoito bombardeiros Mitsubishi G4M1 conseguiram iludir a detecção dos radares adversos e atingir com alguma severidade o porta-aviões Independence ao largo de Tarawa. Dias depois, o porta-aviões de escolta Liscome Bay de 10.902 tons. de deslocamento máximo é torpedeado pelo submarino I-175, explodindo de seguida com a perda de 650 homens.

A campanha das Gilbert termina com êxito para a TF 58 que teve de esperar por decisões políticas para continuar as suas operações contra as ilhas Marshall e Marianas. Efectivamente, na Conferência dos aliados no Cairo, Churchill e Estaline tentaram os impossíveis para levar os americanos a concentrarem os seus esforços militares no Mediterrâneo e na Europa em geral, fazendo esperar o teatro do Pacífico. Roosevelt e o almirante King levavam consigo o êxito de Tarawa para mostrar o que a Navy podia fazer. MacArthur, por seu lado, pressionava Washington no sentido de desviar a ponta de lança da TF 58 para o sul, isto é, para as Filipinas, que esperava conquistar em poucos meses.

Afinal, foi a técnica a decidir. Das fábricas Boeing começaram a rolar para as pistas os primeiros B-29, o mais poderoso e bem armado bombardeiro de então e que poderia bombardear o Japão a partir de bases situadas a mil e quinhentas milhas de distância. Para isso, as ilhas Marianas eram imprescindíveis e Roosevelt não queria atrasar o momento em que o território do Japão passaria a ser pasto das bombas lançadas pelos B-29. Para gáudio dos almirantes, a Força Aérea passou a defender o pensamento estratégico da Marinha que preconizava o avanço pelo Pacífico Central em direcção ao Japão. Nimitz recebeu o sinal de Roosevelt e King e decidiu imediatamente atacar a base central de Kwajalein, deixando de lado outras bases próximas tidas como menos importantes.

A decisão foi tomada a 14 de Dezembro de 1943 com a oposição de muitos almirantes que consideravam a operação demasiado arriscada por temerem contra-ataques provenientes de outras bases e recordaram que Kwajelein estava defendida por oito mil homens. O dia D foi marcado para o 31 de Janeiro de 1944, sendo precedido por furiosos bombardeamentos aéreos por parte dos aviões da TF 58 que, entretanto, mudara de comando para o almirante Mitscher, provavelmente porque Washington não tivesse avaliado positivamente o modo como decorreu o assalto a Tarawa.

Pela primeira vez, os meios dos porta-aviões iriam ser aplicados a fundo numa operação anfíbia, sem o apoio de aviões com base terrestre. Dois dias após os primeiros ataques não existia mais um único avião japonês nas ilhas Marshall, pelo que os porta-aviões inafundáveis dos japoneses deixaram de ter qualquer utilidade. As ilhas a conquistar de Kwajelein e Roi-Namur foram submetidas a intensos bombardeamentos navais e aéreos. Couraçados e destrutores roçaram os recifes de coral para se chegarem o mais possível a terra, enquanto muitas lanchas de desembarque equipadas com lança foguetes e canhões de tiro automático de 40 mm abicaram às praias para de perto bombardearam as posições nipónicas. Perante a força da TF 58, o almirante Koga ordenou a evacuação imediata dos navios das esquadras combinadas do Japão para a ilha de Palaus, deixando para trás um número importante de navios mercantes carregados com munições, combustíveis, sobressalente, etc. Os TBFs Avenger e os Helldivers destruíram 200 mil toneladas de navios de transporte, além de terem afundado três cruzadores e quatro destroyers.

Os japoneses não esperavam um ataque fulminante às suas ilhas centrais nas Marianas e os tanques americanos começaram a fazer prodígios. Na conquista da ilha de Roi-Namur, o maior dano resultou de os Marines terem confundido uma casamata que servia de depósito a bombas e torpedos com um abrigo de infantaria, lançando para dentro cargas de TNT que provocaram uma explosão infernal causadora de centenas de vítimas norte-americanas.

            Pouco depois da conquista de Eniwetok, conseguida em um dia apesar da feroz defesa nipónica, a TF 58 fez uma pequena pausa para reabastecimento e iniciar o ataque aos aeroportos de Saipan, Tiniam e Guam, de onde os japoneses lançaram um ataque contra os porta-aviões americanos com aviões torpedeiros que não atingiram o alvo devido à excelente defesa antiaérea que abateu dez aparelhos. A TF 58 conseguiu nestas operações destruir 168 aviões e navios deslocando um total de cinco mil toneladas.

A força anfíbia da TF 58 foi, entretanto, reforçada, acabando por contar com 215 navios desde a lancha de desembarque ao cruzador e 84 mil americanos e australianos das forças de desembarque da marinha e dos exércitos. Estas forças foram lançadas contra Hollandia na Nova Guiné, onde os japoneses tinham organizado uma força aérea de 350 aviões que foi apanhada de surpresa pelos B-24 escoltados pelos Corsairs e Hellcats. Em raids sucessivos, 340 aviões nipónicos foram destruídos, enquanto o almirante Koga mandava retirar a esquadra do Pacífico do ancoradouro de Truk para a base de Tawitawi na costa norte leste do Bornéu.

Sem ter travado a esperada batalha decisiva, a esquadra japonesa sofria as depredações provocadas pelos submarinos americanos, chegando ao ponto de ser obrigada a utilizar petróleo proveniente directamente das profundezas da terra, sem refinação, com consequências nefastas para as caldeiras dos navios.

Koga resolveu organizar a sua esquadra aos modos da TF 58, criando também com os porta-aviões que lhe restavam uma força rápida e extremamente móvel sob o comando do almirante Jisaburo Ozawa, mas os seus planos não chegaram ao destino, pois o almirante Shiguro Fukudoma que os levava caiu ao mar num temporal ao largo de Cebu, sendo encontrado com a respectiva pasta com os documentos por guerrilheiros filipinos que os fizeram chegar aos americanos, libertando o almirante.

Os documentos chegaram rapidamente a Pearl Harbor, o que levou o comando nipónico a elaborar outro plano para aquilo que seria a batalha decisiva, uma nova Tsushima. Essa batalha iria ter lugar não nas águas do Sul do Pacífico, mas em pleno Mar das Filipinas. Os comandos japoneses sabiam, mas não queriam acreditar, quando as coisas começam a correr mal, não há desgraça que não aconteça, até um almirante pode cair ao mar com uma pasta de documentos secretos.

 

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publicado por DD às 22:01
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Sexta-feira, 1 de Dezembro de 2006
O Desembarque na Normandia

 

 

Mapa do Desembarque

 

 

 

Depois da operação Torch e expulsos os alemães e italianos do Norte de África, os aliados desembarcaram na Sicília para iniciarem uma guerra lenta e difícil de conquista da bota italiana.

Mas, o mais importante seria o desembarque no Norte da França para conquistarem a “fortaleza europeia” que os nazis pretendiam ter erguido nas costas belgas e francesas até à fronteira com a Espanha.

A operação “Overlord” levou dois anos a ser preparada pois Churchill não queria repetir os erros de Gallipoli na I. Guerra Mundial e sabia que os alemães, mesmo com uma fraca aviação, iriam tornar a vida difícil a qualquer invasor.

Mais uma vez, venceu a enorme capacidade industrial dos EUA aliada à canadiana e inglesa reforçada para evitar na Normandia um desastre como o do desembarque em Anzio, perto de Roma, com o qual os aliados pretendiam contornar a linha alemã Gustav que defendia o centro da Itália. Os aliados desembarcaram, mas sem uma massa tremenda de meios materiais e humanos não exploraram a testa-de-ponte criada e permitiram assim que as divisões do Marechal Kesselring respondessem com uma devastadora expulsão dos aliados daquela zona da Itália.

Os ingleses e americanos acabaram assim por transformar o Sul da Inglaterra num gigantesco arsenal com 163 campos de aviação para bombardeiros e caças e 6.939 navios de guerra, transporte e barcaças de desembarque. Nada foi esquecido, nem sequer a construção de portos artificiais para instalar nas praias arenosas da Normandia, dada a evidente dificuldade de desembarcar e capturar rapidamente algum porto. De resto, os aliados decidiram-se pela Normandia em vez de Pas-de-Calais, frente a Dover, por saberem que as forças alemãs estavam mais concentradas aí, além de que as praias são mais estreitas e seguidas de arribas difíceis de serem escaladas.

Os submarinos de Doenitz já não conseguiam impedir o intenso tráfico transatlântico, nem mesmo com os novos torpedos acústicos destinados principalmente à destruição de navios escoltadores rápidos, Conseguiram com certo êxito até os ingleses passarem a utilizar uma máquina de fazer barulho denominada “Fox” que rebocavam a certa distância.

Também os novos submarinos das classes XXI de 1.621t e grande velocidade subaquática, 18 nós, não produziram grande efeito, já que à data do desembarque aliado só oito unidades estavam em serviço. Nem os mais pequenos para defesa costeira, os XXII, que faziam 16 nós submersos, uma velocidade enorme para a época, não estavam disponíveis em suficiente quantidade.

O imenso esforço para a construção de grande quantidade de submarinos dificultou a produção de tanques e aviões para as grandes batalhas terrestres que se travaram depois do desembarque na Normandia, tanto a oeste com os anglo-americanos como a leste contra os soviéticos.

O desembarque na Normandia foi precedido de uma campanha de ataques aéreos que destruíram grande parte das 92 estações de radares dispostas desde as costas belgas às francesas. A equipa científica britânica do Dr. Cockburn que estudava as contramedidas electrónicas produziu um radio-goniómetro terrestre para medir os azimutes dos emissores de radar inimigos com uma elevada precisão e que permitia determinar a respectiva posição pelo método da triangulação.

Um vez localizados os aparelhos alemães, foram enviados caças-bombardeiros “Typhon” que voaram a mais de dois mil metros de altitude sobre os radares como se fossem para o interior da França ou da Bélgica; mas no interior mergulhavam e davam uma volta para trás a fim de atacarem os radares voando rente às copas das árvores. Conseguiram assim avariar seriamente o gigantesco radar alemão “Wasserman”, cuja antena rotativa não foi destruída, mas a plataforma rotativa deixou de funcionar. A torre desse radar tinha 40 metros de altura. Do mesmo modo foram destruídos os radares “Mammut”, “Wuerzburg” e “Freya”, excepto o pequeno radar marítimo “Seetakt” que estava sempre muito bem camuflado.

Para além disso, os britânicos inventaram um dispositivo de decepção que deveria fingir frente aos pequenos radares “Seetakt” em Pas-de-Calais a existência de uma enorme esquadra de desembarque. Eram bombardeiros “Stirling” e “Lancaster” que voavam em paralelo a baixa altitude descrevendo semi-círculos e rectângulos e que iam lançando nuvens de folhetos então denominados “Windows” para formarem uma mancha densa observada pelos radares que assim não distinguiam quaisquer pormenores. O objectivo era fixar no local o 15º Exército Alemão de modo a não intervir mais a oeste nas praias da Normandia onde os aliados iriam desembarcar em força.

Enquanto vagas de aviões descreviam figuras oblongas que avançavam lentamente a uma velocidade de 8 nós para dar a impressão de serem navios, na noite de 6 de Junho, 3467 bombardeiros pesados e 1645 médios e ligeiros apoiados por 5409 caças atacavam todo o tipo de alvos militares para permitir o lançamento de duas divisões aerotransportadas norte-americanas a partir de 2316 aviões de transporte na península de Contentin e uma divisão britânica de paraquedistas.

As tropas que vieram por via aérea em planadores de transporte e lançadas de paraquedas sofreram sérias baixas e não caíram nos locais mais convenientes, logo atrás das linhas alemãs que defendiam as praias da Normandia. Mesmo assim, a superioridade aérea aliada foi tão grande que destruiu no chão o reduzido número de aviões alemães que deveriam opor-se ao desembarque aliado e impediu os movimentos das forças terrestres alemãs.

 

 

Ainda na madrugada começou o assalto marítimo por parte de uma gigantesca armada que deveria colocar nas praias da Normandia cerca de 170 mil homens.

Antes do desembarque, 204 navios caça-minas e 43 balizadores abriram caminho por entre as minas para permitir a chegada às praias normandas. Ainda antes das 2.485 lanchas de assalto e desembarque e dos 236 navios de desembarque de tanques abicarem, uma gigantesca esquadra de 23 navios americanos, 49 britânicos e outros tantos holandeses, polacos, etc. proporcionaram uma cobertura em termos de artilharia devastadora contra as fortificações alemãs.

Os couraçados Rodney, Ramilles, Warspite, Nevada, Texas, Arkansas com o monitor Roberts e grande quantidade de cruzadores pesados e destroyers foram extremamente eficazes ao bombardearem posições alemãs previamente marcadas pelos “Spitfires” britânicos que disparavam roquetes iluminantes.

Mesmo assim, as batalhas nalgumas praias como a de “Omaha” foram terríveis. Ao fim do primeiro dia, os aliados conseguiram conquistar as primeiras praias francesas e colocar 132 mil homens à custa de mais de 10 mil baixas, enquanto os alemães deverão ter sofrido umas cinco a oito mil. Na primeira semana já estavam em terra 250 mil homens que dois dias depois subiram para 326 mil com 54 mil viaturas de combate e transporte.

A Alemanha encontrou-se repentinamente numa guerra de duas frentes com o espaço aéreo perdido. Há muito que a guerra estava perdida, mas os nazis obstinavam-se em não reconhecer os seus erros e Hitler agarrou-se a um pseudo poder, fazendo com que centenas de milhares ou milhões de cidadãos morressem ainda até ao assalto final a Berlim em Maio de 1945.

 

 

 



publicado por DD às 23:31
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