Aqui o autor - Dieter Dellinger - ex-redator da Revista de Marinha - dedica-se à História Náutica, aos Navios e Marinha e apresenta o seu livro "Um Século de Guerra no Mar"
Segunda-feira, 15 de Janeiro de 2007
A Primeira Guerra do Golfo - Epílogo de um Século de Guerra

 

                      USS Ranger na I. Guerra do Golfo

 

Na primeira guerra do Golfo (Pérsico ou Arábe) que ficou conhecida por  “Tempestade do Deserto”, em Janeiro de 1991, o poder naval foi imenso, mas limitado a operar contra objectivos localizados em terra. Os EUA colocaram no Golfo Pérsico e Mar de Oman os porta-aviões Midway, Rosevelt e Ranger; no Mar Vermelho e Mediterrâneo operaram o Saratoga, o América e o Kennedy, transportando um total de 323 modernos aviões de combate que iam desde os caças F-18 e F-14 aos aviões radar, passando por bombardeiros monomotores, etc.  

Para além disso, colocaram na linha marítima da frente dois gigantescos couraçados, o Wisconsin e o Missouri.

Cada um dos velhos gigantes da II. Guerra Mundial operava 16 lançadores de mísseis de cruzeiro Tomahawk BGM 109 com um alcance de penetração da ordem dos 1.250 km e, como tal, capazes de colocar uma carga militar convencional de 410 a 530 kg num alvo situada a essa distância com um erro circular provável de 30 m.

 Também foram lançados mísseis de cruzeiros dos 17 submarinos nucleares de ataque das classes Los Angeles e Providence, dos 4 cruzadores das classe Virginia,  Long Beach e Beverly Hill, bem como dos 4 destroyers das classes Spruance e De Grasse. Ao todo, as forças navais transportaram 483 mísseis, dos quais cerca de uma centena foram disparados no primeiro ataque que causou grande surpresa ao ditador iraquiano, Sadam Hussein. Efectivamente, Hussein não esperava ser atacado por mísseis voando a baixa altitude, entre 10 e 50 m do nível do solo a uma velocidade de 700 quilómetros horários numa trajectória sinusoidal pré-programada.

A operação “Tempestade no Deserto” que ocorreu em Janeiro de 1991 teve como actores principais as forças aéreas terrestres com os gigantescos B-52 carregados de mísseis e os aviões furtivos F-117, além dos F-111, F-15, Jaguars, etc. O objectivo principal foi obrigar iraquianos a retirarem do território do Kuwait conquistado algumas semanas antes, o que foi plenamente conseguido.

A ocupação ou conquista do território do Iraque nunca esteve nos planos dos aliados. Nem sequer o abate do velho “amigo” Sadam Hussein dos tempos da guerra entre o Iraque e o Irão.

 

Iraquianos queimados depois de tentarem impedir o desembarque americano

 

 

 

No Golfo Pérsico, as forças navais intervieram em várias guerras, mas sem assumirem o papel principal. Mais recentemente, no Adriático as forças navais ainda voltaram a disparar contra objectivos terrestres, tal como sucedeu de novo contra o Iraque.

O final do Século viu em termos de guerra naval a simbiose dos velhos couraçados movidos a vapor com os modernos mísseis de cruzeiro, substitutos reais da artilharia de longo alcance. Claro, operando num teatro de guerra em que o inimigo não dominava nem o espaço aéreo nem o marítimo, qualquer embarcação podia transportar lançadores de mísseis e fazê-los disparar.

Hoje, um combate naval entre navios modernos é uma espécie de suicídio mútuo sem que algum dos contendores veja o outro. Os sensores radar e Sonar coordenados por computadores complexos em ligação com meios aéreos ou navais, colocados a grande distância, deverão detectar a presença de elementos hostis e proceder ao lançamento de mísseis mar-mar se se tratar de navios ou mar-ar se se tratarem de aviões. O pessoal muito tenso, envergando luvas e fatos anti-chamas, está postado no CIC (Centro de Informação e Comando) a desejar que as suas defesas não fiquem saturadas pela força atacante e que esta se comporte como vem nos manuais para servir de alvo aos seus mísseis altamente especializados e tecnicamente complexos.

Assim, para combater o avião a grande altitude disparam-se mísseis específicos mar-ar. Se se tratar de enfrentar mísseis rasantes ou aviões próximos, há que fazer actuar as peças super-rápidas multitubos comandadas automaticamente pelo radar. Tudo muito problemático se a ameaça surgir de vários mísseis lançados ao mesmo tempo.

O próprio porta-aviões é hoje um idoso de cabelos brancos, pois as suas cortinas anti-mísseis e as patrulhas permanentes de combate pouco poderão fazer contra os novos “kamikazes” que são os mísseis. Estes colossos dos mares esgotam grande parte dos seus recursos na defesa contra um inimigo aleatório. Só a utilização de meios electrónicos muito especiais é que poderá, eventualmente, impedir a concretização de uma ameaça real. Mas, no fundo, hoje como ontem, os meios ultra-modernos de acção bélica não se destinam verdadeiramente a combater cidadãos possuidores de meios iguais, mas tão só a conseguir uma superioridade contra quem não tem atrás de si os  recursos económicos, científicos e técnicos necessários. O princípio eterno do combate militar foi e continua a ser o de derrotar os mais fracos. Para isso, compete aos políticos proporcionar aos militares alianças de tal grandeza que tornem o inimigo um anão, inviabilizando qualquer tentativa de agressão. Ou não foram os chamados aliados os grandes vencedores da maior parte das guerras, nomeadamente de quase todas nos últimos dois séculos? 

No fim do Século, o símbolo máximo da tecnologia naval, tanto em termos de navio como de sistemas de armas e electrónica, foi e é, sem dúvida, a classe de cruzadores norte-americanos Ticonderoga, também denominadas plataformas do sistema “Aegis”, equipados com dois conjuntos da radares de varrimento electrónico providos de 4 mil antenas, o que permite ver um avião a 1.600 km de distância e seguir as trajectórias de 280 mísseis disparados simultaneamente. Além disso, embarcam uma série de câmaras vídeo, sonares passivos e activos, etc. e 16 grandes computadores UYK-7 mais doze pequenos UYK-20 que permitem fazer a ligação contínua entre a detecção e o disparo dos seus 122 mísseis Standard SM-1 SAM e 20 ASROC, além do canhão de 127 mm de tiro automático e dois helicópteros “Seahawk”.

Apesar desta panóplia toda de detecção, no dia 3 de Julho de 1988, nas águas do Golfo Pérsico, o cruzador desta classe Vincennes disparou um míssil Standard SM-2 contra um “Airbus 300 B” da companhia iraniana “Iran Air” que acabava de descolar do aeroporto de Bandar Abbas em direcção ao Dubai. O comandante americano transmitiu para o seu comando naval que tinha acabado de abater um F-14 do Irão quando o Airbus voava ainda a 3 mil metros de altitude e qualquer criança sabe distinguir um F-14 dum Airbus.

O Vincennes acompanhado pela fragata Montgomery acabava de escoltar naquelas águas alguns petroleiros do Kuwait quando no regresso detectaram a presença de algumas pequenas vedetas iranianas que navegavam na sua direcção. Imediatamente os navios americanos abrem fogo e afundam duas vedetas de todo inofensivas, avariando a outra, sem que tenha existido um estado de guerra entre o Irão e os EUA. Cinco minutos depois, os radares do Vincennes detectam um avião a uns 10 km de distância e a baixa altitude e disparam automaticamente dois mísseis Standard, tendo um atingido o avião civil. Os oficiais americanos dizem que pediram ao avião que se identificasse e que este não teria respondido. Provavelmente passou-se tudo com tanta rapidez que os pilotos iranianos nem tiveram tempo de ouvir alguma mensagem com pedido de identificação e de dar a devida resposta. De resto, nos primeiros dez minutos de um voo, os pilotos civis estão geralmente demasiado ocupados a verificar a instrumentação para poderem ouvir mensagens rádio. Acrescente que o aeroporto de Bandar Abbas do Irão tanto é civil como militar, mas enquanto os controladores aéreos militares iranianos tinham conhecimento do ataque americano às vedetas, os civis não foram informados. Aparentemente não havia contactos entre a torre militar e a civil, o que é típico em quase todos os países.

Já em Maio do ano anterior, 1987, a fragata americana Stark da classe Oliver Perry, foi alvo de um ataque iraquiano perpetrado por um Super-Étandard que lançou dois mísseis “Exocet”, tendo um acertado sem afundar o navio mas causando 37 mortes. A partir dessa data, os navios americanos receberam ordens para afundar todo o avião que se aproximasse até 32 km do mesmo sem responder ao pedido de identificação. 

Ambas as acções decorreram durante a guerra entre o Irão e o Iraque com o então amigo dos americanos, Saddam Hussein, a tentar conquistar uma parte do Irão dos Ayatolas e os americanos a provocarem os iranianos navegando nas suas águas territoriais.

 

Infelizmente, o espírito de guerra sobreviveu até aos últimos dias do Século e do Milénio, tudo indicando que a guerra não é um fenómeno susceptível de ser eliminada pela civilização e cultura dos povos.

Não, o Século XX termina com menos esperanças num futuro de Paz e progresso do que se tinha no início do mesmo Século, mas bem mais que há uns dez anos atrás.

Em 1900, escrevia-se que as grandes nações civilizadas teriam acabado com a guerra, pois os políticos cultos e civilizados estariam votados ao entendimento, só os “selvagens” é que ainda se guerreavam. O jornal americano “Chicago Tribune” escrevia a 1 de Janeiro de 1900 que se esperava um “Século da Humanidade e de Irmandade entre todos os homens”. Década e meia depois, os “civilizados” lançaram-se na mais inacreditável das selvajarias nas trincheiras de 14-18. A ideia da guerra como expressão máxima da vida de um povo, tão cara aos alemães do início do século, ficou para sempre ligada à total impiedade dos holocaustos, massacres de inocentes e outras exacções mais próprias do pior dos infernos que o Homem alguma vez imaginou.

Eric Hobsbawn refere 183 milhões de vítimas da violência militar e política verificadas ao longo do Século que agora terminou. Mais de 10% da população do Planeta no início do Século, mas, mesmo assim, insusceptível de afectar o enorme crescimento demográfico dos últimos 100 anos que tanto marcou a nossa época, fazendo de Sir Alexander Fleming, o descobridor da penicilina, a personagem mais importante do Século.

A guerra é sempre um mal, mas neste Século foi conspurcada por duas ideologias totalitárias da morte. 

A alemã da luta permanente dos povos transformados em quase espécies biológicas em que a raça superior elimina a inferior. E a marxista-leninista da luta de classes transformadas também em quase raças diferentes votadas ao combate eliminatório. Da primeira ideologia resultou a guerra de destruição humana de 14-18 e a guerra holocáustica de 39-45 em que os alemães ensaiaram nos judeus os massacres que pretendiam vir a realizar noutras populações se ganhassem a guerra e foram vítimas dos mais pavorosos bombardeamentos que se possam imaginar. Ambas as ideologias assentavam em conceitos falso, os povos não são espécies ou raças destinados a serem seleccionados pela destruição mútua e as classes sociais não são agrupamentos de indivíduos destinados a massacrarem-se como aconteceu na Rússia/União Soviética desde os primeiros dias de Revolução de Outubro. O simples facto de entre as primeiras vítimas dos massacres leninistas estarem os operários e marinheiros da base naval de Kronstadt, frente a Petrogrado, que até foram os verdadeiros obreiros da Revolução, prova que não havia classes sociais em luta, mas tão só Lenine e um pequeno grupo de conspiradores em busca do poder ditatorial e dispostos a matar tantos burgueses como operários e camponeses quantos fossem necessários para consolidar o seu poder. Os massacres horrorosos dos camponeses “Kulaks”, aqueles que verdadeiramente trabalhavam a terra, e o massacre e deportação de vários povos da Rússia provam também que aqueles que pretendiam actuar em nome dos operários e camponeses dispunham-se a matá-los impiedosamente se não se submetessem à sua sede criminosa de poder.

O Século XX pode vir a ser descrito pelos historiadores do futuro como o Século negro das guerras e massacres de homens, animais e plantas se o Século XXI não for melhor e nada indica para já que o seja. 

As realizações da técnica e ciência serão, sem dúvida, tidas como importantes, mas virão a ser ofuscadas por aquilo que a Humanidade fará no futuro, se para tal haver Paz suficiente. O homem destruidor do Século XX não tem futuro no Século XXI, pelo que ou será substituído por gerações de cidadãos mais capazes de preservarem tanto o ambiente natural como do meio humano ou a Humanidade acabará por soçobrar porque alguém não deixará de acender o rastilho nuclear.

Vedeta da guarda costeira norte-americana em patrulha nas águas do Kuwait

 

 



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Domingo, 14 de Janeiro de 2007
A Batalha das Falklands

O pessoal do CIC da fragata britânica Sheffield estava extenuado depois de 40 dias de mar e horas de vigilância aérea. O comandante James Salt retirara-se para a ponte e só teve tempo para gritar “take cover”, quando viu o engenho voar a dois metros de altitude e quase à velocidade do som. Depois do silvo medonho, ouviu-se um estrondo seguido de um cheiro acre. Um míssil atravessou as paredes das ligeiras superstruturas do navio e penetrou no próprio compartimento da CIC. A guarnição do centro de informação e comando entregou a alma aos céus ou aos infernos, enquanto o navio começava a arder a partir do interior, o combustível do míssil ajudou a propagar o fogo e o pessoal do sector de limitação de avarias mal podia deslocar-se no convés, tão quente estavam as respectivas chapas. Os isolamentos baratos em PVC da cablagem eléctrica do navio ajudaram muito a propagar as chamas.

A fragata Sheffield, tipo 42, de 4.100 toneladas inaugurava, na qualidade de vítima, o poder letal do míssil francês “Exocet AM39” lançado segundos antes por um “Super Etandard” da Força Aérea Argentina. A umas quarenta milhas de distância, o piloto argentino detectou o alvo e introduziu no computador de bordo as respectivas coordenadas e disparou. Voava a menos de mil metros de altitude sem que tivesse sido detectado pelo pessoal da Sheffield que, por isso, não accionou os mísseis anti-aéreos “Sea Dart”, cuja serventia não deveria ser muita, dado serem destinados a derrubarem aviões voando a grande altitude e relativamente próximos do navio.

O evento ocorreu na fria manhã do dia 4 de Maio de 1982, ao largo das ilhas Falklands;  quase um mês depois de as forças ao serviço do ditador argentino  terem  invadido aquele arquipélago austral .

A Sheffield não se afundou de imediato mas ficou com todo o sistema de comando e direcção electromecânico avariado. Apesar dos manuais britânicos dizerem que se um navio não se afunda na primeira meia hora do impacto é recuperável, a fragilidade da fragata não permitiu, contudo, recuperar parte dos 50 milhões de dólares nela investidos, postos em causa por um míssil de 40 mil dólares.

Naquele episódio da Guerra das Falklands, os argentinos vingavam o inglório afundamento do velho cruzador General Belgrano, o antigo Phoenix da marinha norte-americana e sobrevivente de Pearl Harbor, verificado 48 horas antes quando navegava ao largo da costa argentina.

Foi o submarino nuclear de ataque Conqueror o autor da façanha ao disparar a curta distância dois torpedos “Mk 8” quase tão velhos como o cruzador; provavelmente fabricados nos anos trinta ou durante a II. Guerra Mundial. Na altura e depois, os britânicos deixaram que fosse dito que o afundamento se deveu aos modernos torpedos “Tigerfish” filo-guiados numa parte da sua trajectória e auto-guiados na parte final por um Sonar instalado na respectiva cabeça. Esses torpedos ainda não faziam parte da dotação dos navios britânicos. Tal fantasia serviu primeiro para amedrontar a armada argentina e depois para promover a venda do “Tigerfish”. O Conqueror era então uma excelente unidade de ataque de 4400/4900 toneladas capaz de navegar a 28 nós em imersão e orientar-se por cinco poderosos sonares, entre os quais o famoso 2020 de longa distância, contrastando com a inoperância anti-submarina do cruzador e das duas pequenas corvetas que o acompanhavam.

O Conqueror vigiou o cruzador argentino durante três dias sem ser detectado e o seu comandante só decidiu torpedear o navio inimigo depois da Royal Navy receber a respectiva autorização da Senhora Tatcher através do comandante da força britânica nas águas das Falklands, almirante Sandy Woodward. Provavelmente, o disparo terá sido feito com base nas coordenadas dadas pelos sonares sem recurso à visão periscópica. 

As duas tragédias causaram 388 vítimas mortais naquelas águas frias do Atlântico austral que não permitem a sobrevivência dos náufragos por mais do que alguns minutos. Os argentinos ficaram furiosos com o ataque ao seu cruzador, perpetrado fora da zona de exclusão determinada pelos britânicos. Tacticamente isso provocou a fixação da marinha argentina às suas bases. Por essa razão, os argentinos ficaram limitados à utilização dos seus aviões “Skyhawk”, “Mirage” e “Super Etandard” a partir das suas bases terrestres no continente e ao disparo dos cinco únicos mísseis “Exocet” que possuíam, dos quais só um atingiu um navio mercante que transportava helicópteros, além do que explodiu na Shefield.

A distância não permitia aos aviões argentinos executar proveitosas patrulhas de combate e quando tiveram de se bater com os “Harrier” de descolagem vertical tiveram de o fazer a velocidades da ordem das 400 milhas horárias para não gastar o combustível necessário ao regresso à base do Rio Galegos, a 550 milhas das Falklands.

 Nessas condições, os “Harriers” fizeram maravilhas e os pilotos mais bem treinados utilizavam a mudança de fluxo dos reactores do voo vertical para fazer descer rapidamente os seus aparelhos de modo a deixar os “Mirage” passar por cima e exporem-se com o seu jacto quente aos infravermelhos de direcção dos mísseis ar-ar “Sidewinder”, enquanto os mesmos mísseis dos argentinos eram confundidos pelas saídas laterais dos jactos do Harrier.

A guerra das Falklands/Malvinas durou 74 dias, tendo começado com a invasão daquele arquipélago britânico a 2 de Abril de 1982. A Argentina reivindicava e reivindica as ilhas Malvinas na base de uma noção geográfica muito própria. O arquipélago está mais próximo da Argentina que do Reino Unido, logo tem de ser argentino, apesar de a população ser britânica.

A guerra no Atlântico Sul foi, sem dúvida, a última guerra que opôs entre si forças aero-navais. Nas Falklands, o carácter insular do território disputado determinava a prévia conquista ou interdição do espaço marítimo por forças navais. Assim, primeiro os argentinos desembarcam cerca de 5 mil homens nas Malvinas/Falklands sem que os 72 fuzileiros britânicos aí estacionados tivessem podido resistir e conquistam as ilhas da Georgia do Sul, ainda mais distante para o Sul. Depois, numa atitude determinada e corajosa, o governo britânico da senhora Tatcher mobiliza uma importante força naval com o porta-aviões Hermes e o porta-aéreos Invencible acompanhados por 8 destroyers, 16 fragatas, 6 submarinos, dois navios anfíbios e alguns grandes mercantes, incluindo os paquetes Queen Elizabeth e o Camberra.

Aparentemente, os argentinos deveriam ter a supremacia aérea relativamente aos 20 “Sea Harriers” navais dos britânicos e a outros tantos de base terrestre que saltaram dum porta-contentores. O maior número de aviões argentinos não foi suficiente para interditar o espaço aéreo pelas razões expostas no início que não foram compensadas pelo limitado raio de acção dos “Harriers” que não voavam mais do que uns vinte a 30 minutos em cada acção de combate.

As suas forças navais foram como que derrotados pelos submarinos nucleares de ataque. Efectivamente, depois do afundamento do General Belgrano, os argentinos não se atreveram a sair para o mar, deixando assim os britânicos muito à vontade nas operações de desembarque do contingente militar e reconquista do arquipélago e sem conseguirem abastecer as suas tropas que nas Malvinas/Falklands enfrentaram os britânicos. Logo a 25 de Abril, os fuzileiros reais reconquistam a ilha da Geórgia do Sul sem registarem quaisquer baixas. Depois de enfraquecidas as posições argentinas nas Malvinas por via de bombardeamentos aéreos, a 3ª Brigada de Comandos britânica desembarca em San Carlos, na costa noroeste, a 50 milhas da capital, Stanley. Entretanto, os aviões argentinos atacam com grande coragem e espírito de sacrifício os navios britânicos.  A 21 de Maio atingem a fragata Ardent com roquetes, dois dias mais tarde a Antelop é avariada por duas bombas que não explodem, mas matam três tripulantes. Posteriormente, quando uma equipa anti-explosivos tenta retirar a bomba do navio, estas explode ruidosamente de modo a provocar um incêndio que levou ao abandono do navio.

 

Ambas as fragatas pertenciam à classe Amazon, tipo 21, talvez excessivamente ligeiras e pouco resistentes, aguentando mal as bombas e incendiando-se com facilidade. A altitude demasiado baixa em que voavam os argentinos não permitia armar todas as bombas que lançavam, pelo que muitas não explodiram.

As dificuldades dos argentinos foram aumentadas pela acção dos mísseis mar-ar e terra-ar britânicos “Sea Dart”, “Sea Sparrow”, “Sea Cat” e “Rapier”, os quais abateram muitos aviões, principalmente os mais antigos “A-4B Skyhawk”. Quando os mísseis não acertavam nos aviões atacantes, perturbavam muito a eficácia dos seus ataques, dado que os pilotos argentinos perante uma defesa eficaz perdiam a possibilidade de se aproximarem demasiado e de lançarem com precisão as suas bombas. Por isso, a partir dos primeiros desembarques, os britânicos alcançaram os seus objectivos sem uma forte resistência, a guerra tinha sido decidida no mar e no ar.

A guerra das Falklands/Malvinas foi, sem dúvida, o último conflito naval ou aero-naval do Século que findou. Isto, na medida em que a guerra do Golfo não pode ser considerada como um conflito naval propriamente dito, apesar de as forças navais de numerosos países terem intervindo. Primeiro como transportadores dos meios terrestres de ataque e depois como vectores do lançamento de aviões e de mísseis de cruzeiro.

 

 

 

 

 

 


 



publicado por DD às 20:35
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Sábado, 13 de Janeiro de 2007
A Coreia em 1950: De Novo a Guerra Quente seguida da Guerra Fria

 

O primeiro-tenente Baldomero Lopez, à frente do terceiro pelotão de “marines”, chegou rapidamente na sua lancha à muralha do porto de Inchon, na Coreia do Sul, então ocupada pelos coreanos do norte. Aos modos da Idade Média içou-se com espigões para o cimo da muralha do cais e rastejando com os seus subordinados atacou as duas pequenas casamatas de cimento ali colocadas pelos norte-coreanos, a primeira das quais foi silenciada com uma granada de mão. Depois o tenente tenta rastejar para a segunda e fazer o mesmo, mas a granada cai-lhe da mão e é segura pelo corpo para não matar os companheiros que prosseguiram o ataque vitorioso. O tenente de origem hispânica ficou destroçado, mas a 5ª Companhia de Marines prosseguiu com outras unidades nesse incrível desembarque num porto eriçado de defesas e desprovido de praias ou locais adequados de desembarque com um enorme diferencial de marés e muralhas de 3,6 metros de altura. Toda a zona de desembarque estava sob a mira de atiradores postados nas colinas que envolviam a área muito de perto.

 

 

 O assalto ao porto teve início pelas 17.30, já que para chegar à zona portuária, os marines norte-americanos tiveram de conquistar a ilha de Wolmi-Do que cobria toda a entrada do porto, ligada à terra firme por uma muralha cais,  o que foi feito com êxito logo pelas 8 da manhã. Depois, as forças atacantes tiveram de esperar oito horas pela maré-cheia, a fim de fazerem avançar as lanchas de desembarque para os dois flancos da zona insular com a missão de apertar em pinça os dois mil norte-coreanos que defendiam a cidade portuária de Inchon de um ataque que nunca acreditaram vir a ser desencadeado pelos norte-americanos.

Ao largo, 230 navios da 7º Esquadra do Pacífico e das marinhas inglesa, australiana, francesa, canadiana e neo-zelandesa bombardeavam as defesas de Inchon, enquanto os F9F “Panther” a jacto e os “Skyriders” e “Corsairs” a hélice flagelavam em contínuo todos os movimentos de forças militares inimigas em terra. Duas semanas antes, os homens rã da marinha americana, sob o comando do tenente-fuzileiro Eugene Clark, desembarcaram na foz do canal de navegação que conduz ao porto de Inchon e contactaram com intérpretes as populações locais que de imediato se organizaram num grupo de informações a transmitir ao Estado-Maior norte-americano instalado em Tóquio. Horas antes do desembarque, no ilhéu de Wolmi-Do, o grupo do tenente Clark apoderou-se do farol e conseguiu reacendê-lo para permitir a orientação das forças de desembarque.

Inchon foi conquistada a 15 de Setembro de 1950, seguindo as forças aliadas, ou das Nações Unidas, como então se designavam, para Seul, conquistada uma semana depois num ataque fulminante que apanhou os  norte-coreanos desprevenidos. A 19 de Outubro, as forças americanas e aliadas entravam em Pyongyang, enquanto que junto à costa leste que dá para o Mar do Japão, os aliados entravam em Hungnam, bem a Norte da antiga fronteira que cortou em esse país em duas partes.

O desembarque em Inchon foi, sem dúvida, uma operação militar magistral, inspirada e comandada pelo general Douglas Mc Arthur que, assim, transformou em pouco tempo uma situação de derrota total em vitória. Mostrou também como o poder naval pode alterar por completo uma situação militar terrestre com um desembarque em local bem escolhido e, naturalmente, limitadamente defendido.         

Os norte-coreanos tinham invadido a Coreia do Sul e ocupavam então toda a Península com excepção de um pequeno perímetro defensivo no extremo-sul do território. Aí, o que restava das forças sul-coreanas e algumas recém chegadas unidades norte-americanas esperavam a ordem para abandonarem o continente e abrigarem-se no vizinho Japão. Tudo parecia estar perdido para a Coreia do Sul desde que na madrugada de 25 de Junho de 1950, as tropas de Kim Il Sung, o ditador da Coreia do Norte,  atravessaram a fronteira com 135 mil homens e 150 carros blindados T-34, cilindrando os 95 mil homens da Coreia do Sul ainda desprovidos de qualquer blindado e de qualquer peça de artilharia de calibre superior a 105 mm. Na Coreia não se verificava a presença de forças norte-americanas.

 Em resposta ao pedido de auxílio do presidente Sigman Ree da Coreia do Sul, Trumann ordenou, cinco dias depois da invasão, a Mac Arthur, então o comandante das forças americanas estacionadas no Japão, que utilizasse todos os meios disponíveis para ajudar os coreanos do Sul.

A 7ª Esquadra com o porta-aviões Valley Forge da classe Essex apoiado pelo britânico HMS Triumph entrou logo em acção, atacando linhas de caminho de ferro, estradas, bases e forças em movimento, mas sem grande êxito.  Por sua vez,  a 1ª divisão de marines com o seu pouco equipamento e oito mil homens apenas foi enviada para Pusan, seguida de mais reforços em marines para dotar a unidade do efectivo de combate, enquanto divisões do 8º Exército norte-americano chegavam à Península, mas só para reforçar o perímetro defensivo na extremo do território, onde puderam estabelecer uma bem defendida ligação com a retaguarda situada no arquipélago do Japão, mas sem capacidade para arrancar para norte.

MacArthur vislumbrou com rapidez a situação estratégica e sabendo que as forças norte-coreanas tinham consumido muito material e abastecimentos, decidiu desembarcar muito a norte, junto à capital da República da Coreia, Seul, e cortar a retirada dos norte-coreanos, avançando pela Coreia do Norte para chegar ao rio Yalu que delimita a fronteira da Coreia com a China, então já sob a direcção do Mao Ze Dung.

Com o avanço das forças aliadas para as proximidades do rio Yalu o que determinaria a conquista total da Coreia, Mao Ze Dung,  o ditador chinês, resolve entrar na guerra e ordenar a participação de centenas de milhares de “voluntários” chineses mal armados e equipados no conflito. Durante algum tempo, os jovens chineses serviram literalmente de carne para canhão, expondo-se sem grandes meios e êxito às forças das Nações Unidas, predominantemente americanas. Mesmo assim, criaram um problema político-militar, pois os EUA não tencionavam entrar de novo numa grande guerra, cinco anos após o desfecho da II. Guerra Mundial, e, menos ainda, quando a força aérea soviética entrou na guerra com milhares de Migs 15.

Estes Migs 15 foram uma surpresa bem desagradável para os norte-americanos que não supunham serem os soviéticos capazes de construir tão rapidamente um caça moderno. Na verdade, os soviéticos aproveitaram o desenho alemão do Messerschmitt P.1101, corrigiram-lhe os defeitos e equiparam-no com as cópias do poderoso motor britânico Rolls Royce “Nene” que proporcionava um impulso de 6.000 libras. O governo trabalhista permitiu de uma forma benevolente a venda de alguns exemplares aos soviéticos para mostrar que nada teriam a temer das democracias ocidentais. Com isso, fez a URSS poupar entre cinco a dez anos para conseguirem realizar um motor como o turbo reactor Nene, cuja mecânica se mantém com pequenas alterações como o modelo de toda a motorização a jacto militar e civil até hoje.

 Após a conquista de Seul e Pyonyang, os norte-coreanos retiraram rapidamente para norte, a fim de não ficarem cercados no sul, enquanto as forças aliadas avançaram mais um pouco para o Norte, mas acabaram por se retirar para a antiga fronteira entre as duas Coreias e mantiveram durante quase três anos uma guerra mais aérea que terrestre até que, após longas conversações, se chegou a um acordo de cessar-fogo que restabeleceu a ordem inicial, não deixando nada mais aos norte-coreanos que o território que possuíam anteriormente. A divisão da Coreia, como da Alemanha, resultou apenas da presença em certas áreas de forças soviéticas de um lado e norte-americanas de outro no fim da II. Guerra Mundial.  Nada tinha pois a ver com divisões nacionais ou vontade das populações que nunca foram chamadas a pronunciar-se sob o seu futuro como nações unidas ou desunidas.

Inchon foi, sem dúvida, a maior operação naval depois da II. Guerra Mundial até à Guerra das Malvinas.

 Depois de 1946, os mares passaram a estar sob o domínio norte-americano e nunca mais foram palco de guerra a não ser nas orlas costeiras em que o elemento naval acompanhava as operações terrestres nas duas guerras do Vietname, na Coreia e nas muitas guerras coloniais e israelo-árabes, mas sempre com um papel secundário, excepto nas Falklands/Malvinas.

Na segunda metade do nosso Século, a marinha norte-americana veio substituir a britânica e esta como as dos restantes países aliados na Nato foi diminuindo em unidades e efectivos dado o aumento explosivo dos custos dos materiais navais e aero-navais.

De resto, a Coreia mostrou que não vale a pena enfrentar uma potência como os EUA, repetindo um qualquer Pearl Harbor, em zona não defendida pelos americanos, pois a moderna capacidade transporte de forças e armas permite aos americanos colocarem no terreno forças superiores num curto intervalo de tempo. Naturalmente, desde que esse terreno não fique muito distante do mar e hoje já nem isso como se provou com a conquista do Afeganistão.

A guerra na Coreia não se saldou por uma vitória completa dos EUA por não querem estes entrar em conflito com duas potenciais gigantes, a China e a URSS, mesmo que não em meios técnicos e armas, mas, pelo menos, em populações e área geográfica.

                                        

 

 

O McDonnell F2H Banshee foi a versão naval do FH-1 Phantom e, como tal, o primeiro avião a jacto utilizado pela marinha americana nos seus porta-aviões.

Foi também o primeiro avião a abater um Mig-15 russo.

Era um excelente avião equipado com o motor Rolls Royce Nene importado ou fabricado nos EUA sob licença. Atingia a velocidade máxima de 928 Km/h e a velocidade de cruzeiro era de uns 750 Km/h. Podia voar um pouco mais de 2.000 Km, o que era notável e vinha armado com 4 canhões de 20 mm. Começou a ser entregue à Navy em Agosto de 1948.

                                   A GUERRA FRIA NAVAL

 

 

A URSS pretendeu fazer frente aos EUA com uma gigantesca armada de submarinos apoiada por numerosas unidades de superfície, tendo chegado a adquirir os primeiros porta-aviões daquilo que deveria vir a ser um poderoso vector naval-aéreo complementado por uma capacidade em mísseis que se julgava ser sempre muito superior ao que foi afinal.

 Efectivamente, já em 1945 Estaline ordena a realização de um importante plano naval apesar de a URSS estar devastada. O fulcro do mesmo seria formado por três poderosos cruzadores de batalha da classe Stalingrad, cuja construção foi iniciada em 1951 e 1952, mas que acabaria por ser cancelada, indo os cascos parcialmente construídos para a sucata. Obedeciam à falhada estratégia alemã dos grandes corsários tornados ainda mais inoperantes dado o desenvolvimento dos meios aéreos.

Foi o próprio almirante Kutznetzov que pediu ao ditador para suspender a construção desses navios de 42.300 toneladas a equipar com artilharia clássica. Não conseguiu convencer o ditador a suspender o programa de cruzadores com desenhos dos anos trinta que foram construídos nos finais dos anos quarenta.

  Os ensinamentos da recém terminada guerra aconselhavam a seguir por outros caminhos. A arma submarina acabou por ser a preferida pelos comandos navais, apesar de que o ditador tinha uma preferência pelos navios grandes; via neles uma espécie de brinquedos e gostava de se pavonear vestido de almirante pelas pontes de comando, tal como o fizeram nos seus tempos o Czar Nikolau ou o Kaiser Guilherme II. O poder ditatorial tem sempre uma faceta infantil porque dá uma excessiva liberdade isenta de críticas ao ditador do momento e, neste aspecto, comunismo, nazismo, fascismo e imperialismos monárquicos não se diferenciaram muito entre si.

Na construção de submarinos, os soviéticos atingiram números que nem a Alemanha Nazi superou, incluindo mesmo desenhos obsoletos. Assim, entre 1946 e 1950 foram construídos 60 submarinos das antigas classes S e MV de antes da guerra e completamente ultrapassados pelo progresso técnico verificado no decurso da II. Guerra Mundial. Nos anos posteriores foram construídos 376 submarinos diesel-eléctricos dos projectos 611 (“Zulu”), 613 (“Whiskey”), 615 (“Quebec”),  633 (“Romeo”) e 641 (“Foxtrot”) num valor superior a 15 mil milhões de euros ou mais de 3 milhões de viaturas automóveis que poderiam servir mais os interesses da classe operária que os submarinos sem vantagens estratégicas, já que o transporte aéreo estava a reduzir o efeito do transporte marítimo em caso de guerra.

Até 1994, os soviéticos construíram mais 325 submarinos, a maior parte dos quais nucleares com muitos lança-mísseis, incluindo os gigantescos do Projecto 941 “Akula”, designado pela NATO por “Typhon”, deslocando 25 mil toneladas, autênticos cruzadores de batalha submarinos. O custo desta armada deverá ter ultrapassado os 500 mil milhões de euros, quase tanto como 100 milhões de viaturas médias ao preço de fábrica.

A marinha soviética pode ter custado tanto como 2.500 mil milhões de euros, o suficiente para abastecer todos os lares da extinta União Soviética pois incluiu ainda milhares de navios de todos os tipos. Sem esta e outras despesas militares, o regime comunista teria, sem dúvida, sobrevivido e até esse império colonial que foi a União Soviética ainda poderia existir com uma população a gozar de um nível de vida semelhante ao dos belgas, por exemplo.

Com a dissolução do regime e da URSS em 1991, a marinha foi vetada ao abandono até porque durante anos ficou indefinida a repartição dos meios navais entre a Federação Russa e a Ucrânia, país que liberto das grilhetas não quis investir muito em meios bélicos.

Na chamada “guerra fria” entre os blocos comunista e ocidental e limitado à corrida aos armamentos e às guerras de descolonização, todas as vitórias do chamado mundo comunista foram a consequência da sua derrota final. Assim, as despesas em armamento não permitiram aos soviéticos estabelecer as bases de uma sólida economia civil, levando-os a perder a corrida ao consumo. E, por outro lado, o armamento soviético aliado ao bem sucedido apoio às descolonizações produziu esse interessante fenómeno política que foi o da construção da União Europeia, o bloco mais rico e dos mais fortes da Humanidade. Tão forte que não necessita de grandes investimentos em meios militares.

Se a corrida ao armamento destruiu a URSS, não sucedeu o mesmo com os EUA, cujo Produto Interno Bruto chegou a ser quase dez vezes superior ao da URSS e, além disso, os americanos tiraram partido dos desenvolvimentos militares ao lucrarem com os efeitos civis em termos de aviação, electrónica e informática, etc.

Recorde-se aqui que o PIB da gigantesca Ucrânia com 60 milhões de habitantes é inferior a metade do PIB português do início do Século e é o baixo nível do PIB que torna as despesas militares incomportáveis, fazendo Estados como a URSS serem cilindrados pelos orçamentos das suas forças militares, as quais se destinavam a projectá-los como grande potência militar.

Em 1992, os governos da Federação Russa e Ucrânia retiraram a marinha do âmbito das “forças estratégicas”. Já então, a marinha estava reduzida a uma quase força costeira com muitas unidades importantes mas antiquadas e outras tantas vendidas para a sucata como aconteceu aos porta-aviões que estavam em construção. Também as exportações do material naval para muitos países do Mundo ajudaram e ajudam ainda os russos e ucranianos a pagar os salários do seu pessoal naval.

E afinal, terminada a corrida aos armamentos, nem as antigas nações do Pacto de Varsóvia foram invadidas, nem outras. A Paz não resultou de equilíbrios de forças gigantescas, mas tão só de os dirigentes não quererem fazer a guerra e será sempre assim no futuro.

 

 

 

O submarino Severodvinsk (Projecto 971 Akula) de 1985 ao lado do Komsomolets (Projecto 685 Plavnik) de 1983 numa base do Ártico Russo, então ainda URSS.

O Komsomolets afundou-se em 1989, apesar de ser um submarino para navegar a 1.000 metros de profundidade.

 

 



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Sexta-feira, 12 de Janeiro de 2007
Kamikazes

 

O porta-aviões de escolta CVE73 Gambier Bay atacado por um Kamikaze.

 

A rápida retirada do Yamato e dos restantes navios do almirante Kurita parecia ter feito regressar à rotina a actividade naval dos porta-aviões de escolta norte-americanos. Por isso, o aparecimento de alguns aviões nipónicos não pareceu atormentar muito as respectivas guarnições.

 Subitamente, os vigias viram um Zero mergulhar a uma velocidade incrível e segundos depois estatelar-se ruidosamente no convés de voo do porta-aviões de escolta Santee da classe Sangamon de 23.975 toneladas de deslocamento máximo. O navio atingido começou logo a arder, mas a guarnição travou uma batalha hercúlea contra as chamas e da qual saiu vitoriosa, mas para ver o navio torpedeado por um submarino nipónico. O porta-aviões gémeo Sunvannee recebe de seguida a visita de outro Kamikaze, enquanto o Kikun Bay escapa por pouco a um impacto directo de um Kamikaze que ao explodir na água por perto provoca algumas avarias. Por último, o St. Lo volta a conhecer o infortúnio ao receber um Kamikzae no convés de voo no meio de bombas e munições que explodem ao mesmo tempo, despedaçando o navio em pedaços que se afundaram de imediato.

O ataque Kamikaze foi a planeado pelo vice-almirante Takijiro Onishi para coincidir com a operação dos grandes navios de Kurita, mas a retirada apressada destes deixou os Kamikazes a atacarem sozinhos.

Onishi, então o comandante aéreo das Filipinas, há muito que defendia a tese de que as forças aéreas nipónicas não eram mais capazes de conseguir êxitos nos ataques às poderosas Forças Tarefas americanas. Só uma nova concepção de guerra poderia surtir algum efeito e com o sentido da tradição, Onishi denominou o novo modo de ataque de Vento Divino, Kamikaze, recordando o vento que impediu as forças navais do conquistador mongol Kublai Kahn de invadir e conquistar o Japão em 1281.

Ao Japão faltavam pilotos experientes, enquanto a prática e treino aumentava de dia para dia do lado americano. Iniciou-se assim o sacrifício de alguns milhares de jovens inexperientes lançados à força contra os navios americanos como se de bombas humanas se tratassem. Teoricamente eram voluntários, mas o livro de Yasuo Kuwahara, intitulado Kamikaze, revela que o voluntarismo era nulo. O pessoal era obrigado a oferecer-se para ser imolado no altar da Pátria: os que não dava um passo em frente para se oferecerem quando chamados eram logo mobilizados para se redimirem dessa falta, seguindo na primeira missão. O livro foi escrito por um piloto Kamikaze que não chegou a lançar-se com o seu avião por a guerra ter terminado.

Entusiasmado pelo aparente êxito dos Kamikazes, o alto comando nipónico fez reunir nas Filipinas todos os aparelhos que conseguiu mobilizar na Formosa, China, bem como de todo o arquipélago filipino, enquanto aumentavam os efectivos na ilha de Leyte que em Dezembro de 1944 chegaram aos 70 mil homens.

 

Kamikaze atingido continua na sua trajectória mortal.

 

 

Com energia e heroísmo, os japoneses passaram a contestar o domínio dos ares pelos americanos. E novamente os porta-aviões de escolta pareciam ser as vítimas preferidas. Por isso, o almirante Nimitz ordenou que a Task Force 38 voltasse às Filipinas, em vez de se reabastecerem isolados no, agora ultra industrializado, atol de Ulithi, onde os navios-oficinas tinham tudo para repara as avarias da esquadra.

Os japoneses aproveitaram a ocasião, lançaram-se ao ataque e o primeiro porta-aviões a ser atacado foi o Lexington, o segundo do mesmo nome, um navio novo da classe Essex de 34.881 toneladas que recebeu o impacto de um Kamikaze que o deixou a arder com 180 mortos no bojo. Depois foram atingidos o Belleu Wood e o Franklin, todos sem serem afundados mas com avarias graves. Também os porta-aviões Hancock, Intrepid, Cabot e Essex foram atingidos.

Perante tais êxitos, os japoneses chegaram a organizar uma expedição naval para levar 10 mil homens para a Baía de Ormoc. Mas, detectada pelos aviões da TF 38, foi atacada por 345 aparelhos que afundaram todos os navios, incluindo os transportes de tropas.

Os Kamikazes passaram a atacar quase diariamente e quando não encontravam porta-aviões atiravam-se a tudo que flutuasse, mesmo a contratorpedeiros. Os caças das patrulhas eram quase sempre apanhados desprevenidos. Por isso, os Kamikazes só podiam ser sustidos por uma muito numerosa artilharia antiaérea, principalmente de peças de tiro muito rápido como as Oerlikon de 20 mm ou as Bofors de 40 mm. Um dos artilheiros de um conjunto de 20 mm conseguiu abater um Zero Kamikaze para ser atingido pela metade superior do corpo do piloto que saltou para fora com a explosão do seu aparelho. Os Kamikazes trouxeram uma mortalidade muito acrescida à marinha norte-americana nos últimos meses de combate, mas não podiam evitar a derrota, dado o enorme poder dos estaleiros e arsenais americanos. Se tivessem sido utilizados logo a partir da Batalha de Midway quando os americanos mais não tinham do que dois porta-aviões no Pacífico, talvez a sorte da guerra fosse outra. No ar como em terra, o desespero nipónico foi tremendo, mas não impediu operações gigantescas como a conquista de Okinawa a marcar o fim irremediável das forças aéreas e navais nipónicas e parte das terrestres.

Os japoneses ainda chegaram a construir um avião-foguete Kamikaze para ser lançado a partir de um bombardeiro e ser impulsionado pelo motor-foguete o suficiente para chegar a um alvo perto. Parece, contudo, que quase não chegou a ser utilizado. Existe um exemplar num museu em Tóquio.

 

Avião-foguete Kamikaze

 

 

 

A última batalha Aero-Naval do Pacífico foi a operação suicida do couraçado Yamato contra as forças de desembarque americanas ao largo de Okinawa.

O Yamato acompanhado pelo cruzador ligeiro Yahagi e oito contratorpedeiros foi visto a sair do Mar Interior do Japão. Posteriormente soube-se que aquela força só levava combustível para a ida, pois não esperavam regressar a salvo. Tencionavam causar a máxima destruição nas Task Force americanas empenhadas na conquista da ilha de Okinawa. Detectados a tempo por um submarino norte-americano, o Yamato e escolta foi atacado a norte de Okinawa por 386 aviões, tendo os aviões saído antes mesmo de o almirante Mitscher ter a certeza do rumo do Yamato. A procura revelou-se algo difícil devido às nuvens baixas e à chuva, mas subitamente os primeiros Helldivers sentiram os tiros antiaéreos do Yamato. O gigante revelou-se a si mesmo e os TBF com torpedos, bem como, os Hellcats, Helldivers e Corsairs lançaram-se ao ataque mergulhando a partir dos três mil pés, enquanto os 146 canhões antiaéreos do Yamato lançavam para o ar uma autêntica cortina de metralha que não impediu que o gigante fosse atingido por 10 torpedos e seis bombas perfurantes. Começou a meter água e inclinar-se para estibordo enquanto da ponte se ordenava o alagamento da casa das máquinas de bombordo para equilibrar com evacuação do pessoal. Tarde de mais, as munições começavam a explodir e centenas de membros da guarnição ficavam encurralados no bojo do couraçado, acabando por ir para o fundo com grande parte da sua guarnição, pois só 269 homens se salvaram de mais de 2.400. O cruzador Yahagi e quatro destroyers foram igualmente para o fundo. Os americanos perderam apenas 10 aviões mais 84 baixas resultantes dum avião Kamikaze que aproveitou a confusão para se estatelar no porta-aviões Hancock.

Ainda durante o ataque às Filipinas, as últimas conquistas insulares dos americanos permitiram lançar as grandes ofensivas de bombardeamento do território nipónico com os célebres B-29 e depois com os Mustangs P-51 que constantemente metralhavam todos os aeroportos e instalações navais. Os bombardeamentos trouxeram uma dose acrescida de desespero e permitiram a mobilização de muitos mais pilotos Kamikazes e autênticas divisões suicidas que deveria sacrificar-se totalmente para travar a marcha americana. Mas foram as bombas atómicas lançadas a 6 de Agosto de 1945 contra Hiroshima e a 9 do mesmo mês contra Nagasaqui que convenceram definitivamente os japoneses que tinham a guerra perdida, a vitória pertenceu a uma indústria que os japoneses nunca suspeitaram poder existir, apesar de serem igualmente industriais. O erro japonês foi ter entrado na guerra sem possuir já em laboração os meios bélicos de substituição do que seria destruído ao longo do conflito.

           

Foi enfim, num Domingo, 2 de Setembro de 1945, que a bordo do Missouri, foi assinada oficialmente a rendição do Império tão arrogante como louco e que pôs termo à mais longa e trágica guerra que a Humanidade alguma vez conheceu.

 

 

Fim da Guerra - A Bomba Atómica

Efeito das Radiações num dos muito milhares de nascituros nados-mortos ou deformados durante muitos anos após as explosões atómicas de Hiroshima e Nagasaki.


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Quinta-feira, 11 de Janeiro de 2007
A Batalha do Golfo de Leyte

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Depois da derrota na Batalha do Mar das Filipinas, os japoneses voltaram pela última vez ao ataque, agora numa missão praticamente suicida. Não eram capazes de assistir impávidos às sucessivas conquistas americanas no seu “Império Insular” e também não estavam psicologicamente preparados para pôr um termo a uma guerra que há muito sabiam não poder ganhar.

Assim, os nipónicos activaram, em Outubro de 1944, o plano Sho-1 (Vitória-1) baseado na sua capacidade para executar operações nocturnas e, eventualmente, conseguir vitórias sem uma suficiente cobertura aérea. O plano não tinha nada a ver com a realidade, mas a guerra é assim, quando as coisas começam a correr mal, tudo sai mal, as mentes dos próprios dirigentes deixam também de funcionar devidamente. Sho-1 não foi pois mais que uma desesperada carga de Banzai no melhor da velha tradição Samurai dos japoneses. A espada foi substituída pelo que restou da esquadra nipónica, nomeadamente pelo Grupo Central do almirante Takeo Kurita que deveria irromper no Golfo de Leyte no meio da força anfíbia americana que desembarcara e abastecia as tropas ocupadas com a reconquista do arquipélago das Filipinas.

 

 

Em termos militares, a operação foi totalmente irracional, apesar de o almirante Takeo Kurita ter apostado na técnica nipónica de combate nocturno, pois com o despontar do dia, os navios japoneses não podiam desaparecer e estariam à mercê do imenso poder aéreo dos EUA. Nada mais havia a fazer que morrer com honra.

Kurita, ainda com uma esquadra importante composta por cinco grandes navios de linha, entre os quais os temíveis Yamato e Musashi, tencionava passar pelo Estreito de S. Bernardino e apanhar de surpresa os porta-aviões americanos. Uma das pontas de lança nipónicas seria formada pelo grupo sul do vice-almirante Shoji Nishimura com dois velhos couraçados seguidos da formação do almirante Kihoyde Shima com três cruzadores e quatro destrutores. O almirante Ozawa comandava outra das pontas japonesas com quatro porta-aviões, o veterano de esquadra Zuikaku e três ligeiros com apenas 116 aviões. Mais do que ponta de lança, os navios de Ozawa serviram de engodo para atrair para norte o grosso da força norte-americana e permitir o ataque dos navios de superfície para o sul. Os híbridos de porta-aviões e couraçados Ise e Hyuga deveriam ainda servir de engodo adicional, estando desprovidos de aviões, mas com as plataformas de voo pejadas com uma centena de canhões antiaéreos.

Os japoneses levaram mais de uma semana a fazerem a aproximação, enquanto os americanos desembarcavam um poderoso exército para a conquista rápida das Filipinas. Mas, como se podia adivinhar pela ciência militar e do comportamento operacional, tudo deveria sair mal aos japoneses.

Logo de início, os cruzadores do almirante Kurita foram surpreendidos pela cortina de submarinos disposta pelos americanos. O navio-chefe Atago foi torpedeado a uns mil metros de distância pelo submarino Darter que acertou cinco dos seus torpedos no flanco do cruzador, despachando-o para o fundo com 359 almas. Kurita e o seu estado-maior foram salvos por um destrutor. Seguidamente dois torpedos do mesmo submarino esventram o flanco do cruzador Takao, enquanto que o cruzador Mayo é mortalmente atingido por três torpedos do submarino Dace que o levou para o fundo em três minutos após uma violenta explosão.

A esquadra japonesa entrou em pânico, em todos os navios soavam constantemente alarmes. Kurita transferiu-se para o gigantesco Yamato, onde conseguiu organizar de novo as formações e impor uma certa calma. Simultaneamente, o almirante Fukudome lançou ao ataque 180 aviões de combate laboriosamente reunidos nas bases terrestres das Filipinas. A Task Force 38.3, comandada pelo almirante Sherman, foi a primeira formação visada, mas 7 Hellcats do porta-aviões Essex esperavam já os nipónicos; 15 aviões japoneses foram abatidos, nove dos quais pelo ás McCampbell que bateu o recorde absoluto num só combate. Outro grupo de aviões nipónicos atacou o porta-aviões ligeiro Princeton de 10.662/14.751 tons.. Um dos bombardeiros nipónicos colocou duas bombas de 500 libras no convés de voo. As explosões causaram incêndios rápidos e intensos que fizeram explodir seis Avenger carregados com torpedos. O cruzador Birminghan tenta socorrer o porta-aviões e recolher náufragos, enquanto os Hellcatas afastam outros aviões nipónicos. As equipes de limitação de avarias fazem prodígios e, pela meia noite, conseguem extinguir quase todos os incêndios à excepção de um braseiro perto da popa. Julgando que o navio estava safo, o Birminghan aproxima-se do porta-aviões para lhe lançar um cabo de reboque quando repentinamente um paiol explode em chamas laranja e atira com montões de sucata para o convés do cruzador. O Princeton transformou-se num destroço com 229 mortos e 420 feridos. Mesmo assim, não foi para o fundo. Depois de os sobreviventes terem sido retirados, aquele porta-aviões ligeiro da classe Independence foi torpedeado, ficando como o segundo porta-aviões perdido pelos americanos em dois anos de guerra depois do Hornet.

 

O  CVL 23 Princeton  assistido pelas mangueiras dos destrutores de escolta.

 

 

O Princeton da classe Independence aguentou bem o tremendo castigo que sofreu, atendendo ao facto de ser um navio relativamente pequeno pois deslocava 10.662/14.751 tons. e resultou da conversão de um cruzador de classe Cleveland, tal como os restantes 8 da classe, parecendo que seria só um porta-aviões medíocre, mas não foi, pois os Independence já se apresentavam com uma catapulta que lhes permitiam colocar rapidamente no ar os seus 12 caças, 9 bombardeiros e 9 aviões torpedeiros. Os cruzadores Clevelands foram autênticos “Fords T” da Navy que a partir de 1940 iniciou a construção de nada menos do que 52 unidades, das quais 9 foram convertidas em porta-aviões e 10 ficaram no estaleiro para serem desmantelados quando a guerra acabou.

O contra-ataque norte-americano estava já em curso; 250 aviões dos grupos tarefas TG 38,2 e 38,3 voaram através do Golfo de Leyte para atacar os navios de Kurita. Depararam com os super-couraçados Yamato e Musashi equipados com 120 peças antiaéreas cada, mas sem granadas com detonadores de aproximação. O Musashi atirava para o ar granadas de 18 polegadas antiaéreas destinadas a explodir no meio das esquadrilhas de aviões inimigos, mas revelaram-se totalmente ineficazes. O gigantesco Musashi encaixou 8 torpedos e quatro bombas sem mostrar sinais de danos, mas posteriormente recebeu mais dez torpedos e 6 bombas de impacto directo que o deixaram desgovernado naquelas águas, enquanto o gémeo Yamato e o velho couraçado Nagato também recebiam bombas, mas sem serem mortalmente feridos como aconteceu com o Musashi que acaba por ir para o fundo pelas 19.30 do dia 24 de Outubro de 1944 com metade da sua guarnição de 2.400 homens.

O que restava da formação do almirante Kurita fez uma volta completa para se retirar, mas com o cair da noite, voltou ao rumo inicial em direcção ao Estreito de São Bernardino e às testas de ponte americanas na Ilha de Leyte.

Entretanto, o almirante americano Kinkaid foi avisado do rumo da Força Sul do almirante Nishimura que pretendia passar o Estreito de Surigao para travar uma batalha nocturna no interior das águas Filipinas. Kinkaid ordenou a formação de uma força de recepção aos japoneses, escolhendo para o efeito o almirante Oldendorf com os seus seis velhos couraçados, cinco dos quais retirados dos fundos de Pearl Harbor e devidamente reparados. Deslocavam aproximadamente 32 mil toneladas, datando dos tempos da I. Guerra Mundial, e formavam a força de bombardeamento a posições terrestres dos japoneses.

Nishimura levava consigo o couraçado Yamashiro de 30.600 toneladas de 1915 com dois destrutores seguidos do couraçado Fuso e do cruzador Mogami . Logo pelas duas da madrugada do dia 25 de Outubro de 1944 encontra a esquadrilha de contra-torpedeiros do comandante Jesse Desron que a grande velocidade ataca a força japonesa numa clássica manobra de tesoura. Os contra-torpedeiros americanos disparam 27 torpedos a uns 900 metros de distância e afastam-se. Nishimura não ordenou nenhuma manobra de desvio e, assim, o Fuso recebe vários torpedos para se afundar após gigantescas explosões que transformaram o navio numa bola de fogo. Nishimura continua em frente para se encontrar pouco depois com os nove contratorpedeiros do comandante Roland Smoots, um jovem ás de 24 anos, que conseguem atingir o navio-chefe, o couraçado Yamashiro. Entretanto, os navios de linha do almirante Oldendorf iniciam a clássica manobra de cruzar o T e abrem fogo pelas 3.53 a uns 23 mil metros de distância. O Yamashiro é atingido logo no início para arder num braseiro infernal e afundar-se vinte minutos depois. O cruzador Magami é também atingido, mas a arder consegue afastar-se escoltado por um contratorpedeiro. Só o destrutor americano Grant é atingido. Na manhã seguinte o Mogami é afundado por bombardeiros, tal como seu companheiro Abukami.

A marinha norte-americana acabava de vencer a última batalha naval clássica da História, travada entre navios de superfície. Mas, ainda se registou outra fase importante da batalha de Leyte, da qual os japoneses estiveram próximos de levarem a melhor sobre os americanos.

Efectivamente, a força do almirante Ozawa ainda com quatro porta-aviões e dois híbridos foi descoberta a noroeste da ilha Luzon, apesar de os seus 72 aviões terem participado na batalha anterior, só que foram confundidos com aviões de base terrestre. De seguida, o almirante Halsey preparou um plano de ataque aos “tigres de papel” de Ozawa, enquanto a outra ponta de lança, do almirante Kurita, navegava sem perturbação pelo Estreito de São Bernardino em direcção aos navios que apoiavam as testas de ponte na ilha de Leyte, nomeadamente os frágeis porta-aviões de escolta da TF 77.4. Kurita ainda mandava em quatro couraçados, seis cruzadores pesados e dois ligeiros, além de 11 contratorpedeiros. Na ponte de comando do gigantesco Yamato, Kurita admirava-se de não encontrar navios americanos a bloquearem o Estreito, apesar de pouco antes ter sofrido tão duros ataques por parte das forças norte-americanos. O Plano Sho parecia estar a cumprir-se, mesmo que a um custo elevadíssimo. Pelas 6.40, os vigias do Yamato detectaram a presença de mastros de navios inimigos a vinte milhas de distância. Kurita ordenou um rumo a 24 nós direito a uma força que julgava ser o essencial dos porta-aviões de Halsey. Pelas 6.53 os nipónicos abriram fogo com as suas granadas de cores variadas. Foi a primeira e última vez que o Yamato disparou sobre navios inimigos as suas granadas de 450 mm e 1.600 kg de peso, as maiores que alguma vez foram disparadas por peças embarcados em navios e que ultrapassavam largamente os canhões de 16 polegadas dos couraçados americanos da classe Iowa.

A última salva da artilharia naval vinha colorida por tintas que os nipónicos misturaram nos explosivos das granadas para detectarem a respectiva origem em termos de torres de artilharia e tempos de disparo. Um oficial americano gritou para o seu almirante: “Os japs estão a disparar em technicolor”. O comandante da escolta de porta-aviões americanos ordenou a saída imediata dos seus Wildcats e Avengers com todo o tipo de bombas e armas para suster o ataque inimigo. Os poucos aviões conseguiram avariar os cruzadores Suzuya e Haguro. Mais sorte e audácia tiveram os contra-torpedeiros americanos Heerman, Hoel e Johnson que conseguiram colocar os seus torpedos nos costados do Yamato e do Nagato, mas sem grande efeito. Pouco depois os canhões nipónicos esventram o Johnson que vai para o fundo todo amachucado como um brinquedo de lata martelado por um martelo. O Hoel é também atingido mortalmente. Chovia abundantemente, mas quando a cortina de chuva abriu um pouco, os nipónicos atingem o porta-aviões de escolta Gambier Bay, abrindo-lhe o convés de voo como se fosse a tampa de uma lata de sardinhas. Pelas 9.07, o navio volta-se e vai para o fundo. Outro porta-aviões de escolta, o Kalinin Bay é igualmente atingido com 16 granadas. Também o St. Lo é atingido.

Estes pequenos porta-aviões de escolta da classe Casablanca não eram navios destinados a enfrentar os poderosos canhões do Yamato, pois deslocavam 8188/10902 toneladas sem qualquer blindagem. Colocavam nos ares 9 caças, 9 bombardeiros e 9 aviões torpedeiros. Construídos pelos célebres estaleiros Kaiser nos moldes em que se fizeram os navios mercantes Liberty, pelo que saíram das calhas 54 unidades, o que não era do conhecimento dos japoneses. Por isso, a destruição de três ou quatro destas unidades nada representou para o desenrolar do conflito. Nada podia então fazer parar a gigantesca máquina bélica norte-americana.

Enquanto se desenrolou o chamado massacre da escolta americana, os aviões de Hulsey atacavam os porta-aviões japoneses, 200 milhas a leste do Cabo Engano. O Chitose foi rapidamente atingido e afundado, enquanto o navio-chefe de Ozawa, o Zuikako foi atingido por um torpedo, o que obrigou o almirante a transferir-se para um cruzador. Posteriormente, o porta-aviões voltou a sofrer impactos até voltar-se e ir para o fundo. Acabou-se assim o último dos porta-aviões nipónicos que atacaram Pearl Harbor. Outra onda de aviões americanos desarmou o Chiyoda, o último porta-aviões japonês ainda a flutuar. Destes ataques só os híbridos Ise e Hyuga se safaram porque a sua poderosa artilharia antiaérea conseguiu repelir todas tentativas de ataque.

Halsey falhou na tentativa de perseguição ao que restava da força de superfície do almirante Kurita, pelo que o Yamato com os seus acompanhantes ilesos conseguiu regressar ao Japão para posteriormente ser sacrificado num ataque suicida às forças navais que acabavam de desembarcar as tropas que conquistaram a ilha de Okinawa, já no arquipélago do Sol Nascente.

 

 

            As grandes derrotas japonesas não foram devidas apenas a uma relação de forças muito inferior ou ao imenso poder aéreo americano. Os japoneses, a dada altura, deixaram de ser capazes de enfrentar com êxito o inimigo, mesmo quando estavam em situações de superioridade. Vimos que contra-torpedeiros americanos conseguiam atingir navios imensamente mais poderosos e os submarinos americanos causaram estragos imensos nas forças navais e nos navios de transporte de matérias primas, combustíveis e tropas no chamado império insular japonês. A esquadra teve mesmo que se abrigar perto da ilha de Borneo para receber aí o petróleo bruto tirado directamente da terra, pois os nipónicos não o conseguiam transportar para o Japão.

            Os americanos utilizaram 226 submarinos durante a II. Guerra Mundial, dos quais pouco mais de 30 estavam efectivamente ao serviço da Armada Americana quando do ataque japonês a Pearl Harbor a 8 de Dezembro de 1941. Alguns dos restantes estavam em vias de serem completados e a grande maioria foi construída já depois. Até 1943, a arma submarina americana enfrentou graves problemas devido aos seus deficientes torpedos. Só a partir de 1943 é que se tornou numa arma formidável com o problema dos torpedos resolvido e com um grande número crescente de barcos em acção.

            Os americanos inspiraram-se mais nos grandes submarinos alemães do final da II. Guerra Mundial do que nos pequenos navios do tipo VII alemães. Os submarinos americanos navegavam bem em submersão e relativamente mal à superfície, enquanto que com os alemães sucedia o contrário, o submarino era quase sempre um navio de superfície com boa capacidade de manobra e alguma velocidade que mergulhava para se furtar a qualquer superioridade adversa.

            Além disso, dada a imensidão do Oceano Pacífico, os submarinos americanos tinham um grande raio de acção e destinaram-se inicialmente a operar em águas inacessíveis às forças de superfície americanas. Os submarinos destruíram rapidamente a capacidade de transporte japonesa e conseguiram mesmo atravessar as barragens de minas que protegiam as águas nipónica e operar no mar interior do Japão.

Submarinos da classe Balao

 

            As classes mais numerosas foram as do grupo Gato, Balao e Tench com características muito semelhantes, das quais foram construídas 230 unidades. Deslocavam cerca de 1.525 toneladas standard à superfície e 2.415 em imersão. Faziam 20,25 nós à superfície e 8,75 debaixo de água com motores diesel de baixo peso e motores eléctricos ligados a dois veios e hélices.

            Os japoneses também deram a preferência a submarinos relativamente grandes e construíram umas 200 unidades, das quais algumas foram destruídas quando ainda estavam nos estaleiros. A arma submarina nipónica também averbou alguns êxitos, mas ficou muito longe do fizeram os americanos.

Saliente-se que as últimas classe de 35 submarinos pequenos de 375 toneladas de deslocamento destinados à defesa das águas territoriais japoneses quase não chegou a actuar, sendo que muitos foram destruídos pelos bombardeamentos e outros não chegaram a ser devidamente incorporados na Armada Japonesa.

            Os submarinos japoneses foram inicialmente concebidos para o combate às esquadras inimigas e nunca foram devidamente utilizados para cortar as linhas de comunicação entre as forças avançadas norte-americanas e as bases terrestres e, nesse aspecto, acabaram por não ter tido muito êxito apesar de terem afundado alguns cruzadores e porta-aviões americanos.

            Saliente-se que o Japão sofreu igualmente muito com a sua ambição desmedida que o levou a conquistar quase toda a Ásia insular e marítima para chegar ao interior da Birmânia e às portas da Índia. Era demasiado para organizar posteriormente uma defesa eficaz e o carácter insular do seu território e de muitas das suas conquistas permitiam ao inimigo não se preocupar com muitas forças estacionadas ao longo de espaços enormes. Aos americanos bastaram algumas ilhas no Pacífico e nem teriam necessitado de conquistar as Filipinas. Só o fizeram por pressão do general McArthur e dos seus amigos em Washington.          

Por isso, tudo o que foi feito pelos japoneses não levou em conta o enorme poder industrial e populacional americano e o Japão sofreu uma usura tremenda em termos pessoais devido à coragem dos seus combatentes que se deixavam matar e enfrentavam o inimigo até ao último cartucho. As coisas começaram a correr mesmo mal para os japoneses quando começou a faltar pessoal preparado e treinado para guarnecer as unidades navais e, principalmente, os aviões.


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Quarta-feira, 10 de Janeiro de 2007
A Batalha do Mar das Filipinas

 

"O destino do Império está nesta única batalha. Espera-se de cada homem o seu esforço máximo". Assim, com este sinal, o utilizado na Batalha de Tsushima por Togo, o almirante nipónico Soemu Toyoda ordenou o levantamento dos ferros no ancoradouro de Tawi Tawi a todos os navios da Primeira Esquadra Móvel para executar o Plano "A-Go", a ter lugar logo após o encontro nas águas das Filipinas com os restantes navios das Esquadras Combinadas do Império do Sol Nascente, como então os nipónicos denominavam o seu país.

Tratava-se de enfrentar e aniquilar na área das Marianas a poderosa Task Force 58, ou antes as TF 58.1, 58.2, 58.3, 58.4 e TG 58.7, subdivisões operativas da gigantesca força tarefa da 5ª Esquadra norte-americana. A data prevista para o embate foi o 11 de Junho de 1944, cinco dias depois do desembarque na Normandia. Os japoneses perceberam que a guerra na Europa iria terminar, dado que a Alemanha Nazi, encurralada entre dois fogos, sangrava sem forças para se defender com sucesso. A previsível derrota do nazismo acabaria por provocar a transferência de imensos meios bélicos para o teatro de guerra do Pacífico. De resto, já então se fazia notar a presença de forças navais inglesas no Pacífico, dado que pouco ou nada tinham a fazer nas águas europeias, desaparecidas que foram as marinhas italiana e nazi.

No ancoradouro da Tawi Tawi, a sul do arquipélago das Sulu, os nipónicos concentraram a Primeira Esquadra Móvel sob o comando do almirante Ozawa. O local situava-se a umas 200 milhas dos campos petrolíferos de Tarakan no Bornéu, de onde a esquadra recebia petróleo não refinado que ia directamente para as suas caldeiras com consequências bem negativas para o respectivo funcionamento. Naquele ancoradouro, a frota padecia ainda da falta de um bom aeródromo para treino do pessoal dos porta-aviões. Além disso, estava sempre sujeita às depredações provocadas pelos submarinos norte-americanos, o que impedia a saída frequente dos navios para treino das respectivas tripulações. O submarino Puffer conseguiu, dias antes, afundar os dois navios de transporte de equipamentos aeronáuticos Ashizuri e Takasaki, enquanto, a 6 e 7 de Junho, o submarino USS Harder despachou para o fundo três contratorpedeiros nipónicos ancorados ao largo de Tawi Tawi.

Teoricamente, pelo menos, a Primeira Esquadra Móvel poderia bater-se com a Task Force 58, desde que reforçada com os aviões baseados em terra, o que não se veio a verificar inteiramente.

O coração da Primeira Esquadra Móvel japonesa ficou formado por três divisões de porta-aviões, a essência do que restava da Marinha Imperial. Mas, só a primeira Divisão, comandada por Ozawa, contava com um verdadeiros porta-aviões de esquadra, o Taiho que era o navio-chefe, de 37.720 tons. de deslocamento máximo, completado três meses antes. Tratava-se de uma excelente unidade com coberta de voo protegida por uma blindagem de 3,1 polegadas como nos porta-aviões britânicos de então. Transportava 75 aviões, sendo 27 caças Mitsubishi  A6M5, 27 bombardeiros de mergulho Aichi D4Y1, 3 aviões de reconhecimento D4Y1 e 18 aviões torpedeiros Nakajima B6N1. A defesa anti-aérea próxima do navio estava a cargo de 71 peças de 25 mm e 12 de 3,9 polegadas. Os outros dois porta-aviões da divisão eram o Shokaku e o Zuikako de 32.105 toneladas. Estas excelentes unidades falharam a batalha de Midway por terem sofrido avarias nos combates decorridos ao largo das Ilhas Salmão. Os seus grupos aéreos eram idênticos aos do Taiho.

A escolta desta Divisão foi entregue aos dois cruzadores pesados Myoko e Haguro e a um grupo misto de 7 contratorpedeiros liderados pelo cruzador rápido Yahagi de 8.500 toneladas. Este grupo de batalha podia navegar a uns 32 nós.

A segunda Divisão continha, no seu núcleo principal de combate, três porta-aviões resultantes da conversão de navios não combatentes. Assim, o Junyo e o Hiyo eram antigos paquetes de 28.000 toneladas. Transportavam 51 aviões cada um, organizados em 18 caças "Zero", 9 caças-bombardeiros "Zero" e 18 bombardeiros monomotores de voo picado. O terceiro porta-aviões da divisão era o Ryuhu de 16.700 toneladas de deslocamento máximo com um grupo aéreo limitado de 33 aeronaves, nomeadamente 18 caças Zero, 9 caças-bombardeiros Zero e 6 aviões torpedeiros.

A velocidade desta divisão não passava dos 22-23 nós apenas, pelo que recebeu como elementos protector o couraçado Nagato de 39120/42753t, datando de 1920, e só capaz de fazer um máximo de 25 nós. A segunda divisão recebeu como escolta o cruzador pesado Mogami de 13.670 toneladas e oito contratorpedeiros.

O esquadrão mais fraco formava a terceira divisão comandada pelo almirante Obayashi com dois porta-aviões ligeiros, o Chitose e o Chiyoda, ambos de 15.000 toneladas, com 30 aviões cada, ou seja, 6 caças Zero, 15 caças-bombardeiros Zero e 9 aviões torpedeiros.

Os nipónicos contavam ainda com uma poderosa componente de superfície organizada em três esquadrões. No primeiro pontificavam os gigantescos cruzadores de batalha Yamato e Musashi de 71.659 toneladas, os maiores navios de guerra da época, equipados com nove peças de 459 mm e mais de uma centena de canhões antiaéreos. Faziam um máximo de 27 nós.

Noutro esquadrão, o terceiro, navegavam dois antigos cruzadores de batalha rápidos, o Kongo e o Haruno, navios da 1ª Guerra Mundial, mas posteriormente modernizados. Os outros esquadrões eram fundamentalmente constituídos por cruzadores e destrutores.

Ao todo, Ozawa contava com 475 aviões embarcados, o que correspondia e metade dos 956 aviões transportados na Task Force 58 do almirante Mitscher. Mas, Ozawa entrava em linha de conta com os cerca de 400 aviões baseados em Guam e ilhas adjacentes, pois planeava um combate nas proximidades dessas ilhas, dado conhecer a intenção norte-americana de atacar as Marianas. A táctica nipónica baseava-se na sua doutrina tradicional conceptualizada na ideia de infligir um desgaste decisivo num inimigo numericamente superior antes do choque final que levaria à destruição das forças inimigas. No essencial, os aviadores nipónicos tinham ordens para afundar, a qualquer custo, os porta-aviões americanos. Aquele que conseguisse atingir gravemente um dos navios capitais do inimigo seria promovido automaticamente em dois postos.

Por sua vez, Mitscher com os 956 aviões da TF 58, procurava o combate segundo a doutrina de Klausewitz, isto é, onde for maior a sua capacidade de infligir ao inimigo um castigo tão grande que este perca o desejo e a possibilidade de dar continuidade ao combate, ou mesmo à guerra. Deixar os japoneses atacarem o coração da TF 58 de modo a ficarem por aí caídos foi o essencial da táctica de Mitscher.

Em termos de organização da esquadra de combate, os japoneses colocaram a sua força principal de porta-aviões dispersa em grupos separados e à sua frente fizeram navegar um escudo constituído pelos cruzadores de batalha e cruzadores do Grupo C apoiados pelo esquadrão de porta-aviões ligeiros. Este escudo servia como engodo e batedor, protegendo a força central da esquadra japonesa, disposta numa ordem dispersa para evitar a repetição de Midway em que, num curto intervalo de tempo, três porta-aviões foram afundados quase num único golpe. Contudo, a falta de combustível impedia a execução de manobras de grande vulto. Assim, cada grupo tendia a formar-se em torno do porta-aviões guia com cruzadores e couraçados num círculo de 1.500 metros e destrutores a 2.000 metros. Saliente-se que a fraqueza da artilharia antiaérea japonesa impedia a utilização de outros navios na defesa dos porta-aviões, pois cada unidade acabava por se limitar a defender a si mesmo perante uma investida de aviões norte-americanos.

Os americanos adoptaram o método de formação em Task Group como solução para o problema da concentração e dispersão de forças. Dois porta-aviões de esquadra e dois ligeiros protegidos por uma cortina de cruzadores e destrutores constituíam a força unitária. A TF 58 foi organizada em cinco esquadras daquele modelo dispostas a 12 milhas de distância entre si, sempre que se pretendia que a Força Tarefa operasse como um todo.

Ao fim da tarde de 15 de Junho de 1944, a esquadra de porta-aviões do almirante japonês Ozawa foi detectada pelo submarino Flying Fish à saída do Estreito de São Bernardino, a norte da ilha de Samar, nas Filipinas. Pouco tempo depois, o submarino Seahorse descobre o grupo de cruzadores de batalha, 200 milhas a sul, no estreito de Surigao. Ambos os estreitos ligam as águas interiores das Filipinas com o Pacífico para leste.

O almirante Spruance, ao tomar conhecimento de que as esquadras inimigas estavam no mar, decidiu suspender a projectada invasão de Guam e reforçar as suas unidades de alto mar com os navios destinados aos bombardeamentos terrestres e concentrar os seus porta-aviões a 180 milhas a oeste da ilha de Tinian, no arquipélago das Marianas. Ao mesmo tempo, os aviões embarcados de dois grupos norte-americanos atacavam com violência os aeródromos japoneses da ilha de Bonin, pejados de bombardeiros nipónicos. Os dois outros grupos de combate americanos foram atacados pelos japoneses, primeiro por bombardeiros Mitsubishi G4M1 e depois pelos bombardeiros de dois motores Yokosuka D4Y Suisei e P1Y Ginga. Os atacantes viram frustrados os seus intentos, as patrulhas CAP americanas abateram dezoito bombardeiros e nenhum conseguiu infligir qualquer dano aos navios da Task Force. Dois dias depois, a 17 de Junho, os aviões japoneses com base em terra voltam atacar. Desta vez, os 19 Yokosukas foram acompanhados por 31 Zeros, mas confundiram os porta-aviões de apoio ao desembarque em Guam pelo núcleo principal da esquadra de Mitscher, lançando-se ao ataque. Mesmo assim, só o Fanshaw Bay foi avariado, enquanto que o Gambier e o Coral Sea saíram ilesos. Os aviadores nipónicos é que julgaram ter afundado um certo número de grandes porta-aviões rápidos, convencendo Ozawa  que os seus planos estavam a resultar e que podia lançar os seus aviões embarcados contra uma esquadra muito enfraquecida, mas o inimigo ainda estava fora do seu alcance. Só umas horas mais tarde, Ozawa recebeu a informação de que os porta-aviões americanos navegam a leste. Imediatamente comunicou o facto ao almirante Obayashi que já tinha lançado dois grupos aéreos em busca dos americanos, os quais foram chamados de volta, pois a distância obrigava os japoneses a atacar nas primeiras horas do dia seguinte.

Pelas 06h00, 43 aviões estavam no ar, mas só às 07h30 é que um hidro detectou a presença dos porta-aviões americanos, a 300 milhas da vanguarda nipónica. Mal informado pelo almirante Kukuta, comandante dos bombardeiros terrestres, sobre os danos provocados aos americanos, Ozawa decidiu-se pelo supremo esforço e ordenou o ataque às formações norte-americanas. Os porta-aviões Taiho, Shokaku e Zuikaku lançaram 48 Zeros para escoltarem 27 aviões torpedeiros e 53 bombardeiros, enquanto que da formação do almirante Obayashi foram para o ar 45 Zeros na versão caça-bombardeiro e 8 aviões torpedeiros, todos escoltados por mais 17 caças Zero.

 

 

 

 

O couraçado Alabama detectou os primeiros aviões e avisou de imediato o comando da TF 58. O director de caça da mesma, o tenente Joe Eggert, ordenou o regresso dos caças que tinham sido lançados contra a ilha de Guam. Pelas 10.30 descolaram 140 caças Grumman F6F-3 Hellcats, enquanto que os 82 que estavam no ar em patrulha de protecção foram dirigidos para oeste. Os japoneses, por sua vez, ao chegarem junto aos navios americanos passaram a voar em círculo, enquanto o seu comandante escolhia os alvos e ordenava o ataque. As conversas não podiam deixar de ser ouvidas pelos americanos, nomeadamente pelo tenente Sims, adstrito ao director dos caças, que conhecia perfeitamente a língua japonesa, ficando assim o comando americano a conhecer quais os alvos escolhidos. Mas, quando os japoneses se lançaram em massa ao ataque foram encontrar os bem dirigidos Hellcats. A uns 518 m de altitude desenrolou-se a batalha aérea que envolveu quase todos os aviões disponíveis das duas esquadras. Os caças da TF 38 registaram, logo de início, numerosas vitórias em combates pelo que não deixaram os japoneses organizarem-se para o ataque aos navios. Pelas 10.57, o primeiro raid nipónico tinha chegado ao fim com a fuga do que restava da formação atacante, ou seja, 8 caças Zero, 12 caças-bombardeiros e 6 bombardeiros. Mas, como as coisas tinham começado mal com o primeiro raid nipónico, não podiam deixar de acabar mal. Naquela fase da guerra, aos japoneses corria tudo mal, mesmo quando dispunham de algum equilíbrio de forças. Assim, os poucos sobreviventes ao chegarem aos seus navios foram confrontados com uma poderosa barragem de artilharia antiaérea dos seus camaradas de guarnição que julgavam ver aviões inimigos, abatendo dois aparelhos e avariando seriamente outros oito.

A TF 58 saiu ilesa daquele primeiro ataque. Só o couraçado South Dakota recebeu uma bomba que não causou grandes estragos. Os inexperientes pilotos japoneses estavam a pagar um preço muito alto pela falta de meios de protecção e pelo facto de os seus camaradas do início da guerra terem sacrificado as suas vidas nos combates que travaram. Numa segunda vaga, cerca de 20 aviões nipónicos conseguiram penetrar através do cordão defensivo norte-americano e atacar os porta-aviões Wasp e Bunker Hill, mas não acertaram e só causaram pequenos danos provocados por deflagrações na água. Foi uma bem pobre recompensa pela perda de 97 aviões com os seus tão valentes como ineficazes pilotos.

 

Para aumentar ainda mais os problemas de Ozawa, o submarino Albacore consegue torpedear o porta-aviões Taiho com um dos seis torpedos que disparou. Saliente-se aqui que um bombardeiro japonês ao ver um dos torpedos dirigir-se ao seu porta-aviões atirou-se em missão suicida para desviar o engenho da sua rota mortífera, o que conseguiu com o sacrifício da respectiva guarnição.

O porta-aviões Taiho pareceu não ter sido muito afectado com a explosão do torpedo, dado ter-se avariado só um elevador e quebrado algumas mangueiras de combustível. Mas o pouco experiente pessoal da limitação de avarias começou a fazer tudo errado e tentou esvaziar um dos tanques de gasolina de avião, derramando o combustível na coberta. Depois abriram as condutas de ventilação forçada para evaporar a gasolina, mas os seus vapores penetraram no interior do navio sob a forma de uma mistura explosiva de gasolina, ar e óleos que passado algum tempo fez explodir o porta-aviões com abertura de rombos na parte submersa do casco.

 

 

 O almirante Ozawa fugiu à pressa do navio para o cruzador Haguro. Pouco depois, deu-se outra explosão e o pobre almirante viu o seu navio voltar-se repentinamente e ir para o fundo com 1.650 homens de uma guarnição de 2.150. Umas horas antes, a esquadra japonesa sofrera outra grande tragédia, quando o submarino Cavalla consegue num golpe de audácia atingir com quatro torpedos o porta-aviões Shokaku que começou logo a arder para ir para o fundo duas horas depois com 1.263 infelizes homens da guarnição.

O balanço daquele dia radioso de Junho foi particularmente desastroso para a tão orgulhosa Marinha Imperial Japonesa. Para além da perda de dois dos seus melhores porta-aviões, dos 374 aviões destinados a raids sobre o inimigo, os japoneses perderam 244 aviões mais 50 provenientes de bases terrestres e 22 outros aviões foram para o fundo nos dois porta-aviões torpedeados, perfazendo mais de 300 aparelhos perdidos. A batalha ficou mesmo conhecida pela Grande Sessão de Tiro aos Perus das Marianas.

Ao fim da tarde, Mitscher enviou alguns dos caças-bombardeiros Avenger atacar as pistas da ilha de Guam. Aí as bombas anti-blindagem pouco efeito tiveram, mas já as bombas de explosão retardada provocaram grandes estragos.

Enfim, tudo aquilo aconteceu sem que os aviões americanos tivessem encontrado a esquadra de Ozawa, o que só foi conseguido pelas 15.40 do dia seguinte, quando o tenente Robert Nelson, à frente de 8 Avengers e 2 Hellcats, descobriu os porta-aviões da Força B a 275 milhas da TF 58. Cerca de oito minutos após a descoberta, o almirante Mitscher ordenou um ataque imediato, apesar da distância tornar difícil o regresso dos aviões norte-americanos às suas bases flutuantes. Mas estava em questão derrotar quase definitivamente as forças de superfície japonesas. Em 10 minutos apenas, os 11 porta-aviões da TF 58 lançaram para os ares 95 Hellcats com bombas de 500 libras, 54 Avengers, 51 Helldivers e 26 Dauntless. Ao todo 240 aeronaves. Apesar de se verificar posteriormente que os nipónicos estavam 60 milhas ainda mais distantes, Mitscher deixou que aquela primeira leva continuasse, mas manteve uma segunda força nos porta-aviões.

Entretanto, Ozawa também recebeu informações sobre a posição dos americanos e lançou uma pequena força de ataque nocturno com sete caças-bombardeiros Nakajima B5N e 3 bombardeiros especiais equipados com radar. Estes aviões deveriam aterrar na ilha de Guam depois de atacarem a esquadra norte-americana.

Os atacantes norte-americanos foram recebidos por 68 caças Zero descolados em defesa dos navios de Ozawa. De acordo com as ordens do comandante Arnold, dois grupos de Helldivers do Hornet iniciaram um ataque ao porta-aviões japonês Zuikaku, no que foram seguidos por mais 12 aparelhos idênticos. Pouco depois, seis Avenger com torpedos atacaram o porta-aviões e um cruzador, mas sem êxito, o que não representou grande problema pois o Zuikaku já tinha sido atingido por numerosas bombas. Os atacantes cumpriam a sua missão. O porta-aviões Junyo foi atingido por duas bombas, enquanto os caças Hellcats travavam violentos combates com os Zeros

Os porta-aviões nipónicos Ryhuo e Hiyo foram igualmente atacados, mas enquanto o primeiro nada sofreu, o segundo encaixou duas bombas que o fez tombar para bombordo e afundar-se ainda sob a vista de dois pilotos americanos abatidos e a salvo numa jangada. Foi o único porta-aviões afundado pela aviação americana na refrega, apesar de que outros quatro porta-aviões foram seriamente avariados e o couraçado Haruna, o cruzador Maya e o destroyer Shigure. Contudo, as maiores perdas de Ozawa foram os pilotos abatidos, 65 nesta fase final da batalha contra 17 americanos. Quando Ozawa deu ordem de retirada, a força aérea da 1ª Esquadra Móvel estava limitada a 35 aviões e 12 hidros, o que significou o fim dos porta-aviões como formação de combate.

Os americanos iriam ainda sofrer perdas em pilotos porque no regresso muitos dos aviões esgotaram o combustível e tiveram de amarar. Numa decisão audaciosa, o almirante Clark, comandante da TF 58.1 deu ordens para que as luzes de sinalização e navegação fossem acesas para facilitar o regresso a salvo dos pilotos. Mesmo assim, 17 caças e 65 bombardeiros caíram, mas só 16 pilotos perderam a vida, além de 33 membros das guarnições de voo.

A esquadra japonesa deixou de ser uma força funcional, apesar de não ter perdido todos os seus navios. A Primeira Esquadra Móvel retirou para a baía de Nakagasuki, na ilha de Okinawa, depois de uma tentativa frustrada de encontrar navios americanos para os destruir a canhão, o que teria sido um suicídio dada a falta de poder aéreo dos nipónicos e por os americanos ainda disporem de centenas de aeronaves em estado de combater.

O almirante Ozawa pediu a demissão, que foi recusada, mas o governo do primeiro-ministro Tojo resignou e foi substituído pelo general Kuniaki Koiso. Os japoneses sabiam que estavam derrotados, mas culturalmente não estavam preparados para aceitar a triste realidade.

Depois da perda das Marianas, o território nipónico passou a estar à mercê dos B-29 que não esperaram muito tempo para bombardear o Japão. Entretanto, os americanos lançaram-se ao assalto das Filipinas. O general Mac Arthur queria cumprir a promessa de que regressaria, apesar de o objectivo militar Filipinas ter perdido quase todo o seu interesse desde que os bombardeiros americanos passaram a dispor de bases para atacar o próprio Japão.

 

 

 

Porta-aviões Nipónico Taiho



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