Já foi posta à venda o número de Janeiro de 2009 da Revista de Marinha.
Profusamente ilustrada, como é habitual, a RM traz na capa uma excelente foto do gigantesco paquete “Norwegian Jade” atracado ao cais de Alcântara.
Para além dos noticiários sobre marinhas de guerra, mercante, pesca e desportiva, a RM abre com um artigo de Orlando Telmes de Oliveira com o elucidativo título de “O Naufrágio do Ensino da Mestrança e Marinhagem em Portugal” em que se critica com razão o desaparecimento desse ensino com o abandono de importantes equipamentos e edifícios que incluía um simulador de ponte de navio e instalações para a simulação situações de incêndios e alagamento.
Dieter Dellinger publica neste número o seu quinto artigo respeitante à Marinha Russa, desta vez dedicado aos submarinos diesel-eléctricos com várias fotos dos mesmos. Segue-se um artigo do mesmo autor com o título “O Acidente no Submarino Russo Nerpa”. Ainda o mesmo colaborador publica em artigo “O Porto de Lisboa” um texto sobre o polémica do alargamento do cais de contentores de Alcântara no qual defende que o porto da capital do País destina-se a navios e que Portugal não pode voltar as costas ao mar e ao Tejo, tornando o elemento marítimo apenas paisagem.
A captura por piratas somalis do petroleiro gigante “Sirius Star” é também descrita por Dieter Dellinger que no próximo número apresentará um estudo mais aprofundado. Também “O Acidente no Submarino Russo Nerpa” mereceu a atenção do autor deste blog.
O crescimento da actividade de Reparação Naval por parte da Lisnave é descrita com atenção e num excelente grafismo ilustrado, tal como é o artigo do comandante Augusto Salgado, eminente arqueólogo-mergulhador, intitulado “Naufrágio do Arrastão Santa Mafalda (1964)”.
O capitão de Marinha Mercante José Ferreira dos Santos publica neste número da RM um excelente artigo com o título de “Augusto de Castilho” – Caça-Minas ou Patrulha?.
Este é o último número em que a Revista de Marinha tem como director o comandante Gabriel Lobo Fialho que a dirigiu durante 33 anos, tendo tido o autor deste blog como colaborador durante 20 anos e que continuará no seu “posto”.
O próximo número da RM será “comandada” pelo Contra Almirante Henrique Machado Fonseca que já foi director dos “Anais do Clube Militar Naval” e tem uma longa carreira na Marinha de Guerra, nomeadamente no comando de várias fragatas portuguesas em missões da Nato.
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Como se viu do anterior artigo, a marinha de guerra da Federação Russa saiu muito enfraquecida da longa crise da transição da ditadura soviética para a democracia.
Dos grandes navios de superfície ficou um porta-aviões e alguns cruzadores lança-mísseis.
Para além desses navios descritos na passada edição da RM, o maior é, sem dúvida, o cruzador “Admiral Chabanenko” da classe “Udaloy II”, o único que ficou funcional desde 1995 e que participou em Janeiro passado em manobras no Oceano Atlântico com outros navios da Armada russa.
Trata-se de um navio digno de nota e o único equivalente em poder militar aos navios americanos da classe “Arleigh Burke”. Desloca 7.700t/8.900t com um comprimento de 164 metros. Foi pois um navio construído sem preocupações com despesas como era normal na era soviética quando podia faltar tudo, mas nunca o material militar. A sua motorização é constituída por 4 turbinas a gás que accionam 4 veios e hélices, sendo duas M62 com 9 mil cavalos cada para as baixas velocidades e duas M8KF com 22.000 cavalos cada para as velocidades máximas de 32 a 34 nós.
O armamento é importante com 2 lançadores quádruplos de mísseis anti-navio Moscit e 8 lançadores de 8 mísseis mar-ar Kinzhal e 2 Kortik, além de uma peça AK-130 automática de 130 mm e 4 canhões de seis canos tipo Gatling anti-aéreos com uma cadência de 6.000 tiros por minuto.
O armamento anti-submarino é constituído por 30 torpedos de 533 mm lançados de dois lançadores quádruplos e ainda os velhos morteiros anti-submarinos RBU Udav e 26 minas. Os seus meios aéreos anti-submarinos são constituídos por dois helicópteros Ka-27 arrumados em dois hangares.
Enfim, um excelente navio do qual só existe uma unidade, pois uma outra não chegou a sair do estaleiro e já foi para a sucata.
O grande poder da Marinha da Federação Russa reside nos seus submarinos lançadores de mísseis e torpedos, mas ainda navegam algumas classes de excelentes destrutores ou navios lançadores de mísseis com deslocamentos equivalentes aos de antigos cruzadores, ou seja, entre as 6 mil e as 8 mil toneladas.
Os oito navios da classe 1155 Udaloy I são disso um exemplo. Deslocam 6.947t/7.570t com 163 m de comprimento e motorização do tipo Cogag iguais às do Admiral Chabanenko e capacidade para disparar oito mísseis URK-5 anti-navio quase de uma só vez e para além do horizonte. Para enfrentar ameaças aéreas estes grandes navios disparam 64 mísseis anti-aéreos e anti-mísseis Kinzhal em oito lançadores de oito mísseis acrescidos de mais dois lançadores de mísseis Kortik que não estão em todas as unidades da classe. Este poder anti-aéreo é apoiado ainda em quatro canhões de seis tubos tipo Gatling AK-630. A partir de dois hangares podem actuar dois helicópteros KA-25.
Estes navios, classificados essencialmente com anti-submarinos, são providos de um poderoso armamento anti-navio e anti-aéreo; podem disparar oito torpedos a partir de conjuntos de quatro tubos e dois morteiros RBU-600 com doze tubos para oito salvas. Os russos continuam agarrados a estes morteiros anti-submarinos que as marinhas ocidentais já não usam.
Curiosamente, um dos navios desta classe esteve 16 anos inactivo nos estaleiros por falta de meios financeiros para uma grande reparação, mas bem conservado, pelo que entrou agora de novo ao serviço. São pois navios dos fins dos anos 80 e início dos 90, estando quatro nos mares glaciais e quatro no Pacífico.
Outras das classes de oito grandes navios, é a do Projecto 956 “Sowremenny”, que deslocam 6200t/7800t, desenhados no fim dos anos setenta e construídos em 80 a 90 para substituir os navios mais antigos das classes Kynda e Kresta. A classe deveria ter 19 navios, mas as finanças não permitiram completar duas unidades e outras foram para a Ucrânia, pelo que os russos possuem apenas 8 navios da classe. São accionados por turbinas a vapor “Turbodruck” com 100.000 cv para atingirem os 36 nós de velocidade máxima. São capazes de disparar salvas sucessivas até aos oito mísseis anti-navios e 48 mísseis anti-aéreos a partir de dois lançadores, além de dois torpedos anti-submarinos e os inseparáveis morteiros RBU 1000. Um helicóptero completa o sistema de armas anti-submarinas.
Entre estas classes de destrutores grandes ou cruzadores lançadores de mísseis, a Federação Russa ainda tem o navio “Kerkh” de 8.825t de deslocamento máximo equipado com o típico conjunto de mísseis russos anti-navio e anti-aéreo. Também é um navio soviético de 1974 que esteve recentemente ainda ao serviço da frota do Mar do Norte.
A classe de dois navios Projecto 1154 é curiosa pois começou em 1972 para ser uma pequena fragata ou corveta anti-submarina para acabar numa classe de grandes navios com um deslocamento máximo de 4.400t e 3.800t standard accionados por 4 turbinas a gás que accionam dois veios, o que permite fazer 30 nós ou mais. O seu armamento é semelhante aos dos navios anteriores e podem disparar 39 mísseis anti-aéreos Kinzhal e 2 sistemas duplos de peças de 30 mm para abater mísseis de cruzeiro e outros meios aéreos. O armamento anti-submarino é constituído por 6 tubos lança torpedos de busca submarina.
Os navios mais modernos da marinha russa são as corvetas Projecto 20380 – Classe “Steregushchiv” com algumas linhas invisíveis aos radares. O primeiro navio que deu o nome à classe já entrou ao serviço, enquanto quatro outros estão em acabamentos ou já em provas de mar e treino de guarnições.
São navios de 1800t/2000t com propulsão Codag de 27.500 kWt que levam 8 mísseis Uran capazes de atingir alvos a 130-150 km de distância, voando à velocidade Mach 1. Além disso levam uma peça de 130 mm e um helicóptero Kamov Ka 27, dois lançadores de mísseis anti-aéreos e uma peça de seis canos de 30 mm Kortik do tipo Gatling.
A Armada Russa possui ainda numerosos navios mais pequenos, essencialmente auxiliares de relativa importância militar. O poder russo nos mares reside principalmente nos submarinos lança-mísseis nucleares, os quais serão descritos em próximo artigo.
Artigo de Dieter Dellinger publicado na "Revista de Marinha" de Junho/Julho 2008.
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