O ano de 1900 foi, sem dúvida, um ano de Paz nos mares e em terra; a parte mais importante da guerra dos bóeres no sul de África terminava com a batalha de Paderberg, enquanto os Balcãs se mantinham numa certa quietude, três anos após a guerra greco-turca. Na China, dava-se a Revolta dos Boxers que fez reunir no golfo de Taku esquadras da Inglaterra, EUA, Alemanha, Áustria, Itália e Japão unidas na tentativa de impedir a ascensão do nacionalismo chinês e na vontade de esquartejarem entre si o milenário Império do Meio. Talvez, só agora, depois de outra data mágica, o ano 2000, é que forças de todas aquelas nações poderão voltar a reunir-se sob a bandeira das Nações Unidas para manter uma paz ou guerra latente em qualquer ponto do Globo.
Enfim, o primeiro ano do Século das Guerras Perdidas começou como se nada de grave pudesse vir a suceder no futuro e a Paz e a Prosperidade seriam já uma consequência do elevado grau de civilização alcançado pelas nações desenvolvidas. Considerava-se então que nações ditas civilizadas como a Alemanha, a Inglaterra, a França, a Itália, a Rússia e outras não seriam capazes de entrar em guerra entre si e que os conflitos futuros seriam só com povos incivilizados das colónias dos diversos impérios.
Faltavam ainda alguns anos para começar aquilo que o historiador britânico Eric Hobsbawn designou por Idade dos Extremos no seu livro que recebeu ainda o título de O Curto Século XX; 1914-1991. Para este historiador, o Século que terminou foi o das três Guerras Mundiais; duas quentes e uma fria com alguns afluxos de alta temperatura bélica como as guerras da Coreia e do Vietname, além das eternas guerras israelo-árabes e das muitas guerras coloniais.
Por isso, escrever sobre o Século XX, focando o sempre dramático fenómeno guerra, não pode deixar de ser. em primeiro lugar e sempre, uma manifestação de profundo respeito pelas mais de cento e vinte milhões de vítimas mortais, quase dez por cento da população do planeta no dealbar do Século com o desejo que essas vítimas não fiquem esquecidas, qualquer que seja o modo e o lado porque tombaram.
Em 1900 não tinha começado o duelo naval anglo-germânico, apesar do Reichstag (parlamento alemão) ter aprovado, dois anos antes, a chamada Lei Naval, inspirada pelo almirante Tirpitz, então Ministro da Marinha do Império Alemão. Só a partir de 1905 é que a Alemanha do Imperador (Kaiser) Guilherme II deveria estar dotada de uma esquadra de 19 couraçados, seis grandes cruzadores e 16 cruzadores ligeiros, além de numerosas unidades menores, o que estava longe de ser suficiente para ameaçar a gigantesca marinha britânica, mesmo que pouco modernizada então.
No início do Século, o Imperador dos alemães, além de sobrinho do Rei Eduardo VII do Reino Unido e neto da Rainha Vitoria, era igualmente almirante honorário da marinha britânica, pelo que tinha o hábito de visitar a Inglaterra no seu iate Hohenzollern, prodigalizando-se nos muitos conselhos que dava sobre a arte de governar e dirigir uma marinha de guerra.
Apesar dos seus laços familiares com a casa reinante da Grã-Bretanha, o Imperador alemão lançou-se num corrida aos armamentos navais com os britânicos, colocando assim uma "Alsácia-Lorena" sob a forma da poderosa esquadra alemã entre as duas grandes nações. Com isso, o Kaiser acabou por forçar uma aliança entre a Inglaterra e a França que deseja recuperar o território perdido em 1871 e cimentava uma aliança com a Rússia. Lentamente ia-se abaixo o equilíbrio defendido por Bismarck e a Alemanha, sob a direcção de um inútil, o Imperador Guilherme II, começava a política que a iria conduzir à catastrófica guerra de 1914-18 que, por sua vez, originou a guerra de 1939-45, quando a Alemanha caiu de novo nas mãos de um político completamente mentecapto, neste caso Adolfo Hitler.
Mas, no início do Século, o mar era pacífico e assim tinha sido após o fim das guerras napoleónicas; depois das quais a força naval foi utilizada esporadicamente em complemento de operações bélicas terrestres. Efectivamente, o mar tinha deixado de ser aquilo que foi durante séculos; um eterno palco de combate, tanto entre nações europeias que em terra até mantinham relações pacíficas como entre estas e piratas e meios navais de nações atrasadas. A chamada pirataria barbaresca acabou de vez quando forças europeias e até americanas atacaram Tunes e outros portos das costas do Norte de África e a França conquistou todos aqueles territórios. Em consequência da derrota da pirataria, a meados do Século XIX, as marinhas de guerra separaram-se totalmente das mercantes, pelo que os elegantes Clippers de então passaram a sulcar os mares desprovidos de qualquer armamento. Eram demasiado rápidos para serem seguidos por navios piratas que teriam sempre os dias contados dado o enorme poder das marinhas de guerra europeias e americana com as suas blindagens, máquinas a vapor e canhões que a pirataria não tinha acesso.
Todavia, as potências tiravam proveito dos progressos da técnica e da ciência para modernizarem os seus armamentos e pode concluir-se que foi da corrida aos meios bélicos que resultaram as guerras que de uma forma tão trágica marcaram e ensanguentaram o Século XX.
O Couraçado britânico "Ocean" de 1900.
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