O capitão-tenente McClusky comandava 32 bombardeiros SBD Dauntless oriundos do Entreprise, do Hornet e do Yorktown, quando repentinamente vislumbra do alto o grosso da coluna nipónica de porta-aviões em operações contra o Atol de Midway. Os nipónicos não suspeitavam da presença das “Task Force” 16 e 17, comandadas respectivamente pelos almirantes Fletcher e Spruance.
Os pilotos sabiam bem o que fazer, todos se lançaram ao ataque. McClusky e o seu camarada Massey pensaram certamente que cada piloto conhecia de cor a missão a cumprir. O mergulho foi imediato, McClusky e 24 outros SBD não deram tempo para que os Zero que aqueciam os motores nos convés de voo levantassem.
Quatro bombas explodem ruidosamente entre os aviões municiados e abastecidos no enorme Kaga de 32 mil toneladas, incendiando as mangueiras de combustível.
A esquadrilha do tenente Galager seguiu os aviões de McClusky, mas vê no gigantesco Akagi de 42.750t de deslocamento máximo um Zero já a mover-se para se elevar para os ares. Umas voltas na manete e chovem as bombas de mil libras no convés de voo que destroem três Zeros e 18 Aichi que se preparavam para atacar os porta-aviões americanos que os japoneses souberam que estavam no mar, mas a 175 milhas de distância, porque pouco tempo antes rechaçaram um ataque de aviões torpedeiros.
Segundos depois, o tenente Leslie com 17 SBD lança-se ao porta-aviões Soryu que procurava evadir-se, mas três bombas de mil libras transformam-no num inferno flutuante com bombas e depósitos de combustível a explodirem quase em simultâneo. No hangar da coberta, nove aviões transformam-se em tochas vivas.
Em apenas cinco minutos, os japoneses perderam a Batalha de Midway. E muito mais que isso, perderam a segunda guerra mundial. Passou-se tudo entre as 10h22 e as 10h27 do dia 4 de Junho de 1942. Algumas horas depois, o porta-aviões Hyriu sofre a mesma sorte, não sem que antes os seus 18 Aichi D3A e o ainda experimental Yokosuka D4Y1 conseguissem destruir quase completamente o Yorktown.
Porta-aviões japonês Kaga a arder.
Os cinco minutos de Midway foram a batalha decisiva que Yamamoto tanta ansiava, mas não em seu desfavor. A partir daí nunca mais os japoneses tiveram o poder nos mares e não dispunham de uma gigantesca indústria que pudesse construir novos navios em pouco tempo, enquanto os americanos já tinham nos estaleiros os primeiros porta-aviões da série de 26 unidades da classe Essex, os nove Independence, os 50 Casablanca, os 11 Blogue, os 4 Sangamon e os 23 Commencement Bay. 123 novos porta-aviões estavam na calha, mesmo que a maior parte de tamanho mais reduzido, mas nada que o Japão pudesse emular.
Pode mesmo dizer-se que aquele 4 de Junho de 1942 determinou o destino dos EUA como a maior potência militar do Mundo até aos dias de hoje. Claro, graças à sua capacidade industrial e se não fossem aqueles cinco minutos naquele dia seriam outros.
Se a sorte da batalha tivesse sido favorável aos japoneses, a situação não teria sido muito diferente. Provavelmente, o contra-ataque americano seria mais tardio, a guerra era capaz de ter durado mais uns meses apenas ou mesmo um ano, mas o destino do Japão como da Alemanha estava marcado pelo poder industrial dos EUA.
Nos antecedentes imediatos da vitória americana estão os dois ataques perpetrados pelas esquadrilhas de aviões torpedeiros que redundaram num sacrifício mortal da maior parte dos seus pilotos abatidos pelos Zero que se envolveram também em combates ferozes com os caças F4F que deveriam proteger os torpedeiros. Os combates travaram-se a baixa altitude, tendo os nipónicos levado sempre a melhor, mas gastaram munições e combustível e, principalmente, desguarneceram a altitude que foi de onde vieram os bombardeiros de voo picado de McClusky.
A patrulha de interdição do espaço aéreo das duas esquadras japonesas que pretendiam atacar Midway, respectivamente comandadas pelos almirantes Nagumo e Yamamoto, era constituída por 51 caças Zero nas mãos dos melhores e mais experimentados pilotos japoneses que conseguiram abater 43 aviões norte-americanos. Mas, quando vieram os SBD, os Zeros estavam nos convés dos seus navios com os pilotos exaustos a comer uma pequena refeição de bolo de arroz e chá. Não havia qualquer caça a 3 mil metros de altitude.
Plano Japonês Mal Concebido
O almirante Yamamoto foi quem elaborou minuciosamente o plano de conquistar o Atol de Midway e de obrigar os porta-aviões americanos a travar uma batalha que os levasse à sua completa destruição, tanto mais que contava com dois factores tidos como decisivos: a superioridade numérica dos seus quatro porta-aviões da sua primeira formação contra os dois congéneres que Yamamoto julgava serem os únicos que os americanos tinham no Pacífico e o factor surpresa como no ataque a Pear Harbor.
O almirante japonês embarcou no gigantesco e novo couraçado Yamato de 72 mil toneladas que seguia com outros navios muitas milhas atrás da esquadra dos porta-aviões e respectiva escolta sob o comando do almirante Nagumo.
Tudo parecia ser favorável aos japoneses, pois até os seus aviões embarcados eram superiores aos dos seus inimigos, tanto em qualidade como em quantidade. Na verdade estavam numericamente quase equilibrados com os americanos, 229 contra 234. Além disso, Yamamoto julgava que os norte-americanos sairiam de Pearl Harbor depois de iniciado o ataque ao Atol de Midway, quando na verdade, no meridiano do Pacífico que transforma a quarta-feira do dia 4 de Junho de 1942 em quinta-feira, já os navios de Spruance e Fletcher navegavam a 302 milhas para uma posição planeado pelo almirante Nimitz como sendo de emboscada de flanco, já que esperava a vinda dos nipónicos numa rota de noroeste.
A presença de aviões antiquados no atol de Midway reforçou na mente de Yamamoto a ideia de que estaria a surpreender os americanos e que estes não iriam bater-se com denodo e, logo que avistasse os porta-aviões americanos, os seus aviões os despachariam de imediato para o fundo.
Sucedeu o contrário; a operação não estava devidamente planeada. A poderosa esquadra japonesa vinha dispersa em três formações diferentes divididos em não menos que 16 grupos de navios, sendo a principal a dos quatro porta-aviões de Nagumo com dois cruzadores de batalha, seguida mais atrás por doze navios de transporte que levavam cinco mil homens destinados a desembarcarem nas Midway, escoltados por dois outros cruzadores de batalha rápidos e pelo porta-aviões ligeiro Zuiho. Centenas de milhas mais atrás seguia Yamamoto no Yamato com mais seis couraçados e outro porta-aviões ligeiro, o Hosho.
Para desviar a atenção dos norte-americanos, Yamamoto mandou para as Aleutas uma força constituída por dois porta-aviões ligeiros, o Riuyo e o Junyo com dois cruzadores pesados e dois transportes. Yamamoto admitia que logo a seguir ao bombardeamento de Dutch Harbour nas referidas ilhas, o comando americano seria capaz de desviar um dos seus porta-aviões para defender aquele arquipélago quase desprovido de importância estratégica.
Para além da má organização das formações que compunham a imensa esquadra de Yamamoto, este não contou com a sagacidade de alguns intelectuais ao serviço da marinha americana como o comandante Rochefort e o novelista naval Holmes que ficou conhecido sob o pseudónimo de Alec Hudson.
Aqueles “espíritos de secretária” como eram depreciativamente denominados nos meios navais norte-americanos, dirigiam os serviços de escuta e decifragem Hypo da marinha e até ao dia 25 de Maio tinham descodificado cerca de 90 por cento das cifras nipónicas JN25 que eram bem complicadas pois eram constituídas por quarenta e cinco mil números de cinco dígitos que representavam palavras e frases. Em cada mensagem, o encarregado japonês da cifra escolhia um número qualquer de cinco dígitos e o subtraia do número correspondente à primeira palavra da mensagem. O número cifra seguinte seria subtraído do número seguinte ao escolhido para subtrair a primeira palavra e assim até completar a mensagem. O número chave utilizado no início estava incluído na mensagem para permitir ao recebedor da mensagem descodificar tudo.
A 24 de Maio tomaram conhecimento de todo o plano de ataque a um ponto denominado AF que consideraram que poderia ser o atol de Midway ou as Ilhas Haway, mas ao certo não sabiam. Para confirmar, o novelista naval Holmes lembrou-se de emitir um rádio a dizer que em Midway não havia água potável e que a respectiva aparelhagem para purificar estava avariada.
Pouco depois decifraram uma mensagem japonesa a dizer que em AF não havia água potável. Foi o suficiente, King e Nimitz ficaram conhecedores da táctica a seguir pelos japoneses e já pouco interessava que os homens da Hypo tivessem de iniciar de novo o trabalho de descodificação por os japoneses terem, entretanto, mudado o seu sistema de cifras.
Para além de utilizarem pessoal que conhecia a língua japonesa como os já referidos oficiais, os americanos utilizaram também elementos da banda de música de um dos couraçados afundados no ataque a Pear Harbour. O sentido do ritmo dos músicos levou-os a detectarem com mais facilidade a repetição de certas palavras e letras, a partir das quais se iniciava o processo de descodificação.
Saliente-se que as forças armadas norte-americanas e o Estado em geral estavam bem providos de pessoas de grande nível intelectual e de excelente preparação universitária. A crise capitalista de 1929 e anos trinta levou a que todos os alunos de escolas e universidades preferissem o serviço público ao das empresas privadas tidas como em risco de falência. Assim, a função pública com as forças armadas puderam seleccionar os alunos mais brilhantes das melhores universidades.
Os japoneses nunca deram pela facilidade com que as suas mensagens eram decifradas, nem mesmo quando, a seguir à batalha de Midway, o jornal “Washington Post” relatou o facto. O Japão não chegou a montar um serviço de espionagem ou tinha-o na base de indivíduos de ascendência japonesa residentes nos EUA, os quais foram internados em campos de concentração, pelo que nada puderam fazer, nem sequer ler os jornais americanos.
A importância dos homens dos serviços de comunicações navais no desenrolar da batalha do 4 de Junho de 1942 nunca foi plenamente reconhecida. O comandante Rochefort só foi condecorado com a medalha de serviços distintos, a título póstumo, nove anos após a sua morte, em 1985.
Yamamoto ao ser informado do afundamento dos seus porta-aviões ficou paralisado a olhar para o vazio. Durante mais de meia hora não balbuciou uma palavra e os oficiais do seu Estado-Maior não se atreveram a quebrar o silêncio. Todos pensavam certamente que se em posição de inferioridade relativa os americanos puderam causar uma derrota tão pesada aos experimentados e valentes japoneses, o que acontecerá quando dos estaleiros navais americanos saírem dezenas ou, mesmo, mais de uma centena de novos porta-aviões com milhares de aviões. Nunca puderam imaginar que, naquele dia, os americanos não tinham só dois porta-aviões e que o Yorktown foi reparado, reabastecido e servido com novos aviões em apenas três dias depois dos importantes estragos sofridos no Mar do Coral e da lenta viagem até Pearl Harbour.
O almirante nipónico até pensou que o Entreprise e o Hornet ainda estariam no Pacífico Sul desfalcados de aviões e pilotos e não zarpados de Pearl Harbor bem municiados e equipados com aviões novos e guarnições bem treinadas e frescas.
Os americanos tinham saído a 1 de Junho com três porta-aviões, oito cruzadores e 14 destrutores, além de vinte submarinos, para enfrentar uma esquadra mais de duas vezes superior.
A resistência oposta pelos americanos no atol de Midway também contribuiu para a derrota japonesa. Os vinte e seis caças lá estacionados, 18 Bufalos F2A-3 e 8 Wildcats pouco fizeram, mas o poderoso fogo anti-aéreo abateu 38 aviões atacantes e avariou outros 29. Por sua vez, os ataques das fortalezas voadoras B-17 que levantaram voo de Midway nada conseguiram contra os navios japoneses, dada a tremenda dificuldade em colocar bombas a partir de grandes altitudes em objectos tão pequenos como são os navios.
Ainda sem suspeitar da presença dos navios americanos no mar, Nagumo ordenou outro ataque, dado ter sido informado pelo comandante do primeiro ataque J. Tomonago que a pista não ficara totalmente destruída. O almirante japonês tinha então 33 aviões Aichi equipados com torpedos e bombas anti-navio para atacarem a esquadra americana se aparecesse. Como os seus aviões patrulha nada tivessem assinalado, Nagumo ordenou que os referidos aviões trocassem o material contra navios por bombas contra objectivos terrestres. Pelas 08h00 da manhã, Nagumo é informado que há uma força de cruzadores e destroyers inimigos a navegarem para o Sul. Primeiro ficou alarmado a pensar que pudessem estar por ali porta-aviões, mas depois com a confirmação de que se tratavam apenas de cruzadores ficou aliviado. Só depois é que foi informado que poderia tratar-se também de uma força de porta-aviões, mas nessa altura já os seus Aichi voavam contra o atol. Imediatamente mandou-os regressar, mas era tarde para rearmá-los com torpedos.
Entretanto, Spruance não hesitou, lançou-se ao ataque e inadvertidamente sacrificou os seus aviões torpedeiros e, assim, conseguiu um êxito total com os seus bombardeiros monomotores de voo picado. Se tivesse feito o contrário era capaz de ter tido o mesmo êxito, pois a defesa contra ataques seguidos a alta e baixa altitude é muito difícil, principalmente quando não são simultâneos. Os americanos perderam 16 bombardeiros, talvez porque voaram nos limites dos seus raios de acção e alguns devem ter caído no mar com falta de combustível e outros abatidos pela artilharia anti-aérea nipónica.
Yamamoto, quando foi informado que o último dos porta-aviões, o Hyrui, fora afundado transmitiu para Tóquio uma das maiores mentiras da guerra: “A esquadra americana foi praticamente destruída e o que resta retira-se para Leste”. Nessa altura, o almirante japonês é que dava ordens para bater em retirada, nomeadamente aos quatro cruzadores pesados do vice-almirante Kurita que estavam já a oito milhas do atol. Logo após receberem a ordem para se retirar, o Mogami abalroa o Mikuma na tentativa de se esquivar a um torpedo lançado pelo submarino americano Tambor. Dois dias depois, os SBD americanos afundam o Mikuma e arrasam as superstruturas do Mogami que ainda conseguiu chegar à sua base.
A guerra estava ganha para os norte-americanos desde que passassem sistematicamente à ofensiva e não deixassem os japoneses refazerem uma nova esquadra de porta-aviões. Assim aconteceu, mas muitas batalhas foram travadas com perda inútil de vidas humanas porque os altos-comandos e os políticos nipónicos eram incapazes de ver a realidade dos factos. Os americanos passaram logo à ofensiva ao atacarem pouco tempo depois a ilha de Guadalcanal.
Acrescente-se aqui que uma das causas da derrota japonesa residiu na péssima qualidade dos seus radares tal como dos sistemas rádio dos aviões. A marinha japonesa não dispunha de um sistema de comando e direcção de caças a partir dos porta-aviões que fosse suficientemente capaz de realizar a tarefa.
Os japoneses para além de perderem quatro porta-aviões também perderam 322 aviões com os seus melhores pilotos e 3.500 homens no total.
A 7 de Agosto de 1942, da Força Tarefa 61 com 50 navios desembarcava a Primeira Divisão de Marines em Guadalcanal apoiada pelos aviões dos porta-aviões Saratoga, Wasp e Entreprise. Os aviões marcaram com bombas de fumo vermelho os locais para as barcaças alcançarem a terra firme e os americanos armados com uma nova arma desconhecida dos japoneses iam conquistar a pequena ilha do arquipélago das Salmão. A nova arma secreta era a posteriormente celebrizada “bomba azul”, a primeira lata de spray anti-mosquitos anofeles e outros insectos, o que permitia sobreviver nessa ilha totalmente infestada pelo Plasmodium causador da malária.
Os americanos podiam agora arriscar tudo, pois os japoneses estavam enfraquecidos e dos seus estaleiros começavam a sair a quase centena e meia de porta-aviões que construíram durante a guerra.
Mesmo assim, a luta para conquistar cada palmo de terra foi duríssima porque os japoneses adoptavam uma táctica suicida e combatia até morrer. Mas ali em Guadalcanal, começaram por retirar para o interior da florestas os 750 combatentes que tinham nas proximidades e, bem assim, os dois mil trabalhadores que estavam a construir uma base aérea.
O objectivo americano era o inverso do japonês, mas semelhante. Ambos queriam ter uma base aérea terrestre no arquipélago das Salmão, nomeadamente na pequena ilha de Guadalcanal, relativamente central. As Ilhas Salmão com as Novas Hébridas mais a Sul formam um arco que se estende da Nova Guiné para Sul quase até à Nova Zelândia e que poderia como que fechar o acesso da Austrália aos EUA, obrigando todos os transportes a fazerem uma volta tremenda muito para Sul da Nova Zelândia e depois rumar a Norte, percorrendo o Pacífico todo de Sul para Norte e de Oeste para Leste.
Os japoneses não tinham obviamente capacidade para conquistarem a Austrália, mas o seu objectivo estratégico era isolar a gigantesca ilha para evitar que a partir daí saísse uma ofensiva contra as então ocupadas Índias Holandesas (hoje Indonésia) e Filipinas
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