No fim do Século XIX, surge o torpedo autopropulsionado como arma suprema, tão revolucionária como o submarino que acabara de nascer e começava a ser utilizado pelas principais marinhas do Mundo.
Em 1900, os técnicos de marinha admiravam-se com a eficácia do torpedo ítalo-britânico Whitehead propulsionado por um motor a gás comprimidos e que recebeu posteriormente um giroscópio para manter a direcção. A "inauguração" do torpedo teve lugar em 1887 quando foi lançado pelas forças do almirante russo Makarov contra a canhoneira turca Seif de 2 mil toneladas, afundando-a prontamente, isto na Guerra da Crimeia. Poucos anos depois, em 1891, o torpedeiro rápido Almirante Condell da Marinha do Chile lançou o segundo torpedo em situação real, afundando o couraçado Blanco Encalado de 3.500 toneladas de deslocamento, igualmente chileno, no decurso de um conflito interno que opôs as forças do ditador Balmaceda aos fiéis do Congresso da República. Três anos depois, em 1894, noutra guerra dita civil, outro torpedo do mesmo tipo afundou o couraçado brasileiro Aquidaban de 4.921 toneladas que foi posteriormente recuperado com o nome 24 de Maio, regressando ao nome original depois de uma modernização nos estaleiros alemães Vulkan.
O ataque torpedeiro deu-se na sequência de uma insurreição contra o governo do presidente Fernando Peixoto. O submarino é uma invenção mais antiga, mas só na mudança do Século é que os franceses conseguem realizar o primeiro submersível, o Narval, dotado de todos os requisitos essenciais deste tipo de navio e perduram até hoje como seja o duplo casco e o duplo sistema de propulsão diesel-eléctrico. Os espanhóis que pretendem tere inventado o submarino do tenente Peral, já em 1888 construíram o seu primeiro submarino, o Peral, de 87 toneladas de deslocamento, cujos desenhos e estudos foram iniciados em 1851, mas antes, em 1861 os espanhóis tinham construído um submarino, o Ictineo, movido a vapor e que serviu fundamentalmente como navio de ensaio. Hoje, o primeiro Peral está num jardim de Cartagena como monumento público. Mas é difícil atribuir a paternidade do invento, pois o físico holandês Cornelius van Drebbel construiu em 1624 um submarino a remos que submergiu no Tamisa perante o rei Jaime I que até quis navegar nele. Em 1890, o tenente português Augusto Fontes Pereira de Melo construiu um submarino para ensaios de imersão e habitabilidade que deveria receber posteriormente uma máquina propulsora, só que as autoridades navais cancelaram o projecto e preferiram importar depois do estrangeiro. Na mesma data, o submarino francês Gymnote navegava até 200 milhas propulsionado exclusivamente por um motor eléctrico alimentado por baterias, fazendo 7 nós à superfície e 5 em imersão. Nos EUA, o submarino Holland, construído pela John P. Holland Torpedo Boat Company, continuava as suas experiências. Foi o primeiro submarino com casco em forma gotiforme, prontamente abandonado como tal, quando surgiu o duplo casco destinado a proporcionar uma maior navegabilidade à superfície para voltar a ser utilizado no Albacore muitas dezenas de anos depois.
O Holland foi o primeiro submarino norte-americano, propulsionado por um motor dínamo-eléctrico e um engenho a gás. Estava armado com um tubo para lançar um torpedo Whitehead e outro para disparar um torpedo aéreo. Dizem as más-línguas que teria sido o Holland que torpedeou o couraçado norte-americano Maine na baía de Santiago em Cuba, então colónia espanhola, com o intuito de conseguir para os EUA um pretexto para declararem guerra à Espanha, em 1898, e, assim, apoderarem-se das Filipinas e, indirectamente, de Cuba, como fizeram.
Outra das grandes novidades foi o aparecimento da TSF, cuja patente foi registada pelo génio italiano Giugliemo Marconi em 1894 e em 1890 já era utilizada experimentalmente nalguns navios. Na guerra dos Bóeres foi ensaiada a sua aplicação com fins militares, se bem que sem grande êxito. A turbina a vapor Parsons e o motor Diesel surgiram também na passagem do Século, completando a profunda revolução que se operou nas marinhas de guerra no último quartel do Século XIX em consequência dos grandes progressos da Física desde a mecânica com a cinemática, a estática, a dinâmica e a gravidade à termodinâmica, electricidade e óptica, passando pelas propriedades dos sólidos, líquidos e gases, calorimetria, etc. Enfim, sem as inúmeras descobertas da Física, a civilização da máquina não teria aparecido, a qual não alterou em nada a agressividade humana e a falta de ética que caracteriza o poder decorrente de guerras e conflitos sempre renovados.
Em 1897, um pequeno barco particular, o Turbinia, espantou toda a gente ao ziguezaguear a 34 nós entre os grandes navios de guerra na parada naval que comemorava o Jubileu de Diamante da Rainha Vitória. O pequeno antecessor dos torpedeiros era accionado por uma turbina a vapor de 200 cavalos de força, inventada pelo britânico Charles A. Parsons, que accionava nove hélices em três veios.
Quatro anos depois, os ingleses já tinham um torpedeiro rápido movida com a turbina Parsons, mas que se revelou demasiado frágil para aguentar, a alta velocidade, as vagas alterosas do Mar do Norte. Posteriormente passaram a construir torpedeiros maiores com 540 toneladas de deslocamento que davam então a incrível velocidade de 33 nós. Foi a célebre classe Tribal que revolucionou as marinha de todo o mundo, armada com dois tubos lança-torpedos e 5 peças de 76 mm.
Por sua vez, o motor de combustão interna surge a bordo das primeiras lanchas-torpedeiras construídas em 1904 com 12 metros de comprimento e ainda pouco eficazes. Só no fim da I. Guerra Mundial é que melhoraram o suficiente para se tornarem belicamente mais úteis. Enfim, na viragem do Século, as maiores máquinas e mais complexas eram ainda as máquinas de guerra, tal como tinha sido desde que o homem inventou os primeiros mecanismos baseados em princípios empíricos da Física como o arco com flechas, uma máquina de caça e guerra e a lançadeira de dardos, isto no paleolítico superior. Quase deveremos substituir a nossa auto-denominação de Homo Sapiens Sapiens para Homo Sapiens Bellicus.
O Poder Naval na Transição do Século:
1893
Grã-Bretanha: 48 couraçados; 18 cruzadores couraçados; 54 cruzadores.
França: 30 couraçados; 13 cruzadores couraçados; 19 cruzadores. Rússia: 17 couraçados; 9 cruzadores couraçados; 2 cruzadores.
Alemanha: 7 couraçados; 8 cruzadores. Japão: 1 cruzador couraçado; 8 cruzadores.
1903
Grã-Bretanha: 63 couraçados; 46 cruzadores couraçados; 54 cruzadores.
França: 36 couraçados; 14 cruzadores couraçados; 34 cruzadores.
Rússia: 23 couraçados; 10 cruzadores couraçados; 12 cruzadores.
Alemanha: 36 couraçados; 8 cruzadores couraçados; 8 cruzadores.
Japão: 7 couraçados; 10 cruzadores couraçados; 25 cruzadores.
Em 1900, portanto, os mares e oceanos eram britânicos e, com a recém terminada guerra dos Bóeres, uma parte importante do continente africano, desde a Cidade do Cabo a Alexandria, era britânica. Também grande parte da Ásia e Oceânia faziam parte do maior império que o Mundo alguma vez conheceu, incluindo tudo aquilo que é hoje o Paquistão, Índia Birmânia, Malásia, parte do Bornéu, Austrália, Nova Zelândia, ilhas do Pacífico, além de Hong Kong, concessões na China, ilhas das Caraíbas e o domínio quase autónomo do Canadá.
O poder britânico nos mares nasceu com a derrota da Grande Armada dos Filipes, mas consolidou-se definitivamente após a guerra da Sucessão espanhola em 1713 que assegurou aos britânicos o direito ao "Asiento", ou seja, o monopólio da captura, transporte e venda de escravos africanos para todo o continente americano.
Com a escravatura, a Grã-Bretanha encontrou enfim o negócio extremamente lucrativo que lhe permitiu financiar uma marinha cada vez mais vasta e depois os primórdios da revolução industrial, incluindo muitos avanços da ciência.
Tal como os portugueses encontraram nas especiarias a sua primeira e importante fonte lucrativa e os espanhóis no ouro e prata da América Latina, os britânicos fizeram do escravo a sua especiaria e ouro, conseguindo um importante capital comercial com a exploração do açúcar, algodão, etc., na base da mão-de-obra escrava.
Mesmo assim, a verdadeira riqueza surgiu com a revolução científica e industrial após a abolição da escravatura que atormentou tanto as consciências dos homens de bem britânicos.
De alguma forma, todas as potências europeias e o Japão procuravam na expansão ultramarina ou regional a tal fonte milagrosa de riquezas que permitisse sustentar uma numerosa classe de pessoas abastadas nas respectivas metrópoles, mas só o conseguiram de uma forma limitada.
Acabou por ser o desenvolvimento científico, nomeadamente o da física, com o decorrente progresso tecnológico e industrial a proporcionar a tal riqueza, mas ainda no início do Século havia a ideia de que as riquezas provinham das profundezas da terra ou da superfície se houvesse mão-de-obra suficientemente barata. A própria Grã-Bretanha em pleno auge do seu imenso Império, ganhava mais dinheiro no comércio com a Argentina independente que com todas as colónias africanas e, juntando, os ganhos comerciais com os EUA, Japão e China e outros países como Portugal, Espanha e Brasil, o lucro obtido com os países independentes era imensamente superior ao auferido com todas as colónias e domínios imperiais. O imenso Império da Índia cobria menos de 15% do seu comércio de exportação.
A partir de 1890, a indústria britânica começou a estagnar relativamente aos novos competidores alemães, franceses, japoneses e norte-americanos. Mesmo assim, na mudança do Século, havia a impressão de existir uma economia mundial centrada na Grã-Bretanha, servida pela exportação generalizada dos seus capitais e assegurada pelo controlo absoluto dos mares. Os excedentes populacionais britânicos encontravam todo o tipo de trabalho nas colónias, domínios como o Canadá e Austrália e, bem assim, nos EUA e em quase todos os países do Mundo. A ideia que os britânicos desenvolviam era de que só num império é que um estado-nação pode encontrar a felicidade. Disso até Lenine estava convencido e daí ter feito tudo para manter o velho império czarista sob a sua feroz ditadura e dos seus epígonos após a Revolução de Outubro que deveria libertar os povos dessa "prisão de nações" como era denominado o império pelo próprio Vladimir Ilitch Lenine antes da conquista do poder. Ainda hoje, os descendentes dos revolucionários transformados em bravos capitalistas não querem desfazer-se do pouco que lhes ficou do antigo império.
Em 1900, a Rússia continuava a sua expansão territorial para Oriente, iniciada no Século XVI a partir do principado de Moscovo. Em 1581, o cossaco Iermark Timoteievitch lança-se com 500 companheiros à conquista da imensa Sibéria para Leste, começando por arrebatar ao Kan tártaro de Koutchum o seu reino da Sibéria. O herói cossaco morre num combate junto ao rio Ob, mas outros cossacos ao serviço do Czar Ivan IV seguem as pisadas de Timoteievitch, alcançando o Pacífico nos primeiros anos do Século XVII, quase dois séculos depois de os portugueses chegarem aos mares nipónicos. De qualquer modo, no começo do Século XX, os russos tinham conquistado tudo o que restava dos antigos impérios tártaros e mongóis, chegando ao Estreito da Tartária que atravessaram para conquistar a ilha de Sacalina. Poucos anos antes, precisamente em 1891, os russos iniciam a maior obra de sempre da Humanidade; o mastodôntico caminho-de-ferro transiberiano que em 1901 chega ao lago Baical e pouco tempo depois atravessa a Manchúria para chegarem à cidade de Lochun que se tornou então conhecida por Porto Artur, no extremo da Península de Kwantung no Mar Amarelo, a Ocidente da Coreia e chega a seguir a Vladivostok no Mar Interior do Japão.
Porto Artur ou Lushun com a sua fortaleza foi conquistada pelo Japão na curta guerra que travou com a China em 1895, na qual uma esquadra relativamente pequena do Japão derrotou uma força naval superior da China, provida de cruzadores couraçados. Mas os pequenos cruzadores japoneses com artilharia de tiro rápido levaram a melhor por causa da nítida falta de preparação dos chineses para aproveitar a vantagem táctica e técnica dos seus navios. Os japoneses conquistaram então a Coreia, Porto Artur e parte da península de Kwantung, além da ilha de Taiwan ou Formosa. Só que as potências ocidentais obrigaram os japoneses a retirarem-se de Porto Artur, deixando-os manter apenas relações especiais com a Coreia, mas sem ocupação efectiva. Só a ilha de Taiwan é que ficou integrada no império nipónico. Os russos aproveitaram o ensejo para obter da China a autorização para prolongar a linha do transiberiano pela Manchúria e arrendarem a cidade fortaleza de Lushun (Porto Artur).
cruzador de batalha derflinger
dieter dellinger - arquitetura naval
dieter dellinger - história náutica
dieter dellinger - motores navais
revista de marinha - dieter dellinger
Os meus links
Links Amigos