Aqui o autor - Dieter Dellinger - ex-redator da Revista de Marinha - dedica-se à História Náutica, aos Navios e Marinha e apresenta o seu livro "Um Século de Guerra no Mar"
Terça-feira, 21 de Fevereiro de 2006
A Batalha do Atlântico
Athenia arde torpedeado.gif

O Paquete Athenia arde depois de atingido pelos torpedos de um submarino alemão que o confundiu com um dos muitos paquetes britânicosx transformados em cruzadores auxiliares de bloqueio.

Nas primeiras horas do dia 15 de Dezembro de 1941, o U-77 disparou dois torpedos contra o cargueiro Empire Barracuda do comboio HG76 que de Gibraltar regressava a Inglaterra. Iniciava-se assim uma das mais furiosas batalhas entre submarinos alemães e um comboio bem protegido ao largo das costas espanholas e portuguesas. Pouco depois, o U-77 da classe VIIC de 749/871 toneladas volta a atacar; desta vez contra um petroleiro que encaixa dois torpedos sem se afundar. O submarino continua a sua rota para o Mediterrâneo acompanhado pelo U-74. Simultaneamente, ao largo do Cabo São Vicente, o U-127 (Bruno Hansmann) justifica o nome a que o almirante Dönitz deu ao seu grupo de ataque, “Seeräuber”, piratas, e afunda injustificadamente o navio mercante português Cassequel com 9 passageiros e 48 tripulantes saído de Lisboa rumo a S. Tomé e Angola.

Dönitz ordenou a formação do referido grupo com os U-67, U-107, U-108, U-127, U-131 e U-574, logo que os agentes da marinha alemã, postados na baía de Algeciras, detectaram a saída do comboio HG76 de 32 navios mercantes. A protecção ao comboio era dada pelo Trigésimo Segundo Grupo de Escolta sob o comando do maior especialista de guerra anti-submarina britânico, o comandante Walker com pavilhão no aviso Stork. O grupo era formado pelo porta-aviões de escolta Audacity de 11.000 toneladas com 4 excelentes caças “Martlets”, denominação dada pelos franceses aos 81 F4F-3 “Wildcat” norte-americanos encomendados em 1939, mas que acabaram por ser recebidos pela marinha britânica em virtude da queda da França. Eram excelentes aviões armados com 2 metralhadoras de 7,6 mm e 2 de 12,5 mm e 91 kg de pequenas bombas. Além disso, o com. Walker contava com os destroyers Blankley, Exmoor e Stanley, quatro outros avisos e nove corvetas da classe Flower.

Depois do afundamento do Cassequel, o destroyer Nestor do grupo australiano da Força H, em patrulha na zona, conseguiu estabelecer contacto bélico com o U-127 e despachá-lo para o fundo com uma salva de bombas de profundidade a poucas milhas do Cabo de S. Vicente, mas ainda muito à frente dos navios do comboio HG76 que formavam nove colunas paralelas. No dia seguinte, 16 de Dezembro, um quadrimotor alemão de reconhecimento FW200 detectou os navios de comboio, o que permitiu a Dönitz ordenar um melhor posicionamento dos seus submarinos e acrescentar ao grupo o U-434 para o ataque imediato.

Os U-108 e U-131 procuraram uma posição de tiro, mas foram obrigados a submergir para não serem atacados pelos navios da escolta. Por isso, o U-131 deixou passar o comboio e emergiu à respectiva ré, escolhendo um dos últimos mercantes da linha para atacar, mas que ziguezagueava intensamente. O submarino não conseguiu realizar o ataque e viu-se mais uma vez obrigado a mergulhar para se safar à retaliação por parte dos navios da escolta.

No dia seguinte, o mesmo U-131 regressou à superfície para atacar o comboio. A velocidade imersa de apenas 7,3 nós daqueles submarinos não permitia a perseguição em mergulho. Entretanto, o com. Walker manda o Audacity aproximar-se da zona e pediu que os seus aviões pesquisassem intensamente a área. Descobriram rapidamente o U-131 a 22 milhas do comboio, o que levou Walker a ordenar o ataque com três destroyers e uma corveta. Antes disso, e na iminência de ser atacado por um Martlet, o comandante do U-131, Baumann, ordenou uma imersão de urgência, deixando a aeronave a disparar as suas metralhadoras para o mar. Baumann manteve o rumo de ataque ao comboio, apesar de então verificar que os seus hidrofones estavam avariados. Walker esperava isso do comandante alemão, pelo que deu ordens ao destroyer Blankney da classe Hunt para obter a respectiva confirmação pelo eco do seu Asdic. Efectivamente, Walker sabia que Baumann não se deixaria intimidar por tantas unidades rápidas e aviões, apesar de começar a ser submetido a uma autêntica tempestade submarina de bombas de profundidade. A superfície calma do Atlântico agitava-se violentamente devido às deflagrações de bombas e granadas.

O U-131 foi atingido por explosões junto ao seu casco que abriram pequenas fendas por onde entrou água de modo a provocar avarias nalguns motores eléctricos, enquanto um dos tanques de combustível começou a derramar o precioso líquido para o interior do compartimento das máquinas. O submarino mergulhou rapidamente com uma inclinação de 40 graus, o que agigantou os tormentos da guarnição, mas livrou o navio do impacto directo das cargas de profundidade. As baterias começaram a largar gases venenosos e a iluminação interna deixou de funcionar. Mesmo assim, já nos 180 metros de profundidade, Baumann e a sua tripulação conseguem endireitar o submarino e pôr alguns dos motores eléctricos a funcionar com a máxima velocidade para se afastar da zona de perigo e emergir duas horas depois com o oxigénio interno exausto e no limite da pressão de sobrevivência. Eram 12.20, o tempo estava claro com alguns raios de sol. O U-131 foi imediatamente visto por um dos aviões do Audacity. Já sem possibilidade de fazer uma imersão urgente, os homens do U-131 respondem ao fogo aéreo com as suas peças de 37 mm e 20 mm, respectivamente. O submarino fumegava ligeiramente e o casco apresentava-se muito amolgado, o que fez com que o piloto britânico se aproximasse, convencido que estava da impunidade proporcionada pela sua velocidade de mergulho de mais de 500 km horários. Antes mesmo de os seus tiros desbaratarem o pessoal da torre do submarino, o F4F foi atingido no motor e mergulhou no mar bem junto ao U-131. Mas, já o velho destroyer, ex-norte americano, Stanley, e o aviso Pentstemon se aproximavam para descarregar toda a sua artilharia no U-131 num fogo de barragem de 20 minutos, a que os artilheiros alemães responderam com a peça de 105 mm até esta ser atingida e os deixar desarmados. Baumann ordenou de seguida o abandono do navio pelos 48 membros da guarnição daquele submarino oceânico da classe IXC de 1102/1213 toneladas.

Enquanto a guarnição do U-131 e o cadáver do piloto britânico eram recolhidos, anoitecia, o que dava ao comboio alguma calma com a certeza de que recomeçaria tudo de novo apesar da força tremenda que o comandante Walker dispunha para combater os submarinos nazis. Os submarinos tentavam perseguir em grupo os navios do comboio, navegando à superfície, o que permitia a fácil detecção por parte dos aviões do porta-aviões de escolta Audacity que assim os obrigavam a imergir. Uma vez imersos, os navios de escolta dispunham de coordenadas para detectar a sua presença através do Asdic.



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Avião Focke Wulf
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Avião Focke Wulf Condor utilizado no combate e observação dos comboios aliados no Atlântico. Era um aparelho civil, mesmo o primeiro quadrimotor que podia atravessar o Atlântico com passageiros e não chegou a ser utilizado pela Lufthansa devido à guerra. Depois da guerra, os americanos fizeram um cópia dele com a designação DC-6.



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Batalha do Atlântico - II
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Pequeno porta-aviões de escolta Audacity que levava 4 Martlets (F4F-3 Wildcats) para protecção dos comboios aliados. Foi o primeiro neste tipo de missão. Deslocava 11600t e resultou da transformação do navio de carga alemão Hannover capturado pelos britânicos. Foi afundado por dois torpedos lançados pelo U-751.

A batalha do comboio HG76 foi a primeira em que a aviação actuou com sucesso porque em número suficiente, mesmo que de apenas 4 unidades, mas bem diferente dos únicos aviões lançados de navios mercantes que depois tinham de amarar em condições de autodestruição. Saliente-se, contudo, que os britânicos em 1941 não tinham ainda percebido a vantagem do avião na escolta aos comboios de navios mercantes. Os quatro Martlets estavam aí para enfrentar os quadrimotores alemães Focke Wulf que a partir das suas bases em França procuravam atacar os comboios de navios vindos ou destinados ao Mediterrâneo com tropas e material para enfrentar o Afrika Korps alemão que no deserto líbio combatia os britânicos de Alexander e Montegomery.

Efectivamente, pelas 11.57 do dia 18 de Dezembro, dois caças do Audacity conseguiram pôr em fuga os FW 200 que tentavam observar os movimentos do comboio HG76. A seguir, foi a vez do U-434 ser detectado pelo destroyer Stanley quando surgiu à superfície. A presença do inimigo das profundidades foi prontamente reportada ao comandante Walker. Este ordenou o ataque simultâneo por aquele navio e outros três destroyers. A batalha foi furiosa, o U-434 do com. Heyda disparou um torpedo contra o Stanley que avançava a 24 nós, mas não acertou, e, logo de seguida, mergulhou para acabar por ser rodeado pelos destroyers que lançavam grupos de 14 cargas de profundidade ajustadas para explodirem a 50 e 100 metros de profundidade. O U-434 é atingido, a escotilha da torre é destruída e a câmara de comando inundada enquanto o sistema eléctrico sofre graves avarias. Ao fim de 40 minutos de resistência, o U-434 emerge para permitir o abandono por parte dos membros da guarnição.

Nos quatro primeiros dias da batalha do HG76, o grupo de ataque “piratas” perde três submarinos, mas os restantes não desistiram de travar a luta até ao fim. Pelas 2 da madrugada, o U-574 (Com. Gengelbach) aproxima-se do comboio e, ao luar, vislumbra o aviso Stork e o destroyer Stanley que se lança de imediato ao ataque, enquanto o submarino dispara dois torpedos. Na ponte de comando do Stanley viram os torpedos, mas julgaram que não seriam atingidos. Erro de visão, um dos torpedos atinge o destroyer, provocando uma violenta explosão seguida de incêndio e rápido afundamento do navio.

Walker ordena de imediato o ataque conjunto ao U-574 que mergulha rapidamente, mas sem se safar do contacto asdic, pelo que é avariado depois de sujeito a uma tempestade de cargas de profundidade. Este emerge e à superfície sofre a tentativa de abalroamento pelo Stork que navegava a 180 metros de distância. Com uma rapidez incrível, a tripulação do U-574 consegue fazer arrancar os motores diesel e a alta velocidade evitar a colisão, enquanto os restantes destroyers abrem fogo com resposta alemã. O combate trava-se a uma distância tão curta que um dos atacantes consegue atingir com metralhadoras Lewis o pessoal da torre do submarino. O capitão-tenente Gengelbach acaba por ordenar a evacuação do submarino que se afunda a seguir. Só sobreviveram 16 dos 44 homens da guarnição do U-574 da classe VIIC de 749/851 tons. O próprio Gengelbach pereceu na refrega.

Quase ao mesmo tempo em que se travou o combate com o U-574, o U-108 (Com. Scholtz) consegue torpedear o cargueiro Ruckinge de 2.869 tons., iluminado como estava pelas salvas e foguetes luminosos disparadas no decurso do combate anterior e que seguia na coluna de bombordo do comboio. Muito avariado, o navio acaba por ser abandonado e afundado pela tripulação. Minutos depois, o U-108 consegue torpedear outro navio mercante, sem o afundar. Pelas 9.00 da manhã, dois caças Martlets do Audacity conseguem interceptar dois quadrimotores Focke-Wulf e abater um deles, o que não foi difícil, dado tratar-se de um excelente avião civil, convertido para o ataque a longa distância e observação de alvos navais, mas desprovido de capacidade de resposta a ataques perpetrados por caças. Os alemães nunca tiveram bombardeiros quadrimotores nem aviões militares de longo raio de acção pelo que converteram o Focke Wulf 200 para os referidos fins, utilizando um número diminuto de aparelhos e praticamente só no mar.

Pouco depois, outros dois FW200 aproximam-se do comboio a baixa altitude e são atacados pelos F4F-3. No rodopio que se seguiu, um dos caças embate num FW que é abatido pelo seu companheiro. O F4F-3 a arder ainda consegue poisar na pista do Audacity. Apesar de já ter perdido quatro submarinos, do seu posto de comando em Lorient, o almirante Donitz ordena que os três submarinos U-71, o U567 e o U751 se juntem ao grupo Seeräuber, designando como alvo principal o porta-aviões de escolta Audacity.

Na noite de 21 para 22 de Dezembro, o U-567 consegue torpedear o cargueiro norueguês Annavore cheio de minério de ferro e que desaparece no espaço de um minuto. Pouco depois, aproveitando a confusão do combate nocturno dos navios de escolta contra os submarinos atacantes, o U-751 (Com. Bigalk) ouve nos seus hidrofones ruídos intensos que presume serem do comboio. Emerge e vislumbra a linha de destroyers e mais longe uma longa silhueta negra. Na torre, Bigalk julga ver um petroleiro, mas pouco depois verifica que se trata antes do Audacity que ziguezagueava. Aproxima-se mais um pouco à superfície, arriscando ser detectado pelos holofotes que pesquisavam toda a zona. Mas não, pelas 20.36 dispara quatro torpedos, um dos quais atinge o porta-aviões. Sem se perturbar com a pronta reacção da escolta, Bigalk ordena o rearmamento dos tubos, o que é feito em dez minutos, e lança-se de novo ao ataque por julgar que o Audacity não estava ferido de morte, mas que teria sido só atingido à ré nos lemes. Pelas 21.55, o U-751 aproxima-se do conjunto porta-aviões e escolta e dispara mais dois torpedos. Um deles acerta a meio do navio e provoca uma violenta explosão. Logo a seguir vê as corvetas Marigold e Convolvus lançarem-se de frente ao ataque, o U- 751 fez meia volta e a toda a velocidade consegue escapar à perseguição por parte das lentas corvetas da classe Flower.

Sorte igual não teve o U-567 (Com. Endrass) que imprudentemente se aproximou das escoltas do comboio na tentativa de atacar à superfície. Prontamente iluminado pelos holofotes dos destroyers Deptford e Stork imerge de súbito, para se tornar num alvo das cargas de profundidade. Pouco depois, uma violenta explosão submarina sinalizou o fim daquela unidade comandada por um dos mais experientes e condecorados oficiais da arma submarina alemã.

Na noite do dia 23 de Dezembro, o comboio chega às ilhas britânicas. Os combates travados em parte ao longo da costa portuguesa custaram cinco navios mercantes, um porta-aviões de escolta e um destroyer aos britânicos e 5 submarinos aos alemães.

A batalha do HG76 foi paradigmática dos violentos e mortíferos combates travados pelos submarinos alemães em torno dos gigantescos comboios que atravessavam o Atlântico ou navegavam para o Mediterrâneo ou para o Árctico levando material bélico para a defesa da União Soviética. Todavia, os submarinos do Reich preferiam o Atlântico central para o combate à navegação aliada e tinham como objectivo estratégico a interdição das águas britânicas aos navios oriundos dos EUA com armas e víveres e igualmente a interdição dos portos de Murmansk e Arcangel aos socorros materiais fornecidos pelos aliados ocidentais à URSS.



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Segunda-feira, 20 de Fevereiro de 2006
Caça Americano F4F-3 Wildcat
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Caça F4F-3 Wildcat iguai aos Martlet utilizados na Batalha do Atlântico



publicado por DD às 23:48
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Cockpit do F4F-3 Wildcat
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Cockpit do F4F-3 Wildcat (Martlet) utilizado no porta-aviões Audacity.



publicado por DD às 23:43
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Submarino Alemão
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Guarnição de um submarino alemão prepara a peça de 88 para o tiro



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Comboio Aliado
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Comboio Aliado com Dirigível de Vigilância



publicado por DD às 23:31
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O Submarino Alemão
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Submarino Tipo XXI.

A Alemanha entrou na guerra em Setembro de 1939 com 57 submarinos organizados em seis flotilhas. Todavia, só 32 unidades destinavam-se ao combate no mar alto, pois os restantes 25 eram submarinos costeiros do tipo II (250 toneladas). Daí que quase não se possa falar de autêntica guerra submarina até Março de 1941, data a partir da qual se intensificou verdadeiramente a pressão naval germânica contra a navegação atlântica dos aliados, ou mais concretamente da Grã-Bretanha. Foi mesmo a 6 de Março de 1941 que W. Churchill, em discurso pronunciado nos Comuns, utilizou pela primeira vez o termo Batalha do Atlântico, referindo não a luta iniciada em Setembro de 1939, mas a sua intensificação a partir das medidas tomadas pelo seu governo para a guerra anti-submarina.

No essencial, a Alemanha nazi travou toda a referida batalha com submarinos resultantes de melhoramentos dos seus congéneres da I. Guerra Mundial, não tendo chegado a utilizar os novos modelos que chegaram aos mares quando a guerra estava praticamente terminada.

O submarino da Batalha do Atlântico era mais um submersível que um verdadeiro submarino como hoje é concebido. Navegava quase sempre à superfície e em imersão era lento com uma reduzida autonomia. Fundamentalmente, Dönitz promoveu o Tipo VII que começou com o VIIA a título experimental, seguido do VIIB de 1938-1941, VIIC de 40-44, VIIC de 41, VIIC de 42, VIID lança-minas e VIIF de abastecimento de torpedos, todos destinados essencialmente ao combate oceânico.

Os VIIB eram já excelentes submarinos de 741/843 toneladas a contrariar as ideias vigentes então na Kriegsmarine (Marinha de Guerra Germânica) de seguir o desenho do cruzador submarino de 1918.

Dönitz, um experiente comandante de submarinos da Grande Guerra, impôs a sua visão ao defender a construção de unidades com uma tonelagem muito menor que a dos cruzadores-submarinos. Obteve assim barcos muito mais manobráveis e rápidos na imersão e emersão, além de susceptíveis de serem construídos em grande quantidade. O armamento principal era constituído pelos quatro tubos lança-torpedos da proa e um da popa com um total de 14 torpedos de 533 mm de diâmetro. Para o combate de superfície vinham equipados com a peça alemã de 88 mm para objectivos navais L/45C35 e a peça antiaérea de 20 mm C 30. A autonomia à superfície atingia as 8.700 milhas e a velocidade máxima emerso rondava os 17 nós e em imersão os 7,6 nós, graças a dois diesel e dois motores eléctricos de 1400 / 375 cavalos-vapor. Claro, tanto a velocidade de cruzeiro como a de prudência eram bem menores. A a guarnição totalizava 44 elementos.

Os restantes modelos do tipo VII divergiam pelo ligeiro aumento da tonelagem e dimensões. Só o VIIC/42 deslocava 983/1082 toneladas e mais 1,6 m de comprimentos, atingindo os 68,7 m. Por isso, transportava 16 torpedos e deveria ser armado com 8 peças AA de 20 mm, mas das 176 unidades encomendadas nenhuma chegou a entrar em combate.

Os submarinos de maiores dimensões e mais adequados para operarem a grande distância das bases foram do Tipo IXA, B, C, C/40, D-1, D-2, D/42 e XB. Eram unidades de 1016/1135 toneladas de deslocamento na primeira versão e 1590/1775 nas versões D-2 e D/42. Transportavam 22 torpedos para 4 tubos de proa e 2 de popa, além de uma peça de 105 mm/ 45 calibres, uma de 37 mm e outra de 20 mm, ambas AA. À superfície faziam 18,2 nós e em imersão 7,7 nós.

Para permitir a construção em massa de submarinos, a Alemanha limitou-se a desenvolver, depois de 1935, submarinos bem construídos, mas isentos de avanços técnicos de ponta relativamente aos seus congéneres da I. Guerra Mundial. Já durante o conflito e em função dos ensinamentos da prática bélica foram introduzidas melhorias. A mais importante foi, sem dúvida, o aumento da profundidade de imersão do Tipo VIIC sem recurso a novo desenho do casco. O respectivo casco principal foi reforçado com chapas de 21 mm, o que permitiu aumentar em cerca de 20% a profundidade de imersão que assim atingiu os 250 metros máximos com a cota de 300 m tida como de colapso do casco. Estudos posteriores ao conflito mostraram, contudo, que essa profundidade seria antes de 280 m.

Simultaneamente aumentou-se sempre a resistência dos cascos às ondas de choque provocadas pelas cargas de profundidade, nomeadamente pela não instalação de qualquer equipamento directamente ligado às chapas do casco, preferindo-se a ligação a elementos estruturais. A estrutura anelar recebeu ainda materiais absorvedores do choque incluindo molas para fazer a ligação da chaparia ao esqueleto dos submarinos. Isto porque adivinhava-se que muitos submarinos alemães se afundaram sem entrar em colapso, por via da paralisação de máquinas ou outros equipamentos técnicos fundamentais do barco.

Muitas guarnições tiveram de suportar uma morte lenta e atroz até consumirem todo o oxigénio de reserva sem qualquer hipótese de serem salvas. Foi-se mesmo ao ponto de construir um protótipo de submarino verdadeiramente resistentes às ondas de choque provocadas pelas cargas de profundidade. Foi o U-1063 do Tipo VII-C/41 que entrou ao serviço em Julho de 1944.

No decurso do conflito, o tempo de imersão passou dos iniciais 30 segundos nos Tipo VII e 40-50 dos IX para 15 segundos e depois reduziu-se ainda mais nos novos e revolucionários cascos dos submarinos XXI e XXIII que não chegaram a ter uma participação muito activa no conflito, dada a data tardia em que foram incorporados na marinha do Reich.

Com o desenvolvimento do radar, a navegação à superfície foi-se tornando cada vez mais perigosa e, como tal, a carga das baterias. Mas, só relativamente tarde, pois só em Fevereiro de 1944 é que entraram em combate os primeiros submarinos dotados dos tubos de entrada de ar para motores diesel e escape com o submarino imerso à chamada profundidade periscópica, equipados, portanto com o sistema Sacharem, um invento holandês de que os alemães tomaram conhecimento em 1940, mas começaram por considerar o referido dispositivo como desprovido de interesse. Contudo, quando a guerra terminou, 343 submarinos alemães estavam equipados com os Schnorkels, resultantes do desenvolvimento do sistema holandês.

Para além dos dois modelos básicos de combate, a arma submarina alemã operou ainda uma série de submarinos petroleiros Tipo XIV-U com 4 torpedos, 432 toneladas de combustível para reabastecer as unidades de combate, além de víveres e outros meios de assistência. Eram denominados de vacas leiteiras. Os dez barcos deste tipo incorporados na marinha do Reich tiveram uma actividade intensa e proporcionaram a actuação de submarinos pequenos como os do Tipo VII em águas distantes como as das Caraíbas e costas sul-americanas e aos do Tipo IX a presença no Oceano Índico.

Os submersíveis alemães que travaram quase toda a chamada Batalha do Atlântico não eram instrumentos de combate revolucionários relativamente a 1918, mas, em compensação, a táctica da sua utilização em combate foi totalmente diferente.

Como se viu no combate travado contra o Comboio britânico HG 76, Dönitz comandava as suas flotilhas quase como um almirante embarcado, se bem que a partir do seu posto de comando em Lorient, na França. A evolução da rádio permitiu isso, tal como a fé injustificada na sua máquina de cifrar mensagens Enigma M, além da observação aérea por parte dos quadrimotores Focke Wulf 200 Condor.

O essencial da táctica de Dönitz consistiu no ataque em quantidade perpetrado pelos submarinos contra os grandes comboios escoltados que atravessavam o Atlântico com meios humanos e materiais para as frentes europeias. Também os comboios de navios vazios interessavam, dado que o principal era abater a capacidade de transporte aliada, a guerra à tonelagem, como dizia o almirante. Para o efeito, Dönitz obteve a aquiescência do ditador alemão para a implementação de uma armada de 400 submarinos, dos quais uns 70 seriam de instrução e treino.

Em Setembro de 1939, foi cancelado o chamado Plano Z de dotação da Marinha nazi de um vasto conjunto de unidades de superfície, enquanto se encomendam 164 novos submarinos aos principais estaleiros alemães. No fim de 1939, 38 novos barcos submersíveis estavam em construção, 90 no primeiro semestre de 1940, outros 94 no segundo semestre e no fim de 1941, 253 submarinos tinham sido construídos ou estavam em construção.

A ideia de Dönitz era ter uma centena de submarinos em operações no Atlântico, pois nos primeiros dez meses do conflito não conseguiu ter mais de 12 barcos na frente atlântica. Então, por cada dez barcos em operações, 23 estariam em manutenção. Depois da queda da França, a marinha germânica ocupou as bases de Brest, Lorient, Saint-Nazaire, La Palice e Bordéus, às quais já tinha podido juntar os inexpugnáveis fiordes noruegueses.

Assim, a relação de barcos em manutenção para os em operação sofreu uma queda para 18 por cada 10 em combate, o equivalente a um aumento de 22% de unidades efectivas, dada a redução do tempo de viagem entre as bases alemãs em França e o Atlântico central.

O chamado método de Dönitz foi evoluindo com a prática, a começar pela avaliação da dificuldade em detectar um comboio no Atlântico, apesar de serem constituídos por 30 a 70 navios com saída semanal ou quase. Os comboios de navios lentos traziam as iniciais SC e os rápidos HX. E era no Atlântico central muito longe das costas e fora do raio de acção da maior parte dos aviões que Dönitz preferia ver os seus submersíveis atacarem.

Cada um dos barcos alemães tinha uma quadrícula determinada de Oceano para patrulhar, mas logo que detectasse a presença de navios mercantes de um comboio transmitia via rádio cifrada para o comando de Dönitz em Kernevel, perto de Lorient. A partir daí, Dönitz dava ordens para os submarinos próximos formarem uma flotilha de ataque que na gíria denominava de “alcateia de lobos”. Cada uma destas flotilhas de circunstância recebia uma denominação e era comandada pelo próprio Dönitz em geral, o qual, por vezes, organizava outras flotilhas semelhantes para manterem o ataque a um dado comboio depois de a primeira se retirar ou para reforço desta.

Só depois de se aproximarem em número suficiente é que os submarinos de Dönitz recebiam ordens para atacarem. E faziam-no quase sempre de noite, navegando à superfície. O submarino era um excelente navio furtivo praticamente invisível de noite, mesmo ao radar, quando se esgueirava por entre as colunas dos amedrontados navios mercantes e à superfície tão pouco eram vistos pelo Asdic dos destroyers e corvetas das escoltas dos comboios, emissores de ultra-sons de baixa frequência que detectavam a presença de submarinos imersos por reflexão. O Asdic britânico passou a ser utilizado em 1940, antes de designar-se Sonar com o aparecimento da aparelhagem norte-americana. Fundamentalmente era um emissor e um projector de quartzo que transformava as ondas eléctricas em ondas acústicas que avisavam também o submarino que estava a ser detectado pelo ping que ecoava pelo casco. De noite, o submarino estava mais bem protegido à superfície que imerso. Depois, com o aparecimento do radar centimétrico, os dias do submarino emersos passaram a estar contados, mas antes disso, os aliados perderam milhares de navios.

Logo no início, e mesmo ao longo de todo o conflito, um dos grandes inimigos do submarino foi, sem dúvida, o espectro electromagnético resultante das suas transmissões rádios. Tanto as bases em terra britânicas como os navios das escoltas detectavam a origem das emissões pelo radio-goniómetro HF/DF de High Frequence Direction Finding. Para além de detectarem a presença de submarinos em emissão rádio, os descodificadores de Blatcheley-Park conseguiram traduzir as mensagens cifradas pela máquina Enigma que antes da guerra chegou a ser vendida para fins comerciais. Claro que nem sempre a tradução podia ser transmitida pelo Teleprinter Ultra para o Submarine Trucking Room da Royal Navy com celeridade suficiente para ter algum efeito prático. E também não servia de consolo saber que dez a quinze submarinos estavam a atacar um comboio que podia ver o seu curso alterado, mas não de uma forma suficientemente furtiva para escapar com êxito à caça das flotilhas de submarinos que atacavam como autênticos tubarões desesperados pela fome. Mesmo assim, muitos comboios foram desviados a tempo e livraram-se dos devastadores ataques dos U-Boote germânicos.

Na guerra das cifras, a vitória pendeu largamente para o lado britânico, principalmente quando a 9 de Maio de 1941, o tenente Balme do destroyer Bulldog entrou no submarino U-110 antes de se afundar e conseguiu capturar o código Hydra e uma máquina Enigma M de oito rotores, utilizada pela marinha germânica, portanto com mais três rotores de cifragem que os modelos do exército e da força aérea. O código capturado permitiu aos britânicos a penetração em muitas das comunicações secretas da marinha germânica, mas não em todas, dado que o “Hydra” era apenas um dos trinta sistemas de cifragem utilizados pelos marinheiros alemães.

Dönitz acreditava que a guerra seria ganha ou perdida no Atlântico, nomeadamente na interdição do acesso à Europa, logo à Grã-Bretanha e à União Soviética, dos enormes recursos em meios materiais e humanos dos EUA e Canadá. Para tal, a batalha seria contra a tonelagem; era preciso afundar mais navios mercantes do que aquilo que os estaleiros aliados podiam construir. E estiveram quase a consegui-lo.

Em 1942, os submarinos germânicos e italianos afundaram 1.160 navios com 6.266.215 toneladas brutas e os aviões da Luftwaffe e os navios de superfície elevaram esse total para 7.790.697 TBR. No mesmo ano, os estaleiros aliados ficaram-se sensivelmente pelos 7 milhões de toneladas de novas construções. E se considerarmos que uma parte importante desses navios vinham carregados, o desgaste material, nomeadamente em termos de armamentos, superava tudo o que tinha acontecido nos próprios campos de batalha, mas sem qualquer relevo para o curso da própria guerra.

Para conseguir tão violenta depredação nas marinhas mercantes aliadas naquele ano de 1942, a arma submarina alemã perdeu 88 barcos, ou seja, 8,9 por cento das unidades em combate. No fim de 1942, a “Kriegsmarine” contava com 393 submarinos, dos quais 212 estavam em operações contra os aliados. Em Outubro desse ano, três submarinos IXC operaram no Oceano Indico e perturbaram de tal modo a navegação local que o porto de Lourenço Marques chegou a estar fechado.

Apesar dos êxitos espectaculares conseguidos no ano de 1942, Dönitz não conseguiu impedir a operação Torch, nem o serviço de escuta alemão, o B-Dienst, chegou sequer a perceber o que estava a acontecer. Os aliados fizeram passar grande número de transportes bem protegidos para Gibraltar enquanto expunham à fúria predadora dos U-Boote de Dönitz o comboio SL 125. Em sete dias de combates furiosos, os submarinos afundaram 11 navios a deslocarem 72 mil toneladas, sem registarem qualquer baixa. Simultaneamente, davam a conhecer as suas posições, permitindo aos transportes de tropas afastarem-se e chegarem sem perdas a Gibraltar de onde partiram para desembarcar no Marrocos e abrir uma segunda frente a Ocidente que rapidamente liquidou o Afrika Korps sob o comando do Marechal Rommel. A resistência alemã no Norte de África ainda durou algum tempo por ter tirado proveito da terrível falta de experiência bélica do exército de terra norte-americano.



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Domingo, 19 de Fevereiro de 2006
Submarino Alemão Tipo XXI
XXI-s.jpg

O Tipo XXI juntamente com o XXIII revolucionaram o desenho e a engenharia do submarino em si, determinando os padrões técnicos que vigoram até hoje nos submarinos diesel-eléctricos.

O XXI deslocava 1595t/1790t e atingia a velocidade extraordinária para a época (1944-45) de 15,6 nós em imersão e 17,2 à superfície. Levava 6 tubos com uma dotação de 23 torpedos. Estava equipado com um importante dispositivo electrónico como os radares FuMo61 e FuMB4 e bons detectores passivos de ondas sonoras e electromagnéticas. A grande alteração relativamente ao Tipo VII teve a ver com um desenho aquodinâmico com o desaparecimento do canhão e de todas as superestruturas que causavam atrito.



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Submarino Alemão Tipo VIIB
VIIB.jpg

Submarino VIIB. O Tipo B não foi o mais construído, pois só sairam cinco unidades dos estaleiros. Serviu antes para dar origem ao VIIC, o verdadeiro submarino alemão de toda a II. Guerra Mundial. Os Bs foram incorporados entre 1938 e 1941; deslocavam 741t/843t com cinco tubos lança torpedos com uma dotação de 14 torpedos. Também estava armado com uma peça de 88 mm e um de 20 mm.



publicado por DD às 23:41
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