O Couraçado Gneisenau
A escuridão fria da noite sem luar do 11 de Fevereiro de 1942 envolvia o porto francês de Brest quando a força naval alemã sob o comando do vice-almirante Otto Ciliax levantou ferro. Só os incêndios deixados pelos recentes bombardeamentos iluminavam de longe os céus. As tripulações do chamado esquadrão de Brest não sabiam qual o objectivo da operação, admitindo tratar-se de mais um exercício. Os ingleses tinham um certo conhecimento do que se iria passar, mas não acreditavam que aquela formação pretendesse atravessar o Canal da Mancha a pouca milhas das costas inglesas e em pleno dia.
Ciliax pensou, e neste caso bem, que há que contrariar a lógica e fazer o que o inimigo não espera e, por isso, zarpou de noite, sem que os ingleses soubessem ao certo se tinha ou não saído. Contudo, pouco antes da hora de partida, 23.00, os bombardeiros da RAF lançaram as suas bombas sobre o porto na esperança de destruírem os navios alemães aí ancorados. Há quase um ano que o tentavam conseguir sem resultados dada a forte oposição das peças antiaéreas alemãs de 88 mm, os balões de barragem e os aviões de caça que não permitiam o ataque diurno e, como tal, mais preciso. Os habitantes franceses de Brest voltavam a pagar a factura, pois as bombas caíam sempre nos bairros limítrofes do porto e não eram poucas, pois em 1941 três quartos da tonelagem em bombas lançadas pelas unidades do “Bomber Command” destinaram-se a destruir três navios de guerra sem qualquer sucesso, mas confirmando a teoria da “fleet-in-beeing” de que unidades navais podem fixar meios inimigos mesmo sem actuarem.
Assim, logo que os últimos bombardeiros britânicos se perderam no horizonte, os couraçados Scharnhorst e Gneisenau com o cruzador pesado Prinz Eugen, acompanhados por uma escolta de contratorpedeiros, iniciaram a navegação pelas áreas previamente desobstruídas de minas. Ao longo do canal, os alemães colocaram 250 caças Messerschimtt MF-109 e Focke-Wulf para protegerem os seus navios dos ataques por parte dos Swordfish escoltados pelos caças Spitfire e Hurricane. Apesar de saberem que algo do género se ia passar, os ingleses não conheciam a data certa de partida e passagem pela Mancha, pelo que só pelas 11 horas da manhã seguinte, dois Spitfires descobriram os navios enquanto tentavam escapar à perseguição movida por dois caças nazis. Provavelmente viram igualmente as numerosas lanchas rápidas do tipo S e mais contratorpedeiros alemães em missão de protecção. Restavam só seis horas de luz do dia para os ingleses lograrem afundar o esquadrão alemão, tempo reduzido para fazer chegar navios de linha, mas suficiente para um ataque aéreo.
Um Swordfish de Museu totalmente recuperado.
O tenente Esmonde comandou uma primeira esquadrilha de seis Swordfish que deveriam lançar os seus torpedos contra os poderosos navios alemães. Os caças alemães não conseguiam, na sua primeira passagem, acertar nos lentos aviões de duas asas que já pertenciam à história da aviação, mas acabaram por reduzir a velocidade e abatê-los um a um. O primeiro ataque foi um autêntico suicídio só com a protecção de 10 Spitfires que se envolveram rapidamente em combate com os caças germânicos. O avião de Esmonde recebeu algumas balas tracejantes que deixaram parte da carlinga a arder. O metralhador e marinheiro Clinton saiu do seu posto e, agarrando-se aos cabos de sustentação das asas, foi apagar o fogo com as luvas, mas sem sucesso, pois o avião acabou por ser abatido como todos os outros da esquadrilha e de outras mais, além de numerosos caças. O corpo de Esmonde deu à costa do Kent meses depois para ser sepultado com a Victory Cross concedida a título póstumo.
Enquanto os pilotos se entretinham em violentos combates aéreos, o esquadrão alemão afastava-se a 30 nós de velocidade. Chegaram salvos ao rio Elbe, mas, tanto o Scharnhorst como o Gneisenau foram tocados por minas que não lograram danificar suficientemente os seus cascos para impedir a flutuação e o avanço.
Os couraçados alemães no Canal da Mancha
Cumprira-se assim a ordem de Hitler de fazer regressar à Alemanha aquele conjunto de navios que estiveram meses e meses em Brest depois de terem executado diversos raids contra a navegação aliada no Atlântico. O objectivo era reforçar as forças estacionadas nos fiordes da Noruega para atacarem os comboios de navios que levavam quantidades fenomenais de material de guerra e abastecimentos à União Soviética, então a braços com a poderosa máquina invasora nazi. Os almirantes alemães começaram por considerar a operação como demasiado perigosa, já que admitiam que os aviões britânicos pudessem afundar os navios alemães, mas Hitler sabia que isso também acabaria por acontecer em Brest, pelo que preferiu arriscar.
O êxito alemão foi fugaz, só o Scharnhorst conseguiu chegar à Noruega para prosseguir as suas operações militares, pois o Gneisenau foi bombardeado em Kiel para ser depois levado para o Báltico onde acabou como navio de bloqueio. O cruzador Prinz Eugen sobreviveu à guerra para ser levado pelos americanos para o Pacífico onde foi afundado em ensaios nucleares.
A proeza da marinha alemã serviu na altura como instrumento de propaganda nazi, tanto mais que os britânicos se sentiram profundamente humilhados por a sua marinha não ter feito frente a três navios poderosos e não chegaram a saber que as suas minas danificaram um pouco os costados daqueles navios. A “Royal Navy” receou o poder da “Luftwaffe”, pelo que se manteve nos seus portos abrigados do norte da Grã-Bretanha.
Mas, em termos práticos nada sucedeu, já que a marinha de superfície alemã era quase inexistente quando comparada com as marinhas inglesa e norte-americana. Mas, a “vingança” britânica surgiu a 28 de Março do mesmo ano, quando o velho contratorpedeiro de quatro chaminés Campbeltown entrou carregado de explosivos pelo estuário do Loire até embater na comporta da doca seca de St. Nazaire, onde o gigantesco paquete francês Normandie foi construído. Abandonado pela tripulação que ao abrigo do nevoeiro e da escuridão conseguiu escapulir-se, o contratorpedeiro foi pelos ares no dia seguinte, fazendo grande número de vítimas entre os alemães e franceses; a doca seca ficou gravemente danificada. O objectivo britânico era esse mesmo, ou seja, evitar que a única grande doca seca existente nas costas atlânticas francesas pudesse servir para reparações no couraçado Tirpitz que na altura se encontrava nas costas da Noruega. Os ingleses temiam que saísse para o Atlântico para reeditar a aventura do Bismarck, eventualmente com os couraçados de bolso Scheer e Lützow e com o cruzador pesado Hipper, todos então já a operarem a partir dos bem abrigados fiordes noruegueses.
Na verdade, aqueles navios alemães destinavam-se a atacar os comboios do Árctico que ao longo de uma perigosa rota de duas mil milhas da Islândia a Murmansk, no Mar de Barents, com passagem ao largo do Cabo Norte na Noruega levavam tudo o que a máquina de guerra soviética necessitava, incluindo muitos bens alimentares e roupas para as populações civis. Roosevelt e Churchill tentavam assim apaziguar a ira de Estaline que exigia constantemente a abertura de uma segunda frente em França.
A partir da Primavera de 1942, a marinha de guerra alemã reuniu uma importante força naval com vista a interferir no tráfico dos comboios aliados para Murmansk. O poderoso couraçado Tirpitz de 42.900 toneladas e oito peças de 380 mm iniciou os primeiros ataques aos comboios aliados, acompanhado pelos couraçados de bolso Scheer e Lützow, além do cruzador pesado Hipper, e por muitos contratorpedeiros. Em Maio, o comboio PQ 16 perde sete dos seus 44 navios e, bem assim, os cruzadores Edinburgh de 10.550 tons. e 12 peças de 6 polegadas e Trinidad de 8.530 tons. O Edinburg foi afundado pelo submarino U-456 e o Trinidad por uma bomba dias depois de ser atingido por um dos seus próprios torpedos disparado contra navios alemães.
O Couraçado Tirpiz
O êxito obtido contra o PQ 16 levou o comando naval nazi a gizar a operação “Rosselsprung” contra o comboio seguinte, o PQ 17 que zarpou de do Hvalfjord na Islândia a 27 de Junho de 1942 com 33 navios mercantes escoltados por seis contratorpedeiros, dois cruzadores antiaéreos, dois submarinos e 11 corvetas, além de alguns draga-minas. Uma protecção distanciada era proporcionada pelo couraçado britânico Duke of York e pelo novíssimo couraçado norte-americano Washington de 44377t e 9 peças de 406 mm e, bem assim, pelo porta-aviões Victorious de 23000/28620 ton. com cerca de 50 aeronaves
Os alemães iniciaram as operações de ataque logo que os aviões de observação e submarinos detectaram a presença do comboio PQ 17 ao largo das ilhas de Jan Mayen a 1 de Julho. Os aviões da “Luftwaffe” iniciaram três dias de ataques, provocando o afundamento de dois navios mercantes e avarias num petroleiro soviético, enquanto o Tirpitz recebia ordens para se juntar ao Scheer e ao Hipper com o objectivo de atacarem o comboio. Receosos de um choque violento com os navios nazis, o Almirantado britânico ordenou ao contra-almirante Hamilton, o comandante dos cruzadores da escolta do PQ 17, que se retirasse com a sua força e, pouco depois, que o comboio PQ 17 se dispersasse. Os navios deveriam demandar imediatamente e por sua conta os portos soviéticos.
O súbito abandono do teatro de operações por parte do cruzador Norfolk de 9.925 tons. e 8 peças de 203,6 mm, acompanhado pelos restantes navios da Royal Navy, deixou os navios mercantes entregues à voracidade bélica dos submarinos nazis. Efectivamente, toda a escolta abandonou o comboio à velocidade de 26 nós com pessoal reforçado nas casas das máquinas para aumentar a velocidade. Poucas horas depois, apareceram os submarinos e os aviões da “Luftwaffe” enquanto do Tirpitz nem sombra. Só no dia seguinte, 5 de Julho, é que o couraçado alemão, acompanhado pelo Hipper e pelo Scheer, levantou ferros.
Perseguidos por submarinos e bombardeiros, muitos dos navios do comboio rumaram a norte para procurarem alguma protecção junto à calote gelada do Árctico, mas vinte e três navios não o conseguiram, sendo afundados com a perda de quase todas as tripulações e a carga de uns 3 mil veículos militares, 430 tanques e 210 aviões de combate e mais de cem mil toneladas de material militar variado, o suficiente para equipar um exército. Cento e cinquenta náufragos pereceram gelados nas suas balsas e baleeiras, ficando à deriva até serem encontrados por outros navios que por entre o nevoeiro árctico viram essas baleeiras fantasmas tripuladas por marinheiros gelados de olhos muito abertos, alguns bem direitos ainda sobre a cana do leme, mas todos mortos.
A guerra naquelas paragens criou condições de sofrimentos ímpares para as guarnições dos navios militares e tripulações dos mercantes. A salvação movimentada para balsas e baleeiras acarretava quase sempre um mergulho fatal nas águas geladas. A luta era contra os elementos naturais e a louca agressividade humana, então apostada em levar a morte a todos os cantos do planeta.
O almirante King, o comandante da marinha norte-americana, ficou furioso e ordenou de seguida a retirada da Task Force 39 com o porta-aviões Wasp que foi para o Pacífico.
A destruição do PQ 17 provocou a suspensão de todos os comboios para a União Soviética até ao mês de Agosto quando saiu da Islândia o PQ 18 com quarenta navios providos de uma boa escolta que incluía o porta-aviões Avenger de 10.366 toneladas de deslocamento e uma dúzia de Hurricanes.
Nas proximidades do Cabo Norte, o comboio foi atacado pelos bimotores JU 88 equipados com torpedos que começaram por serem obrigados a retirar-se pelos caças britânicos, mas quarenta JU 88 conseguiram iludir a cortina de protecção e atacar a torpedo os navios do comboio e em oito minutos afundaram oito navios mercantes. Nos combates subsequentes, os “Hurricanes” abateram 41 bombardeiros JU 88, enquanto os submarinos germânicos afundavam mais três navios mercantes com perda de quatro unidades. A batalha foi violenta, o comboio perdeu 13 dos seus navios, mas o preço pago pelos alemães foi excessivo, quatro submarinos e 41 aviões, pelo que não mais se repetiu uma vitória como a do PQ 17, de resto só resultante do enervamento do almirantado britânico que não autorizou ao comandante embarcado a tomada de decisões tácticas adequadas.
Contudo, os comboios para o Árctico voltaram a ser suspensos, dado que os meios navais disponíveis tiveram de ser mobilizados para a Operação Torch, a invasão aliada do Norte de África para encurralar as tropas do Afrika Korps entre duas frentes e levá-las à derrota com a recuperação do Mediterrâneos pela marinha inglesa.
Churchill, muito preocupado com a queda de Tobruk e a subsequente rendição de 25 mil britânicos insistiu com Roosevelt para montar a operação o mais rapidamente possível. Contrariando as opiniões da sua Junta de Chefes de Estado-maior, Roosevelt ordenou a acção apesar de ser notório que o exército norte-americano não estava ainda preparado para o combate.
A operação no Norte de África parecia bem mais fácil que qualquer ataque à chamada fortaleza europeia, como era designado o bloco dominado pelos nazis. O raid a Dieppe com 6 mil homens equipados com tanques e canhões foi uma tragédia. Desembarcaram a 19 de Agosto de 1942, combateram durante 9 horas sem glória nem proveito. Mais de metade dos efectivos pereceu na refrega ao mesmo tempo que as forças aéreas aliada e alemã travaram uma batalha intensa com perdas gigantescas de lado a lado. Churchill convenceu-se que as costas francesas não podiam voltar a ser uma nova Gallipoli, onde o seu prestígio militar foi enterrado na I. Guerra Mundial. A invasão da França teria pois que ser feita após uma longa preparação e acumulação de meios militares dezenas de vezes superiores aos que o “Reich” poderia dispor, o que levou dois anos a conseguir.
Assim, a Operação Torch teve a prioridade absoluta, tanto mais que no Mediterrâneo a situação estava má para a “Royal Navy”, principalmente depois do torpedeamento do porta-aviões Ark Royal a oeste de Gibraltar pelo submarino U-81, deixando a Grã-Bretanha sem um porta-aviões naquele mar.
No Domingo de 8 de Novembro de 1942, começou a maior invasão anfíbia que a História conheceu até aquela data. Mais de cem mil homens desembarcaram simultaneamente em Casablanca e outros portos da costa atlântica do Marrocos e em Oran e Argel no Mediterrâneo. Para evitar a conflituosidade crescente entre britânicos e franceses, o comando das forças militares foi entregue ao general Eisenhower, enquanto o almirante Cunnigham dirigiu a componente naval.
Couraçado BB59 Massachusetts
As tropas foram transportadas em 370 navios mercantes escoltados por mais de 300 navios de guerra, entre os quais o novo couraçado norte-americano Massachusetts de 37970/44519 toneladas e 9 peças de 406 mm acompanhado pelo porta-aviões de escolta Ranger de 17 mil tons. e 36 caças e 36 bombardeiros e 4 outros porta-aviões de escolta protegidos por uma cortina de cruzadores e contratorpedeiros. Também os velhos couraçados norte-americanos New York e Texas e os cruzadores Philadelphia e Savannah participaram na operação.
Os aliados encontraram alguma resistência por parte das forças navais francesas no Norte de África fiéis ao almirante Darlan que então estava com o regime de Vichy. O couraçado inacabado Jean Bart estava ancorado ao largo de Casablanca com o cruzador ligeiro Primaguet, vários contratorpedeiros e submarinos, e, apesar de só ter duas torres de artilharia funcionais, não deixou de ser um motivo de preocupação para as forças aliadas. Mas, logo pela manhã, os caças Wildcats do Ranger atacaram os principais aeródromos e eliminaram os meios aéreos franceses enquanto se iniciavam os desembarques em vários pontos na maior desordem possível e sem o material adequado sob a forma de barcaças de desembarque e sob o fogo de algumas baterias de costa e dos navios franceses sob o comando directo do almirante Michelier. O Jean Bart abriu fogo com a sua única torre, mas as peças de 16 polegadas do Massachusetts calaram os canhões do navio francês à quinta salva. A saída de 7 contratorpedeiros e 8 submarinos franceses deu origem a uma feroz e confusa batalha Aero-Naval em que os aviões do Ranger levaram a melhor, acabando todos os navios franceses por serem atingidos e afundados ou avariados.
A imensa força naval aliada conseguiu atravessar incólume o Atlântico. O comando dos submarinos alemães, o almirante Raeder, suspeitava de algo devido ao aumento de actividade naval e concentrou o grosso dos seus submarinos junto aos Açores e à Madeira. Assim, foram levados a atacar um grande comboio de navios mercantes enquanto a força anfíbia rumava a Sul sem sofrer quaisquer danos.
Em três meses, os norte-americanos e ingleses prepararam a Operação Torch que se desenrolou onze meses depois do ataque a Pearl Harbor e da declaração de guerra do ditador Hitler aos EUA. Os aliados iniciaram a Ocidente a resposta ao poder nazi ainda sem grande experiência mas com a vontade necessária para chegarem à vitória.
O comandante do cruzador australiano Camberra, Frank Getting, na noite de 9 de Agosto de 1942, chegou estremunhado à ponte do seu navio depois de ouvir dois roncos profundos provenientes da explosão das cargas de torpedos. Ao chegar, Frank viu o céu iluminado por fachos de luz a descer lentamente em pára-quedas e a contrastar com aquela noite tropical muito negra, quente e húmida com um tecto de nuvens baixo a esconder a estrelas.
A curta distância, Frank terá vistos disparos de artilharia contra o seu navio, mas nem chegou a ter tempo para dar ordem de fogo; a ponte voou destroçada por uma salva de grande calibre, matando a respectiva guarnição. Pouco depois, outra salva de artilharia destruía a casa das máquinas e em dois minutos apenas, o velho cruzador de 14.600t de deslocamento máximo e oito peças de 203 mm estava transformado num pontão a arder com as superstruturas todas destroçadas para se afundar a seguir. Ninguém da guarnição teve tempo de pôr o seu posto de combate a funcionar. O comandante da artilharia, refugiado na casamata da direcção de tiro, gritava ao pessoal da torre de vante, mas não havia aí quem ainda fizesse parte do reino dos vivos.
Oito minutos depois, o destrutor Petterseon é apanhado pelos cones luminosos dos holofotes japoneses e recebe quase instantaneamente o impacto de uma salva de 203 mm que esmaga duas das suas peças de 127 mm e provoca um perigoso incêndio próximo das caixas de munições. A valente guarnição ainda responde ao tiroteio mas não logra produzir qualquer efeito bélico, o navio afasta-se sem chegar a afundar-se.
Por sua vez, o comandante Bode do cruzador norte-americano Chicago chegou à ponte quando parte da proa do seu navio tinha desaparecido devido à explosão de um torpedo nipónico.
Encaixando salva sobre salva, Bode não consegue manobrar devidamente o seu navio e sai da linha de fogo incapaz de compreender o que se estava a passar e sem conseguir avisar os outros navios do esquadrão de cruzadores americanos e australianos do almirante Crutchley, o então comandante inglês da Marinha Australiana e herói da façanha de Dunquerque na I. Guerra Mundial, mas que inexplicavelmente não estava presente no comando do seu esquadrão.
O comandante Bode tenta esquivar-se aos poderosos torpedos nipónicos “Long Lace”, guinando continuamente ao mesmo tempo que procura responder com as suas peças de 127 e 203 mm, mas nem os directores de tiro nem radares conseguem vislumbrar o inimigo que tão subitamente apareceu a disparar contra o Grupo Sul de cruzadores que entre a ilha de Guadalcanal e o ilhéu de Savo procuravam proteger, na madrugada de 9 de Agosto de 1942, os navios de transporte dos 16 mil “marines” desembarcados na ilha.
Estavam a ser atacados pelo esquadrão dos sete cruzadores e um contratorpedeiro do contra-almirante Gunichi Mikawa que zarpou de Rabaul, a 600 milhas de Guadalcanal, algumas horas após ter tomado conhecimento que os americanos passaram à contra-ofensiva, tentando conquistar pela primeira vez uma porção de território tomado pelos nipónicos a seguir ao ataque a Pearl Harbour e que passara a fazer parte do novo e gigantesco Império Insular do Japão na operação que os americanos denominaram de “Watchover”.
Cruzador Japonês Aoba de 9.000t com 6 peças de 200 mm,
4 de 120 mm AA, 8 de 25 mm AA e 8 Tubos lança torpedos.
Atingia 32 nós de velocidade máxima e foi lançado ao mar em
1927 e transformado em 1942.
Mikawa tinha o seu pavilhão hasteado no Chokai, sendo seguido pelos cruzadores pesados Aoba, Kinugasa, Furukata e Kako e pelos cruzadores ligeiros Tenryu e Yukari, além de um contratorpedeiro e que cobriu aquela distância numa manobra temerária de navegação em pleno dia para chegar de noite à zona de combate e sempre sujeito a ser atacado pelos aviões dos porta-aviões do almirante Fletcher com pavilhão hasteado no Saratoga acompanhado pelo Wasp e pelo Entreprise. Na realidade, os porta-aviões estavam prudentemente a mais de cem milhas de distância pois Fletcher não queria arriscar muito naquelas águas mal mapeadas e, eventualmente, cheias de submarinos nipónicos.
Os cruzadores japoneses obtiveram a supremacia naquela batalha por via da sua audácia pois eram navios mais pequenos e menos armados que os seus opositores.
O navio-chefe Chokai tinha um deslocamento máximo de 12.780t e apresentava-se armado com 10 peças de 203 mm, enquanto os restantes cruzadores pesados armavam 8 peças do mesmo calibre cada. Os dois pares Furutaka/Kako e Aoba/Kinukasa deslocavam respectivamente 7.100 e 8.760t., ao passo que os pequenos cruzadores Tenryu e Yukari pouco mais porte tinham que um contratorpedeiro, ou seja 3.141 de deslocamento máximo. Foram mesmo os cruzadores mais rápidos da guerra do Pacífico e com alguma blindagem interna.
Os três porta-aviões do vice-almirante Frank Fletcher tinham apoiado o desembarque dos “marines”, mas afastaram-se rapidamente da zona, pois os norte-americanos ainda só dispunham no Pacífico quatro porta-aviões, pelo que não convinha expor esses poucos navios a muitos perigos. O couraçado North Carolina, seis cruzadores pesados e 16 contratorpedeiros estavam igualmente sob o comando de Fletcher em operações no Mar das Salmão.
As batalhas aéreas dos dois dias anteriores custaram mais de vinte caças aos americanos, o que levou Fletcher a reforçar as medidas de prudência de acordo com as ordens recebidas de Pearl Harbour, sem que o comandante da operação “Watchover” de desembarque na ilha de Guadalcanal, vice-almirante Turner, se opusesse, dado não esperar um ataque japonês.
Efectivamente, naquela altura do conflito, mesmo um espírito brilhante e intelectual como Turner julgava poder adivinhar os movimentos do inimigo e os almirantes ainda não sabiam que os aviadores a três mil metros de altitude eram então capazes de ver coisas inexistentes e não ver outras bem reais.
Os observadores aéreos informaram Turner da presença junto à ilha de Santa Isabel de uma pequena força nipónica de três cruzadores e três contratorpedeiros, insuficiente, portanto, para um ataque em força aos cruzadores de Crutchley. Daí a conclusão de Turner que os nipónicos tinham em mente estabelecer um aeródromo para os seus aviões de combate.
Os erros permitiram ao esquadrão nipónico chegar por perto dos cruzadores aliados e fazer vingar aí a sua enorme superioridade no combate nocturno baseada em treinos intensivos e na posse de visores ópticos para perfurar as trevas nocturnas, holofotes de grande poder e pára-quedas e granadas iluminantes, além dos famosos torpedos “Long Lace”.
Depois de “esmagado” e dispersado o grupo dos cruzadores que deveriam ter protegido a força de desembarque na passagem sul, o esquadrão nipónico rondou o ilhéu de Savo e dividiu-se em duas colunas. Os holofotes do Cokai conseguem então detectar a presença de três cruzadores aliados, mais precisamente o Astoria, o Quincy e o Vincennes, todos norte-americanos da classe New Orleand de 12.000t de deslocamento máximo, armados com nove peças de 228 mm. Estes navios não se aperceberam do drama que se desenrolou a poucas milhas de distância e navegavam a 15 nós naquele momento.
A noite proporcionou uma ilusão suplementar; os radares de então deixavam sem contacto os navios por reflectirem os contornos da costa. Assim, apesar do ataque ao grupo sul, a primeira salva dos nipónicos apanha o Astoria praticamente desprevenido.
O comandante Williams Greenman correu para a ponte ao ouvir os primeiros tiros e ficou zangado ao ver que os canhões do seu navio já disparavam e gritou: “quem deu o alarme geral”? Não sejam precipitados, cessem o fogo. Truesdell, o comandante da artilharia tinha estado a trabalhar toda a noite pelo que deu logo ordens de fogo. Quando Greenman voltou a dar ordem de fogo depois de ouvir o vigia dizer “cruzadores da classe Nachi “, era já demasiado tarde, a quinta salva nipónica atinge o Astoria a meia-nau. Granada após granada iam arrasando as superstruturas do poderoso navio, fazendo explodir as munições que estavam junto das respectivas peças de artilharia e pondo o hidroavião a arder.
Mesmo assim, os artilheiros do Astoria conseguem uma pequena resposta sob a forma de nove salvas, uma das quais arrasa a cabine das cartas do vice-almirante Mikawa a bordo do cruzador Chokai.
Logo a seguir, uma salva nipónica destrói as torres de comando do Astoria, liquidando a infeliz oficialidade navegante. Caldeiras e máquinas são atingidas, o navio vê-se obrigado a reduzir a sua velocidade para sete nós. O fim estava próximo e a guarnição sobrevivente atira-se à água.
A mesma sorte foi reservada aos navios gémeos Vincennes e Quincy, ambos igualmente apanhados de surpresa. No Quincy, os primeiros tiros apanharam o comandante Samuel Moore a dormir. Correu para a ponte e começou por dar ordem de fogo contra os holofotes para logo suspender essa ordem, pensando que poderiam tratar-se dos seus próprios navios e quando voltou a dar novamente ordem de fogo, já o seu navio era pasto das granadas japonesas. Não teve tempo para mais; uma salva atinge também a sua ponte de comando e deixa-o morto e o navio desgovernado. A casa das máquinas é também atingida e o navio arde de proa à popa. O comandante da artilharia dá ordem de abandono do navio que se volta de seguida e vai para o fundo com a quilha para cima.
Só quinze minutos durou a agonia do Vincennes, atingido logo de início por três torpedos e por mais de cinquenta granadas de 203 mm. Pelas 02h15 da madrugada, o navio vai para o fundo.
A noite tropical, densa e negra, deixou de ser iluminada pela batalha. Os poucos sobreviventes que conseguiram embarcar em jangadas e baleeiras nunca mais esqueceram os gritos lancinantes e desesperados dos camaradas com os seus corpos a serem literalmente serrados pelos dentes afiados dos muitos tubarões atraídos por tanto sangue derramado. Mais de mil oficiais e marinheiros ficaram para sempre naquelas águas que para muitas vidas ainda iria servir de sepultura.
Entre os navios de transporte de tropas e material e os cruzadores de Mikawa ficaram três cruzadores: o Austrália, gémeo do Camberra, e o cruzadores britânicos mais pequenos Hobbart e San Juan. Estavam prontos para serem destruídos com os transportes, mas Mikawa mudou de opinião e não aproveitou o ensejo para destruir a testa de ponto dos aliados em Guadalcanal. Optou por uma retirada imediata com medo que os seus navios fossem apanhados pelos aviões americanos ao despontar do dia.
É certo que os nipónicos tinham gasto muitas munições e combustível e que Mikawa perdera as cartas da zona. A vitória japonesa acabou por não ter qualquer significado, pois não levou os americanos e os seus aliados a abandonarem a operação de conquista da ilha de Guadalcanal. Tal como em Midway, a batalha do ilhéu de Savo ou da ilha de Guadalcanal mostrou a incapacidade japonesa em concentrar meios bélicos com a intensidade suficiente para levar a cabo o combate principal, isto é, executar uma missão até ao fim.
Os aliados sofreram uma humilhante derrota porque o contra-almirante Crutchley com a aprovação de Turner decidiu dividir as suas forças em três grupos desconexos, violando o princípio fundamental da chamada arte bélica, a concentração de forças.
O almirante Turner ordenou a retirada total dos navios de transporte e de guerra sobreviventes no dia seguinte. Ainda tinham nos seus porões cerca de 75% do material a desembarcar, deixando os “marines” com munições e abastecimentos para apenas quatro dias.
Os contratorpedeiros e submarinos nipónicos puderam assim atacar as forças aliadas na zona de Guadalcanal, mas a vontade americana de permanecer em Guadalcanal reduziu a zero o efeito dos ataques japoneses. Os americanos voltaram novamente em força e insistiram até concretizarem o seu objectivo.
E saliente-se aqui que as terríveis perdas sofridas pelos aliados e a incompetência dos seus comandos levou a uma revisão total dos programas de construção naval para atingir uma superioridade absoluta. Também foi feita uma análise das capacidades dos quadros em função dos requisitos de um tipo de guerra que ninguém tinha ainda vivido na realidade. Nunca mais os almirantes e comandantes puderam deixar os seus postos sempre que subsista a mais leve possibilidade de serem atacados pelo inimigo.
A batalha dos cruzadores de Guadalcanal ou Savo foi para os americanos um choque quase maior que Pearl Harbour, mas muito menos conhecido do público pois a marinha norte-americana nada informou acerca do evento. Apenas dois meses mais tarde, na sequência de uma vitória relativa, é que o almirante Ernest J. King deu a conhecer que em batalhas anteriores se teriam perdido quatro cruzadores.
Devido à ocultação da derrota perante a opinião pública, os almirantes responsáveis não foram oficialmente castigados e os inquéritos receberam o carimbo de ultra-secreto, mas também não voltaram a receber comandos de combate.
Pintura de John Hamilton – A Batalha da Ilha de Savo
Os americanos aprenderam que tinham de ser mais agressivos para não serem apanhados de surpresa.
Com Guadalcanal começou uma espécie de guerra de trincheiras terrestre, naval e aérea. Para além dos combates nas diversas ilhas, travaram-se numerosas batalhas navais e aéreas. Os nipónicos averbaram muitas vitórias, mas nunca conseguiram travar uma batalha decisiva.
O Império do Sol Nascente conseguiu desembarcar milhares de homens na ilha de Guadalcanal para acabar por se retirar com vinte mil baixas, mais de mil aviões perdidos e quinze navios de guerra afundados.
A batalha pela ilha de Guadalcanal ou pelo domínio do Mar de Salmão e arquipélagos adjacentes terminou em Fevereiro de 1943. Pouco antes, a 29 de Janeiro, os japoneses evacuaram onze mil homens da ilha numa acção que surpreendeu igualmente os aliados. Ninguém então esperava uma retirada nipónica, nem o vice-almirante Halsey no seu quartel-general na ilha de Noumea, nem o comando do Pacífico em Pearl Harbour.
Todos esperavam a resistência encarniçada ou o retomar de novas ofensivas. Mas, as forças navais evacuaram as suas tropas de noite para Rabaul e nenhuma força naval estava no mar para se lhe opor.
No fundo, os japoneses consideraram aquela ilha tão distante do seu território como um teatro de operações menor, daí terem utilizado cruzadores e contratorpedeiros em muitas batalhas na zona, umas vezes com mais e outras com menos êxito.
Batalha de Tassafaronga
A batalha que se seguiu, a de Tassafaronga, foi das mais sensacionais para os japoneses, pois oito contratorpedeiros sob o comando do contra-almirante Tanaka enfrentaram a força mais poderosa do almirante Wright com cinco cruzadores (Minneapolis, New Orleans, Pensacola, Northampton e Honolulu) e seis contratorpedeiros. Os nipónicos lograram em manobras de grande valor táctico afundar o cruzador Northampton depois de torpedearem e colocar fora de combate outros três cruzadores, perdendo apenas um contratorpedeiro. Isto porque, o contra-almirante Wright levou quatro minutos a responder ao pedido do comando da força de destrutores americanos para lançarem os seus torpedos sobre os similares japoneses que tinham sido detectados pelos radares americanos. Os quatro minutos foram vitais, pois quando os torpedos americanos foram lançados já lá não estavam os destrutores japoneses que fizeram uma excelente manobra táctica e dispararam os seus torpedos “long lace” contra os cruzadores norte-americanos.
Cruzador pesado USS Minneapolis com a proa destruída por dois torpedos japoneses na Batalha de Tassafaronga.
O Minneapolis recebeu dois torpedos e ficou fora de combate. O New Orleans foi atingido por um torpedo e começou arder, enquanto o Pensacola tentava esconder o seu irmão de classe, cobrindo-o, mas foi atingido por um torpedo. O Northampton encaixou 18 salvas de 8 polegadas, mas foram os dois torpedos que recebeu que o levaram para o fundo três horas depois que foram também um tempo desperado para os destrutores americanos salvarem a respectiva guarnição.
O cruzador ligeiro Honolulu de 12207t foi o único que se salvou, graças à notável capacidade de manobra do seu oficial de navegação Tenente-Comandante George F. Davis.
A única vítima japonesa foi o destrutor Takanami que foi afundado. O almirante Tanaka retirou rapidamente as suas forças do Iron Bottom Sound sem quaisquer outros danos.
Os navios japoneses faziam então parte do célebre “Tóquio Express”, nome dado aos comboios de contratorpedeiros que de noite reabasteciam e transportavam soldados para as diversas frentes insulares, dado que a sua relativa capacidade de domínio do ar não permitia operações navais à luz do dia.
A derrota de Midway determinou a ausência dos porta-aviões nipónicos de quase todas as pequenas e médias batalhas navais travadas no Pacífico, apesar da marinha japonesa manter um elevado grau de eficácia e os estaleiros japoneses terem construído novas unidades, mas em quantidade insuficiente e em condições muito difíceis. E para os americanos qualquer meia dúzia de cruzadores pesados ou porta-aviões afundados não tinha significado. A lista dos cruzadores construídos durante a guerra é impressionante. Ao todo, a marinha americano utilizou 126 cruzadores durante a II. Guerra Mundial entre unidades detidas antes de iniciar o conflito e incorporadas durante o mesmo.
Cruzador Cl 48 Honolulu de 9767/12207t armado com 15 peças de 152,4 mm, 16 de 127 mm.
Cruzador New Orleans de 10136/12463t armado 9 peças de 203,2 mm, 8 de 127 mm mais armamento menor e 4 aeronaves
Cruzador CA 24 Pensacola de 9097/11512t armado com 10 peças de 203,2 mm e 4 de 127 mm mais 6 tubos lança torpedos e 4 aeronaves.
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