Dieter Dellinger na mesa das cartas do U 995
Para ver o último submarino que ficou como unidade museu na praia de Laboe, perto de Kiel, é necessário tomar uma espécie de cacilheiro numa das pequenas pontes cais da espaçosa baía de Kiel e navegar de praia em praia em que o navio atracava para largar naquele dia do fim de Julho de 2010 de grande calor uma série de ciclistas e banhistas.
Eu nunca conheci aquela zona do norte da Europa tão quente e nunca pensei tomar banho no Mar Báltico com as águas tão quentes como na minha praia habitual, a da Manta Rota, no Algarve.
Saímos pois do pequeno cais do Museu da Marinha, passámos pelos estaleiros da Thyssen-Krup com os dois submarinos portugueses, um atracado e outro a seco, mas ambos com a bandeira nacional orgulhosamente hasteada.
A mais distante e bonita praia é, sem dúvida, a de Laboe e depois do desembarque atravessámos a pequena vila e percorremos um caminho pedonal de um pouco mais de um quilómetro até chegar ao monumento que homenageia os mortos da arma submarina alemã, um dos poucos ou talvez o único que recorda a última guerra, e ao lado está na areia em cima de apoios especiais o U 995 como navio museológico muito visitado pelos turistas.
Os alemães destruíram tudo o que lhes recorda a guerra com a mesma meticulosidade com que a fizeram. E é curioso que no museu da cidade de Hamburgo ainda vi há vinte anos várias salas dedicadas aos grandes bombardeamentos de 28 de Julho a 3 de Agosto de 1943, as quais desapareceram de todo. Nada há naquele museu que recorde a guerra, excepto uma pequena e velha revista a descrever os eventos bélicos passados na cidade. Por isso, um submarino completo é efectivamente algo de invulgar apesar de em Hamburgo estar outro submarino museu, mas trata-se do russo da classe Tango (Projecto 641B) vendido como sucata a uma empresa alemã que o entregou à marinha alemão para ser o U 434 também muito visitado.
O submarino da praia de Laboe pertence à célebre classe VIIC com 663 unidades construídas. Das várias subclasses VII entraram ao serviço da Marinha do Reich mais de mil unidades. Mais concretamente, o U 995 é um navio da classe VII C/41 de 67,23 m de comprimento por 6,20 x 4,78 m, deslocando em imersão 847t ou 1070 m3 de água e emerso 747t.
Trata-se pois como se observa perfeitamente de um navio de casco revestido com dois tanques laterais. Para aguentar a pressão, o casco principal foi construído em chapa de aço blindado dividido no interior em três compartimentos estanques e um outro compartimento abaixo do nível do chão para acomodar as baterias.
À superfície, o U 995 fazia 17 nós de velocidade máxima e em imersão 7,6 nós. acionado por dois motores diesel MAN de 6 cilindros com a potência unitária de 1400 cv. Não tinha snorkel, pelo que imerso era propulsionado por 2 motores eléctricos BBC - GG UB de 375 cv cada. Os diesel faziam funcionar dois acumuladores para a recarga das baterias.
O U 995 provoca a qualquer cidadão uma certa claustrofobia, principalmente na passagem pelas pequenas aberturas redondas das anteparas estanques. O espaço é mesmo exíguo e parece inacreditável que 62 homens pudessem acomodar-se naquilo durante longas e perigosas missões no Atlântico e Oceano Glacial Ártico.
O U 995 foi incorporado a 22 de Julho de 1943, tendo seguido para a Noruega, a partir de onde fez várias missões no Atlântico e depois quando foi colocado em Narvique passou a atacar os comboios de navios carregados de material de guerra que se dirigiam aos portos soviéticos de Murmansk e Arcangel.
Fez primeiro parte de um flotilha de treino até 31 de Maio de 1944 e depois participou em 5 “alcateias de lobos”, nome dado a grupos de submarinos de ataque e afundou 6 navios inimigos.
A 21 de Maio de 1944, o U 995 foi atacado por um avião canadiano Sunderland de combate a submarinos. Com a sua peça de 30 mm e dois grupos binários de 20 mm, a guarnição do U 995 impediu com sucesso o afundamento do seu submarino, mas cinco homens foram atingidos por metralha e estilhaços do Sunderland sem grandes danos para o submarino propriamente dito. Nenhum dos feridos veio a falecer.
Para além de uma poderosoa artilharia anti-aérea, o U 995 tinha 5 tubos lança-torpedos como arma principal para uma dotação de 14 torpedos de 533 mm.
Quando a guerra acabou, o U 995 estava no estaleiro de Trondheim na Noruega a receber um snorkel, pelo que foi integrado na marinha norueguesa com o nome de "KNM Kaura" e aí serviu durante dez anos.
Em 1965, o U 995 foi oferecido pelos norugueses à marinha alemã para servir de museu e como sinal de pacificação e estreitamento de relações entre o Reino da Noruega e a República Federal Alemã.
Em Outubro de 1971, depois de pintado e preparado para visitas, foi instalado na praia de Laboe junto ao Monumento aos Mortos no Mar.
Não foi um navio famoso em termos de batalhas navais, mas ficou como um dos poucos sobreviventes de uma arma que utilizou 1133 unidades, perdendo 789 em combate, 221 auto-afundadas e 123 rendidas ou capturadas em portos no fim da guerra.
Fotos de Maria José Dellinger
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