Conheço a Revista de Marinha quase desde a sua fundação. Efetivamente, em criança, eu vivia num prédio das avenidas ditas novas que pertencia a um dos grandes armadores do país, o Bernardino Correia, e que tinha uma pequena garagem que servia de armazém das sobras da Revista de Marinha e da Revista da Marinha Mercante e livros sobre assuntos navais. Sempre que descarregavam as sobras eu descia e pedia alguns exemplares, pelo que devo ter lido quase do primeiro número, já que os homens diziam sempre para entrar e escolher o que quisesse levar.
As coisas do mar interessavam-me muito, tanto mais que tinha na família portuguesa materna familiares próximos que eram armadores de dois bacalhoeiros, um lugre à vela e um navio-motor, sedeados na Figueira da Foz. Antes da partida para a campanha anual, os dois navios vinham a Lisboa para arranjos e eu visitava-os e até cheguei a fazer no lugre algumas viagens de Lisboa a Setúbal para meter sal e experimentar o velame e afinar os ferros das bússolas, apesar de ser proibida a presença de estranhos a bordo.
Depois, já grandinho, trabalhei como jornalista no jornal “A Luta” que era feito nas oficinas do Jornal do Comércio que também faziam a Revista de Marinha. Voltei, portanto, a ler a revista regularmente, se bem que habitualmente a comprava na Rua Augusta, se não me engano. No jornal “A Luta” escrevia sempre algo sobre as diversas marinhas e tinha como especialidade o noticiário internacional, económico e científico.
Antes do 25 de Abril, fiz durante bastante tempo a separata da quinta-feira do jornal “República” juntamente com o jornalista Maia Cadete, dedicada a assuntos de economia, ciência e tecnologias e quase sempre com algo sobre o mar e marinhas. Enfim, escrevi muito até ser eleito deputado na primeira legislatura pós-25 de Abril, depois de ser desde os anos sessenta militante da ASP, da CEUD, e fundador da CED e do PS.
A colaboração escrita na Revista de Marinha começou mais tarde, mas ainda nos tempos arcaicos em que não se tinha computador em casa, apenas máquina de escrever primeiro e depois um coisa muito prática, um “Vídeo Writer” que funcionava só para escrever com um programa do tipo Word primitivo.
O primeiro artigo surgiu em Abril de 1988, portanto, há mais de 23 anos. Tive sorte porque o artigo, intitulado “Petroleiros defendem-se dos mísseis no Golfo” foi citado e a reprodução distribuída pelos alunos do Instituto Superior Naval de Guerra. Nele descrevia aquilo que tinha ouvido no meu pequeno “ondas curtas” da BBC sobre as técnicas defensivas anti-mísseis dos petroleiros na guerra então travada entre o Iraque e o Irão. Cada lado lançava mísseis contra os petroleiros que transportavam o precioso petróleo que servia para pagar a guerra.
A minha técnica jornalista era ouvir as estações inglesas e alemãs no rádio de ondas curtas, tomar notas, e fazer um artigo que publicava quase diariamente nos jornais em que trabalhava. Era uma tarefa fascinante, apesar de não ser a minha profissão. A minha primeira colaboração no jornal República foi feita quando era estudante da Faculdade de Ciências e depois quando trabalhei em empresas químicas até fundar a minha própria pequena empresa dedicada a equipamentos industriais e matérias-primas. Então podia juntar a atividade jornalística de manhã com o trabalho comercial à tarde até ao interregno como deputado à AR, ao Conselho da Europa e a todas as organizações estrangeiras em que o parlamento português estava representado, incluindo a Assembleia Parlamentar do Atlântico Norte (NATO), cuja vasta documentação enviada me permitiu obter importantes conhecimentos militares, tanto do Ocidente como do lado Soviético. Se não me engano, ninguém na AR lia aquela imensa papelada que o comando da Nato enviava ao presidente da AR e me permitiram escrever séries enormes de artigos sobre a marinha soviética e sobre diversos tipos de armamentos navais e nucleares, tanto na Revista de Marinha como nos jornais “Portugal Hoje” e “Diário de Notícias”.
Escrevi pois muito na Revista, nomeadamente um vasto conjunto de artigos históricos a começar pelas pirogas da Indonésia e as navegações dos povos antigos no Pacífico até à tipologia dos navios portugueses dos descobrimentos. O maior esforço foram as dezenas de artigos sobre a guerra no mar no Século XX de que resultou depois de arranjados o livro “Um Século de Guerra no Mar”. Enfim, os leitores conhecem-me e agradeço as muitas palavras de amizade e apreço que recebi da parte daqueles que tive o prazer de conhecer pessoalmente.
cruzador de batalha derflinger
dieter dellinger - arquitetura naval
dieter dellinger - história náutica
dieter dellinger - motores navais
revista de marinha - dieter dellinger
Os meus links
Links Amigos