No dia 6 de Janeiro de 1904, um pequeno vapor japonês atracou a um dos canais de Porto Artur para embarcar o pessoal do seu consulado e informar-se das posições dos navios russos. Ao mesmo tempo, o embaixador nipónico em S. Petersbourg entregava um ultimato e declarava cortadas as relações diplomáticas entre os dois países, enquanto a esquadra de Togo já estava no mar, precisamente na rota para Porto Artur.
O almirante russo Stark tinha pedido ao governador para enviar alguns cruzadores em exploração bastante ao largo para verificar se havia movimentos de navios de guerra japoneses. O Príncipe General-almirante Alexeiev tinha aquela tendência despótica dos russos de dizer não a tudo o que lhes fosse proposto e substituir um conselho avisado por outro diferente. Assim, limitou-se a autorizar a saída dos dois torpedeiros Basthrashni e Rastoropni para vigiarem ao largo, mas sem fazerem uma verdadeira exploração a muitas milhas de distância como queria o vice-almirante Stark, o qual, era, sem dúvida, um excelente oficial, mas sempre manietado por alguém que de cima pretendia saber mais.
O governador Alexeiev nem se deu ao trabalho de informar o vice-almirante do corte de relações diplomáticas. Este é que desconfiava que algo de grave estava para acontecer, daí ter tomado a tempo algumas precauções. Instalou-se definitivamente no seu navio-chefe, o couraçado Petropavlosk e proibiu o desembarque nocturno a todas as guarnições. Além disso, Stark ordenou ao navio de linha Retvisan e ao cruzador Pallada para iluminarem a entrada do porto com os seus holofotes. O cruzador Gillak deveria largar para o largo a fim de vigiar a aproximação do porto, mas a sua máquina estava avariada, pelo que teve de ser substituído, já muito tarde, pelo cruzador Bobr, cujas caldeiras ainda não estavam totalmente aquecidas quando os japoneses atacaram. O ataque nipónico foi feito à noite por várias flotilhas de torpedeiros , as quais foram vistas pelos seus similares russos em patrulha e com ordens para não abrir fogo. Se o tivessem feito, teriam atrasado o ataque japonês. Tanto o Rastroponi como o Bastrashni ao verem as unidades da esquadra do almirante nipónico Togo regressaram de imediato a Porto Artur para avisarem o vice-almirante Stark da iminência do ataque. Quando chegaram à distância de sinalização, já a primeira flotilha de torpedeiros estava a 400 metros da esquadra russa e lançava os seus torpedos; uma segundo e uma terceira flotilha veio logo a seguir com as mesmas intenções. O cruzador Pallada foi torpedeado a meio e ficou 10 graus inclinado.
O couraçado Tsarevitch foi atingido por um torpedo na zona do leme, fazendo entrar muita água que fez o navio inclinar-se para bombordo. Só depois do cruzador Retwisan ser torpedeado é que os 13 navios da esquadra russa começaram a abrir fogo em resposta ao ataque surpresa dos nipónicos. Mas, sem grande sucesso dado estar-se numa noite muito escura de 8 para 9 de Fevereiro de 1904.
No dia seguinte, a 9, surge frente a Porto Artur o grosso da moderna esquadra do almirante Togo, tentando travar uma batalha naval e destruir as unidades russas, as quais apesar de debilitadas eram ainda importantes. Mas, sem êxito, as peças de 305 mm dos novos couraçados Mikasa, Shikishima e Hatsuse tinham um alcance inferior ao da artilharia de costa da fortaleza de Porto Artur. O pequeno cruzador Novik foi atingido, tal como o navio-almirante japonês Mikasa. Apesar da longa troca de tiros, todos os navios atingidos ficaram em estado de serem reparados e voltaram ao combate.
Togo foi demasiado prudente no ataque. O mais avariado foi o couraçado Tsarevitch, um excelente navio de construção francesa que deslocava 12.915 toneladas, armado com 4 peças de 305 mm, 12 de 152 mm e 40 outros canhões de artilharia secundária, além de 4 tubos lança-torpedos. Possuía uma cintura couraçada que atingia os 254 mm de espessura nas zonas mais vitais. O seu casco era todo arredondado para não permitir impactos em ângulo recto. Após os primeiros ataques, a esquadra japonesa passou a bloquear Porto Artur sem se aproximar muito por causa das minas russas que na altura eram consideradas as melhores que existiam no mundo, enquanto o Governo resolve destituir o vice-almirante Stark, substituindo-o pelo enérgico almirante Makarov, o tal que na Guerra de Crimeia utilizou pela primeira vez o torpedo para afundar uma canhoneira turca.
Makarov encontrou uma esquadra com bons navios, mas as guarnições não dominava as mais elementares evoluções tácticas. Com muita energia, o novo almirante reorganizou os seus navios, iniciando, logo à chegada, uma série de combates contra a esquadra de bloqueio japonesa. Para o efeito, utilizou principalmente os torpedeiros em ataques nocturnos. O novo comandante-em-chefe chega a Porto Artur no dia 8 de Março e já a 9 e a 10 os seus torpedeiros atacam. No dia 10 trava-se o combate mais violento, quando, nas primeiras horas da madrugada, os torpedeiros russos atacam a primeira divisão de contra-torpedeiros nipónicos. Entretanto, aparece a segunda divisão japonesa que proporciona uma esmagadora superioridade relativamente aos navios russos. O Steregutchi de 220-240 toneladas armado com dois tubos lança-torpedos e alguma artilharia ligeira recebe um impacto que lhe avaria a máquina propulsora. Makarov, então a bordo do pequeno cruzador rápido Novik de 3080 toneladas, seguido do cruzador pesado Askold, lança-se no combate com a intenção de salvar o pequeno torpedeiro russo. Ainda conseguiu embarcar alguns membros da guarnição e evitar que o navio fosse apresado pelos japoneses.
A poderosa esquadra do almirante nipónico Deva tinha entretanto chegado à distância de tiro, pelo que os russos retiram-se para a zona de abrigo das suas poderosas baterias de costa. Makarov conseguiu sempre responder às tentativas dos couraçados de Togo de bombardear Porto Artur e a esquadra russa nas marés baixas quando estava praticamente impedida de manobrar. Instalou postos de observação com ligações telefónicas que orientavam os tiros dos navios russos ancorados no porto interior com suficiente êxito para avariarem seriamente o poderoso couraçado nipónico Fuji, um dos orgulhos da nova marinha de guerra do Império do Sol Nascente. Construídos nos estaleiros britânicos Thames Iron Works, o Fuji deslocava 12.320 toneladas, armado com 4 peças de 254 mm, além de 34 outros canhões. Uma hora depois de um dos ataques japoneses com a maré já mais alta, Makarov sai do porto e pôs em fuga a divisão de cruzadores japoneses que se aproximara demasiado de Porto Artur.
Houve mais encontros bélicos, mas sem grandes resultados de parte a parte, pelo que os japoneses começaram também a minar as água apertadas ao largo de Porto Artur. Em Maio, tendo decidido mais uma sortida, desta vez com o seu navio-almirante Petropavlosk armado com 4 poderosas peças de 305 mm, Makarov viu o seu navio embater num mina e afundar-se rapidamente, levando para o fundo do mar o valente almirante russo com 32 oficiais e 600 homens da guarnição.
Só se salvaram 7 oficiais e 32 marinheiros. Entre os oficiais que não pereceram, contava-se o então jovem Grão-Duque Kyril que se tornou no Czar dos emigrantes monárquicos após a Revolução de Outubro de 1917. Pouco tempo depois, também o couraçado Probieda embate numa mina, mas não se afundou. Os russos ficaram reduzidos a três couraçados em estado de combater e dois em reparação. A morte de Makarov foi uma perda insubstituível. O governador nomeou para o comando da esquadra de Porto Artur o almirante Witthoeft, o seu chefe de Estado Maior; um homem de boa vontade, trabalhador e nada cobarde mas desprovido de qualidades de liderança para aquele comando. Tinha feito uma carreira essencialmente burocrática. Enquanto o novo comandante entrava em funções e procurava muito a custo reparar os estragos nos navios russos, Nicolau II e o seu governo tomavam a decisão de enviar ao Oriente a esquadra do Mar Báltico reforçada com novos couraçados e cruzadores. Juntamente com os navios de Porto Artur e de Vladivostok, os russos esperavam derrotar de vez o almirante Togo.
Como acontece com muitos governantes fracos, o Czar Nicolau II foi capaz de uma explosão de energia e ficou possuído pela ideia de derrotar o Japão nos mares. Contudo, do gigantesco edifício do Almirantado em S. Petersbourg saía uma ou outra voz a dizer que o projecto carecia de sentido. Por muito bons que fossem os navios, chegaria aos mares nipónicos em estado lastimável após uma viagem de mais de vinte mil milhas sem portos de apoios e a terem praticamente de se abastecer no alto-mar. Principalmente, criticou-se muito o facto de a decisão ter vindo para os jornais quase de imediato, portanto, com uma antecedência de muitos meses relativamente à chegada da esquadra do Báltico ao Mar Amarelo, ficando os japoneses avisados dos planos russos.
A guerra russo-japonesa foi o primeiro conflito largamente relatado nos jornais diários que recebiam informações via Austrália e Rússia pelo telégrafo transmitidos pelos cabos submarinos já existentes. A notícia levou os japoneses a concentrarem os seus esforços em terra e tentarem conquistar por qualquer preço a praça-forte de Porto Artur. O seu grande objectivo era chegarem ao monte 203 de onde poderiam bombardear com eficácia a cidade e a frota ancorada na rada do porto. Já estavam perto e tinham instalado doze canhões de 280 mm anti-fortaleza que disparavam obuses sobre a esquadra russa em tiro curvo; só que não possuindo uma posição para visionar os navios inimigos, o tiro era feito ao acaso, pelo que só uma vez é que atingiram o convés de um navio russo.
A questão das minas era o grande problema para ambas as esquadras que estiverem frente a frente a distâncias que não permitiam o tiro e a verem os seus navios afundados por minas. Num só dia de nevoeiro, precisamente a 14 de Maio de 1004, a terceira divisão japonesa perde os cruzadores Kasuga e Yoshimo por abalroamento, enquanto o pequeno cruzador Mikayo vai pelos ares ao embater numa mina. Tornado invisível pelo espesso nevoeiro, o lança-minas russo Amur avançou com grande valentia e lançou as suas minas mortais na rota da esquadra de Togo. Os couraçados Hatsuse e Yashima abalroaram minas. O Hastsuse explodiu como se fosse todo ele um paiol de dinamite, enquanto o Yashima ficou tão avariado que se afundou em águas pouco profundas Com estas perdas, teria chegado a hora da esquadra russa sair de Porto Artur e enfrentar a debilitada força de Togo, até porque os couraçados Retwisan, Tsarevitch e Pallada estavam reparados e, pouco tempo depois, os japoneses perdem também pela acção das minas o cruzador pesado Chiyoda e o cruzador Kaimon. As minas vingaram bem a morte do almirante russo Makarov.
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