Aqui o autor - Dieter Dellinger - ex-redator da Revista de Marinha - dedica-se à História Náutica, aos Navios e Marinha e apresenta o seu livro "Um Século de Guerra no Mar"
Terça-feira, 25 de Dezembro de 2007
A "Flor de La Mar" na Batalha de Diu

 

 

       Para Diu navegou a poderosa armada de D. Francisco de Almeida. Vendo que o inimigo estava muito perto do porto; as naus não lhe chegariam à distância de tiro. João da Nova manda arriar o batel e equipá-lo com uma peça grossa, colocando-o no través das galés do Mirocem para batê-las com o seu fogo e cortar-lhes as amarras.

 

            Logo que anoiteceu, o mestre da “Flor de La Mar” foi deitar uma “toa” na boca do rio, e quando veio a maré alou-se a ela, amarrando-a com as âncoras pela popa e pela proa de forma que a nau com a maré não virasse; as fustas, as caravelas e o batel de João da Nova foram ocupar as suas posições e tudo se fez sem serem sentidos porque os mouros passaram a noite com tangeres e gritos. No dia seguinte, 3 de Fevereiro de 1509, a batalha começou com uma primeira salva de 18 tiros da “Flor de La Mar”, cujos pelouros acertaram na nau de Malik Ayaz, a capitania dos mouros.

            Entretanto, a “Santo Espírito” de Nuno Vaz, acompanhada pela “Belém”, “Taforea Grande” e “Rio Grande”, entrou a abalroar a capitania dos rumes, mas antes um tiro da “Santo Espírito” atravessou a nau moura de lado a lado, deixando os adeptos de Maomé a nado. A luta prosseguiu com fúria, estrondos e fumo; João da Nova, ainda no batel acompanhado pelas caravelas, meteu-se ao longo da terra e com a artilharia desfazia as popas das naus mouras.

            A “Flor de La Mar” disparou mais de 600 tiros grossos. O alemão Michel Arnau era um dos mestres bombardeiros da nau e não queria ouvir falar em abalroar navios inimigos; no seu entender tudo se resolvia a tiro de bombarda.

As forças portuguesas tinham alguns estrangeiros ao seu serviço, mas no lado oposto a miscelânea de nacionalidades era muito maior ainda; mouros, indianos, etíopes, afegãos, persas, turcos e romanos do Egipto, além de venezianos e renegados europeus. Os navios portugueses eram poucos, mas muito sólidos, bem construídos e artilhados. A “Flor de La Mar” vomitava ondas de fogo das amuradas e dos castelos da proa e popa, onde disparava a artilharia menor como águias, sacres e falcões de câmara, camelos e esperas. Mas, o poder português baseava-se nas grossas bombardas das amuradas que o mouro não possuía e não sabia fabricar nem poderia trazer do Egipto ou da Turquia.

 

A armada lusa retirou-se vitoriosa para Cochim, deixando muitos navios mouros afundados e avariados com muitas vítimas, mas também os lusos não saíram incólumes.

Em Cochim, a “Circe”, novamente a meter água, e a “Flor de La Mar” e a “Belém”, avariadas em Diu, foram devidamente carenadas e reparadas.

Entretanto, com a chegada da armada do Marechal D. Fernando Coutinho de 18 navios, mandada em 1509 por D. Manuel I, o Vice-Rei entrega, enfim, o governo da Índia a Albuquerque.

O heróico João da Nova, há quatro anos capitão da “Flor de La Mar”, morre em terra tão pobre e desamparado que Albuquerque lhe pagou o enterro. Apesar das suas muitas vitórias, não se apropriou de quaisquer bens de valor do inimigo pois entregou tudo à Coroa através do Vice-Rei. O próprio D. Francisco de Almeida também não voltou a ver Lisboa; faleceu ainda nas águas do Índico na viagem de regresso.

 

Navetas

 

 

 Texto de Dieter Dellinger Publicado na REVISTA DE MARINHA em Abril de 1989



publicado por DD às 15:47
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