Aqui o autor - Dieter Dellinger - ex-redator da Revista de Marinha - dedica-se à História Náutica, aos Navios e Marinha e apresenta o seu livro "Um Século de Guerra no Mar"

Quarta-feira, 27 de Junho de 2007
Prefácio

Não sei se o Livro Blog é algo de comum; não conheço nenhum, mas considero um instrumento formidável para quem tem a paixão da escrita e do estudo aprofundado de certos assuntos, nomeadamente da história bélica.

            Aqui, tratou-se de relatar um século inteiro de guerra naval, precisamente o longo Século das guerras que foi o vigésimo a partir dos 64 pequenos capítulos que publiquei sucessivamente durante mais de quatro anos na Revista de Marinha.

            Durante a escrita desta modesta obra, os capítulo foram colocados na ordem inversa, estando o verdadeiro início no fim. Agora que a obra está completa, ordenei os capítulos pela ordem normal, devendo de futuro acrescentar algo mais a um ou outro capítulo e mais fotos, além de descrições de navios

            Enfim, com a II. Guerra do Golfo, o novo Século XXI mostra que a guerra não é assunto encerrado e outro blog pode ser iniciado com mais um Século de Guerra no Mar que o autor não poderá escrever por razões óbvias. Mas, para que este blog agora encerrado não tenha uma morte natural, será acrescentado com um capítulo final dedicado a navios de guerra que fizeram história.

 

           

Índice

Prefácio

I. Capítulo

1- 1900 – Ano de Paz

2- Canhão e Couraça

3- O Torpedo e o Submarino – Mais uma Revolução

4- 1904 – Começo da Guerra Russo-Japonesa

5- O Ataque Surpresa dos Nipónicos a Porto Artur

6- A Frustrada Saída de Porto Artur

7- Navios da I. Fase da Guerra Russo-Japonesa

8- Tsushima: A Batalha Decisiva

9- O Fim de uma Esquadra

10- Navios da Batalha de Tsushima

II. Capítulo

11- 1914 – Começo da I. Guerra Mundial

12- Inactividade das Esquadras Oceânicas Alemãs

13- A Saga de Von Spee

14- A Vingança das Falklands

15- O Aventuroso Destino do Emden

16- Batalha Naval na Selva

17- Começo da Guerra Submarina

18- A Batalha de Dogger Bank

19- Jutlândia – A Maior das Batalhas Navais

20- Retirada Eficaz dos Alemães

21- Portugueses na Guerra – O Herói e o Ás

22- A Incrível Reparação dos Navios Alemães

23- O Adamastor no Rovuma

24- A Guerra Submarina até 1918 – Ingleses nos Estreitos Turcos

25- Os Alemães atacam no Egeu

26- A Guerra no Atlântico

27- Submarino: Símbolo de Violência

28- Da Crise Inglesa de 1917 à Derrota Alemã

29- O Fim do Orgulho Alemão

30- Scapa Flow

III. Capítulo

31- 1936 – A Guerra Civil Espanhola no Mar

32- As Duas Esquadras

33- Operações no Estreito

34- A Guerra no Mediterrâneo

35- O Afundamento do Baleares

IV. Capítulo

36- Os Primeiros Tiros da II. Guerra Mundial                                               

37- O Fim dos Graf Spee e Começo da Guerra dos Radares                      

38- O Assalto à Noruega

39- A Batalha do Mediterrâneo

40- Matapan

41- Afundem o Bismarck – Vinguem o Hood

42- A Batalha do Atlântico

43- O Submarino Alemão

44- A Resposta Britânica

 

V- Capítulo

45- Pearl Harbor

46- Guerra Mundial

48- Os Cento e Cinquenta Dias de Nagumo

49- A Batalha do Mar de Java

50- Pacífico: O Avião, Táctica e Estratégia

51- A Batalha do Mar do Coral

52- A Batalha Aero-Naval do 8 de Maio

53- O Fim do Lexington

54- Midway: O Fim da Ambição Japonesa

55- Plano Japonês Mal Concebido

56- Savo – A Batalha dos Cruzadores

57- A Guerra do Atlântico ao Árctico

58- O Desembarque na Normandia

59- A Grande Armada do Pacífico: Task Force 38

60- A Batalha do Mar das Filipinas

61- A Batalha do Golfo de Leyte

 

VI - Capítulo

62- A Coreia em 1950: De Novo a Guerra

63- As Falklands

64- A Primeira Guerra do Golfo – Epílogo de Um Século de Guerra

 

 

 

 

 


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Quinta-feira, 11 de Janeiro de 2007
A Batalha do Golfo de Leyte

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Depois da derrota na Batalha do Mar das Filipinas, os japoneses voltaram pela última vez ao ataque, agora numa missão praticamente suicida. Não eram capazes de assistir impávidos às sucessivas conquistas americanas no seu “Império Insular” e também não estavam psicologicamente preparados para pôr um termo a uma guerra que há muito sabiam não poder ganhar.

Assim, os nipónicos activaram, em Outubro de 1944, o plano Sho-1 (Vitória-1) baseado na sua capacidade para executar operações nocturnas e, eventualmente, conseguir vitórias sem uma suficiente cobertura aérea. O plano não tinha nada a ver com a realidade, mas a guerra é assim, quando as coisas começam a correr mal, tudo sai mal, as mentes dos próprios dirigentes deixam também de funcionar devidamente. Sho-1 não foi pois mais que uma desesperada carga de Banzai no melhor da velha tradição Samurai dos japoneses. A espada foi substituída pelo que restou da esquadra nipónica, nomeadamente pelo Grupo Central do almirante Takeo Kurita que deveria irromper no Golfo de Leyte no meio da força anfíbia americana que desembarcara e abastecia as tropas ocupadas com a reconquista do arquipélago das Filipinas.

 

 

Em termos militares, a operação foi totalmente irracional, apesar de o almirante Takeo Kurita ter apostado na técnica nipónica de combate nocturno, pois com o despontar do dia, os navios japoneses não podiam desaparecer e estariam à mercê do imenso poder aéreo dos EUA. Nada mais havia a fazer que morrer com honra.

Kurita, ainda com uma esquadra importante composta por cinco grandes navios de linha, entre os quais os temíveis Yamato e Musashi, tencionava passar pelo Estreito de S. Bernardino e apanhar de surpresa os porta-aviões americanos. Uma das pontas de lança nipónicas seria formada pelo grupo sul do vice-almirante Shoji Nishimura com dois velhos couraçados seguidos da formação do almirante Kihoyde Shima com três cruzadores e quatro destrutores. O almirante Ozawa comandava outra das pontas japonesas com quatro porta-aviões, o veterano de esquadra Zuikaku e três ligeiros com apenas 116 aviões. Mais do que ponta de lança, os navios de Ozawa serviram de engodo para atrair para norte o grosso da força norte-americana e permitir o ataque dos navios de superfície para o sul. Os híbridos de porta-aviões e couraçados Ise e Hyuga deveriam ainda servir de engodo adicional, estando desprovidos de aviões, mas com as plataformas de voo pejadas com uma centena de canhões antiaéreos.

Os japoneses levaram mais de uma semana a fazerem a aproximação, enquanto os americanos desembarcavam um poderoso exército para a conquista rápida das Filipinas. Mas, como se podia adivinhar pela ciência militar e do comportamento operacional, tudo deveria sair mal aos japoneses.

Logo de início, os cruzadores do almirante Kurita foram surpreendidos pela cortina de submarinos disposta pelos americanos. O navio-chefe Atago foi torpedeado a uns mil metros de distância pelo submarino Darter que acertou cinco dos seus torpedos no flanco do cruzador, despachando-o para o fundo com 359 almas. Kurita e o seu estado-maior foram salvos por um destrutor. Seguidamente dois torpedos do mesmo submarino esventram o flanco do cruzador Takao, enquanto que o cruzador Mayo é mortalmente atingido por três torpedos do submarino Dace que o levou para o fundo em três minutos após uma violenta explosão.

A esquadra japonesa entrou em pânico, em todos os navios soavam constantemente alarmes. Kurita transferiu-se para o gigantesco Yamato, onde conseguiu organizar de novo as formações e impor uma certa calma. Simultaneamente, o almirante Fukudome lançou ao ataque 180 aviões de combate laboriosamente reunidos nas bases terrestres das Filipinas. A Task Force 38.3, comandada pelo almirante Sherman, foi a primeira formação visada, mas 7 Hellcats do porta-aviões Essex esperavam já os nipónicos; 15 aviões japoneses foram abatidos, nove dos quais pelo ás McCampbell que bateu o recorde absoluto num só combate. Outro grupo de aviões nipónicos atacou o porta-aviões ligeiro Princeton de 10.662/14.751 tons.. Um dos bombardeiros nipónicos colocou duas bombas de 500 libras no convés de voo. As explosões causaram incêndios rápidos e intensos que fizeram explodir seis Avenger carregados com torpedos. O cruzador Birminghan tenta socorrer o porta-aviões e recolher náufragos, enquanto os Hellcatas afastam outros aviões nipónicos. As equipes de limitação de avarias fazem prodígios e, pela meia noite, conseguem extinguir quase todos os incêndios à excepção de um braseiro perto da popa. Julgando que o navio estava safo, o Birminghan aproxima-se do porta-aviões para lhe lançar um cabo de reboque quando repentinamente um paiol explode em chamas laranja e atira com montões de sucata para o convés do cruzador. O Princeton transformou-se num destroço com 229 mortos e 420 feridos. Mesmo assim, não foi para o fundo. Depois de os sobreviventes terem sido retirados, aquele porta-aviões ligeiro da classe Independence foi torpedeado, ficando como o segundo porta-aviões perdido pelos americanos em dois anos de guerra depois do Hornet.

 

O  CVL 23 Princeton  assistido pelas mangueiras dos destrutores de escolta.

 

 

O Princeton da classe Independence aguentou bem o tremendo castigo que sofreu, atendendo ao facto de ser um navio relativamente pequeno pois deslocava 10.662/14.751 tons. e resultou da conversão de um cruzador de classe Cleveland, tal como os restantes 8 da classe, parecendo que seria só um porta-aviões medíocre, mas não foi, pois os Independence já se apresentavam com uma catapulta que lhes permitiam colocar rapidamente no ar os seus 12 caças, 9 bombardeiros e 9 aviões torpedeiros. Os cruzadores Clevelands foram autênticos “Fords T” da Navy que a partir de 1940 iniciou a construção de nada menos do que 52 unidades, das quais 9 foram convertidas em porta-aviões e 10 ficaram no estaleiro para serem desmantelados quando a guerra acabou.

O contra-ataque norte-americano estava já em curso; 250 aviões dos grupos tarefas TG 38,2 e 38,3 voaram através do Golfo de Leyte para atacar os navios de Kurita. Depararam com os super-couraçados Yamato e Musashi equipados com 120 peças antiaéreas cada, mas sem granadas com detonadores de aproximação. O Musashi atirava para o ar granadas de 18 polegadas antiaéreas destinadas a explodir no meio das esquadrilhas de aviões inimigos, mas revelaram-se totalmente ineficazes. O gigantesco Musashi encaixou 8 torpedos e quatro bombas sem mostrar sinais de danos, mas posteriormente recebeu mais dez torpedos e 6 bombas de impacto directo que o deixaram desgovernado naquelas águas, enquanto o gémeo Yamato e o velho couraçado Nagato também recebiam bombas, mas sem serem mortalmente feridos como aconteceu com o Musashi que acaba por ir para o fundo pelas 19.30 do dia 24 de Outubro de 1944 com metade da sua guarnição de 2.400 homens.

O que restava da formação do almirante Kurita fez uma volta completa para se retirar, mas com o cair da noite, voltou ao rumo inicial em direcção ao Estreito de São Bernardino e às testas de ponte americanas na Ilha de Leyte.

Entretanto, o almirante americano Kinkaid foi avisado do rumo da Força Sul do almirante Nishimura que pretendia passar o Estreito de Surigao para travar uma batalha nocturna no interior das águas Filipinas. Kinkaid ordenou a formação de uma força de recepção aos japoneses, escolhendo para o efeito o almirante Oldendorf com os seus seis velhos couraçados, cinco dos quais retirados dos fundos de Pearl Harbor e devidamente reparados. Deslocavam aproximadamente 32 mil toneladas, datando dos tempos da I. Guerra Mundial, e formavam a força de bombardeamento a posições terrestres dos japoneses.

Nishimura levava consigo o couraçado Yamashiro de 30.600 toneladas de 1915 com dois destrutores seguidos do couraçado Fuso e do cruzador Mogami . Logo pelas duas da madrugada do dia 25 de Outubro de 1944 encontra a esquadrilha de contra-torpedeiros do comandante Jesse Desron que a grande velocidade ataca a força japonesa numa clássica manobra de tesoura. Os contra-torpedeiros americanos disparam 27 torpedos a uns 900 metros de distância e afastam-se. Nishimura não ordenou nenhuma manobra de desvio e, assim, o Fuso recebe vários torpedos para se afundar após gigantescas explosões que transformaram o navio numa bola de fogo. Nishimura continua em frente para se encontrar pouco depois com os nove contratorpedeiros do comandante Roland Smoots, um jovem ás de 24 anos, que conseguem atingir o navio-chefe, o couraçado Yamashiro. Entretanto, os navios de linha do almirante Oldendorf iniciam a clássica manobra de cruzar o T e abrem fogo pelas 3.53 a uns 23 mil metros de distância. O Yamashiro é atingido logo no início para arder num braseiro infernal e afundar-se vinte minutos depois. O cruzador Magami é também atingido, mas a arder consegue afastar-se escoltado por um contratorpedeiro. Só o destrutor americano Grant é atingido. Na manhã seguinte o Mogami é afundado por bombardeiros, tal como seu companheiro Abukami.

A marinha norte-americana acabava de vencer a última batalha naval clássica da História, travada entre navios de superfície. Mas, ainda se registou outra fase importante da batalha de Leyte, da qual os japoneses estiveram próximos de levarem a melhor sobre os americanos.

Efectivamente, a força do almirante Ozawa ainda com quatro porta-aviões e dois híbridos foi descoberta a noroeste da ilha Luzon, apesar de os seus 72 aviões terem participado na batalha anterior, só que foram confundidos com aviões de base terrestre. De seguida, o almirante Halsey preparou um plano de ataque aos “tigres de papel” de Ozawa, enquanto a outra ponta de lança, do almirante Kurita, navegava sem perturbação pelo Estreito de São Bernardino em direcção aos navios que apoiavam as testas de ponte na ilha de Leyte, nomeadamente os frágeis porta-aviões de escolta da TF 77.4. Kurita ainda mandava em quatro couraçados, seis cruzadores pesados e dois ligeiros, além de 11 contratorpedeiros. Na ponte de comando do gigantesco Yamato, Kurita admirava-se de não encontrar navios americanos a bloquearem o Estreito, apesar de pouco antes ter sofrido tão duros ataques por parte das forças norte-americanos. O Plano Sho parecia estar a cumprir-se, mesmo que a um custo elevadíssimo. Pelas 6.40, os vigias do Yamato detectaram a presença de mastros de navios inimigos a vinte milhas de distância. Kurita ordenou um rumo a 24 nós direito a uma força que julgava ser o essencial dos porta-aviões de Halsey. Pelas 6.53 os nipónicos abriram fogo com as suas granadas de cores variadas. Foi a primeira e última vez que o Yamato disparou sobre navios inimigos as suas granadas de 450 mm e 1.600 kg de peso, as maiores que alguma vez foram disparadas por peças embarcados em navios e que ultrapassavam largamente os canhões de 16 polegadas dos couraçados americanos da classe Iowa.

A última salva da artilharia naval vinha colorida por tintas que os nipónicos misturaram nos explosivos das granadas para detectarem a respectiva origem em termos de torres de artilharia e tempos de disparo. Um oficial americano gritou para o seu almirante: “Os japs estão a disparar em technicolor”. O comandante da escolta de porta-aviões americanos ordenou a saída imediata dos seus Wildcats e Avengers com todo o tipo de bombas e armas para suster o ataque inimigo. Os poucos aviões conseguiram avariar os cruzadores Suzuya e Haguro. Mais sorte e audácia tiveram os contra-torpedeiros americanos Heerman, Hoel e Johnson que conseguiram colocar os seus torpedos nos costados do Yamato e do Nagato, mas sem grande efeito. Pouco depois os canhões nipónicos esventram o Johnson que vai para o fundo todo amachucado como um brinquedo de lata martelado por um martelo. O Hoel é também atingido mortalmente. Chovia abundantemente, mas quando a cortina de chuva abriu um pouco, os nipónicos atingem o porta-aviões de escolta Gambier Bay, abrindo-lhe o convés de voo como se fosse a tampa de uma lata de sardinhas. Pelas 9.07, o navio volta-se e vai para o fundo. Outro porta-aviões de escolta, o Kalinin Bay é igualmente atingido com 16 granadas. Também o St. Lo é atingido.

Estes pequenos porta-aviões de escolta da classe Casablanca não eram navios destinados a enfrentar os poderosos canhões do Yamato, pois deslocavam 8188/10902 toneladas sem qualquer blindagem. Colocavam nos ares 9 caças, 9 bombardeiros e 9 aviões torpedeiros. Construídos pelos célebres estaleiros Kaiser nos moldes em que se fizeram os navios mercantes Liberty, pelo que saíram das calhas 54 unidades, o que não era do conhecimento dos japoneses. Por isso, a destruição de três ou quatro destas unidades nada representou para o desenrolar do conflito. Nada podia então fazer parar a gigantesca máquina bélica norte-americana.

Enquanto se desenrolou o chamado massacre da escolta americana, os aviões de Hulsey atacavam os porta-aviões japoneses, 200 milhas a leste do Cabo Engano. O Chitose foi rapidamente atingido e afundado, enquanto o navio-chefe de Ozawa, o Zuikako foi atingido por um torpedo, o que obrigou o almirante a transferir-se para um cruzador. Posteriormente, o porta-aviões voltou a sofrer impactos até voltar-se e ir para o fundo. Acabou-se assim o último dos porta-aviões nipónicos que atacaram Pearl Harbor. Outra onda de aviões americanos desarmou o Chiyoda, o último porta-aviões japonês ainda a flutuar. Destes ataques só os híbridos Ise e Hyuga se safaram porque a sua poderosa artilharia antiaérea conseguiu repelir todas tentativas de ataque.

Halsey falhou na tentativa de perseguição ao que restava da força de superfície do almirante Kurita, pelo que o Yamato com os seus acompanhantes ilesos conseguiu regressar ao Japão para posteriormente ser sacrificado num ataque suicida às forças navais que acabavam de desembarcar as tropas que conquistaram a ilha de Okinawa, já no arquipélago do Sol Nascente.

 

 

            As grandes derrotas japonesas não foram devidas apenas a uma relação de forças muito inferior ou ao imenso poder aéreo americano. Os japoneses, a dada altura, deixaram de ser capazes de enfrentar com êxito o inimigo, mesmo quando estavam em situações de superioridade. Vimos que contra-torpedeiros americanos conseguiam atingir navios imensamente mais poderosos e os submarinos americanos causaram estragos imensos nas forças navais e nos navios de transporte de matérias primas, combustíveis e tropas no chamado império insular japonês. A esquadra teve mesmo que se abrigar perto da ilha de Borneo para receber aí o petróleo bruto tirado directamente da terra, pois os nipónicos não o conseguiam transportar para o Japão.

            Os americanos utilizaram 226 submarinos durante a II. Guerra Mundial, dos quais pouco mais de 30 estavam efectivamente ao serviço da Armada Americana quando do ataque japonês a Pearl Harbor a 8 de Dezembro de 1941. Alguns dos restantes estavam em vias de serem completados e a grande maioria foi construída já depois. Até 1943, a arma submarina americana enfrentou graves problemas devido aos seus deficientes torpedos. Só a partir de 1943 é que se tornou numa arma formidável com o problema dos torpedos resolvido e com um grande número crescente de barcos em acção.

            Os americanos inspiraram-se mais nos grandes submarinos alemães do final da II. Guerra Mundial do que nos pequenos navios do tipo VII alemães. Os submarinos americanos navegavam bem em submersão e relativamente mal à superfície, enquanto que com os alemães sucedia o contrário, o submarino era quase sempre um navio de superfície com boa capacidade de manobra e alguma velocidade que mergulhava para se furtar a qualquer superioridade adversa.

            Além disso, dada a imensidão do Oceano Pacífico, os submarinos americanos tinham um grande raio de acção e destinaram-se inicialmente a operar em águas inacessíveis às forças de superfície americanas. Os submarinos destruíram rapidamente a capacidade de transporte japonesa e conseguiram mesmo atravessar as barragens de minas que protegiam as águas nipónica e operar no mar interior do Japão.

Submarinos da classe Balao

 

            As classes mais numerosas foram as do grupo Gato, Balao e Tench com características muito semelhantes, das quais foram construídas 230 unidades. Deslocavam cerca de 1.525 toneladas standard à superfície e 2.415 em imersão. Faziam 20,25 nós à superfície e 8,75 debaixo de água com motores diesel de baixo peso e motores eléctricos ligados a dois veios e hélices.

            Os japoneses também deram a preferência a submarinos relativamente grandes e construíram umas 200 unidades, das quais algumas foram destruídas quando ainda estavam nos estaleiros. A arma submarina nipónica também averbou alguns êxitos, mas ficou muito longe do fizeram os americanos.

Saliente-se que as últimas classe de 35 submarinos pequenos de 375 toneladas de deslocamento destinados à defesa das águas territoriais japoneses quase não chegou a actuar, sendo que muitos foram destruídos pelos bombardeamentos e outros não chegaram a ser devidamente incorporados na Armada Japonesa.

            Os submarinos japoneses foram inicialmente concebidos para o combate às esquadras inimigas e nunca foram devidamente utilizados para cortar as linhas de comunicação entre as forças avançadas norte-americanas e as bases terrestres e, nesse aspecto, acabaram por não ter tido muito êxito apesar de terem afundado alguns cruzadores e porta-aviões americanos.

            Saliente-se que o Japão sofreu igualmente muito com a sua ambição desmedida que o levou a conquistar quase toda a Ásia insular e marítima para chegar ao interior da Birmânia e às portas da Índia. Era demasiado para organizar posteriormente uma defesa eficaz e o carácter insular do seu território e de muitas das suas conquistas permitiam ao inimigo não se preocupar com muitas forças estacionadas ao longo de espaços enormes. Aos americanos bastaram algumas ilhas no Pacífico e nem teriam necessitado de conquistar as Filipinas. Só o fizeram por pressão do general McArthur e dos seus amigos em Washington.          

Por isso, tudo o que foi feito pelos japoneses não levou em conta o enorme poder industrial e populacional americano e o Japão sofreu uma usura tremenda em termos pessoais devido à coragem dos seus combatentes que se deixavam matar e enfrentavam o inimigo até ao último cartucho. As coisas começaram a correr mesmo mal para os japoneses quando começou a faltar pessoal preparado e treinado para guarnecer as unidades navais e, principalmente, os aviões.


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